"HISTÓRIAS DE UM 171 (PARTE 3)" Conto de: Flávio Cavalcante

Histórias de um 171 (Parte 3).

Conto de:

Flávio Cavalcante

Lá vem o Marcos novamente com as suas peripécias. Dessa vez foi usada uma estratégia genial para se livrar de um momento perigoso e inesperado. Dentre as façanhas praticadas por este amigo, acredito piamente que esta, foi a mais inteligente e ousada; com isto não estou querendo dizer que ele não deixou de ser cara de pau. Eu o conheço pessoalmente e afirmo. Ele é um grande cara de pau.

Era um final de ano praticamente nas vésperas de natal. Marcos havia passado no banco para receber o seu salário mensal e a última parcela do seu décimo terceiro mês, que não se contentou e fez uma raspagem geral em sua conta, na intenção de pagar suas contas normais do mês, mas para comprar algumas roupas para as suas crianças, além de algumas guloseimas para enfeitar a mesa na noite de natal. A ceia natalina sempre foi uma tradição em sua casa.

Era por volta das três horas da tarde. O promotor de vendas Marcos saiu da loja em que prestava serviço já cansado de um dia estafante de trabalho, coisa normal nesta época do ano. Neste dia, o Marcos saiu com muita pressa e não havia tirado o seu uniforme todo branco.

Depois de sair do banco, ficou no ponto de ônibus esperando o coletivo, que já demorava muito e vez por outra, Marcos não parava de fixar o olhar para o seu relógio, balbuciando algumas palavras, xingando o ônibus. Depois de quase uma hora de espera, finalmente, a condução apontara á certa distância. A pressa era tanta para chegar à casa que os sentidos de percepção pareciam estar bem aflorados, o que teve a nítida certeza que era o dito ônibus mesmo e para a boa surpresa, não estava tão cheio e num passe de milagre, Marcos conseguiu sentar em uma das cadeiras no fundo do coletivo; coisa que para aquela época do ano era praticamente impossível aquilo acontecer. Uma longa viagem começara ali e não sabia ele dos momentos de tensão que estava por vir.

Em meio á agitada viagem, todo o coletivo foi surpreendido pela visita nada agradável de dois delinqüentes que entrou sucintamente e causara pânico nos passageiros. Até então não havia caído a ficha em Marcos que aquele movimento se tratava de um assalto e com a cabeça encostada na janela do coletivo, tirava uma gostosa soneca, não percebendo a tensão e desespero dos passageiros.

Os bandidos provocaram terror em todo o coletivo, apontado arma de fogo e forçosamente ordenaram que os passageiros passassem seus pertences, como carteira, celular e etc.

Marcos tentou se interar do que estava acontecendo e assim que teve a certeza, disse consigo mesmo que não ia entregar o seu suado dinheirinho para os bandidos malvados. Finalmente chegou a sua vez de passar os pertences para os delinqüentes e o mais impressionante foi a forma que ele reagiu em cima dos bandidos.

Aproveitando o seu uniforme todo branco, Marcos começou a tremer e a fazer um barulho estranho bem exagerado como se estivesse engasgado, chamando a atenção dos delinqüentes, começou a fazer pantomimas como se tivesse recebendo alguma entidade e falar línguas que não diziam nada com nada. Os bandidos pararam diante dele, no qual arregalou os olhos para os marginais, encarou cada um deles e disse:

SUNCÊ QUÉ ME ROUBÁ? TE PROTEJO NA MACUMBA, FECHO TEU CORPO E TU QUÉ ROUBÁ O MEU CAVALO. TE PREPARA QUE VAI TER O TROCO.

Já quase chorando, os bandidos falaram entre eles.

É O HOME... VAMO EMBORA.

Bastou falar esta frase pra começar o tumulto dentro do ônibus na pressa de sair daquele ambiente o mais rápido possível. Afinal a crença daqueles caras do crime com relação ao santo que dá proteção a eles era muito grande e parece que Marcos conhecia o costume de perto. Marcos não foi assaltado, chegou à casa ileso, com o dinheiro para pagar suas contas e fazer a ceia natalina como havia se programado.

Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 06/09/2013
Código do texto: T4469668
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