No divã
Ele se sentia entre a cruz e a espada deitado no divã do seu psicanalista freudiano. Com as mãos cruzadas por cima da barriga enxuta. Olhava o teto e não ousava encarar o analista de forma alguma.Que era bem clichê, dava baforadas redondinhas no ar, com seu cachimbo; enquanto ouvia as neuroses do seu cliente/paciente, o executivo das quintas feiras.
E esse cliente/paciente era um cidadão de respeito, dentro do seu terno/gravata cinza. Era bem sucedido,rico e tinha uma bela dentição de porcelana. Tinha esposa, tinha um filho advogado, tinha uma BMW e uma ponte de safena; além de seus olhos serem esverdeados e o sapato que ele comprava por encomenda,com um saltinho bem sutil, o fazia medir 1,80 m. Esse dia ele se encheu de coragem e resolveu ser honesto ao menos uma vez naquele canapé de confissões.
-Eu sou um homem respeitável na minha grande empresa.
-Compreendo. - Disse o psicanalista, apático, dando umas baforadas no ar, tentando fazer bolinhas bem redondinhas com a fumaça.
-Mas pago mulheres para que elas me ouçam.
- Compreendo. - Continuou o psicanalista, tentando fazer carneirinhos no ar, com as baforadas de fumaça.
- Pago essas mulheres para que elas me ouçam dizer: mamãe limpa meu bumbum.
Então o psicanalista engasgou com a fumaça. Finalmente encontrara alguém tão semelhante a ele.