O PRIMEIRO BAILE 2

Apareceu então o problema da bateria.Meu pai tirou martelo e pregos da caixa de ferramentas e disse:Desliguem a luz do coreto para ninguém me ver e executem um samba rasgado.Ele martelava dois pregos à frente do bombo no ritmo da música.Pra sacanear o velho,tocaram um samba novo desconhecido e cheio de breques com paradas súbitas;ouvia-se solos de martelo num coro de gargalhadas.Foi a única vez que ouvi tal ferramenta sendo usada como instrumento de percussão. Outro probleminha foi o do prato da bateria pendurado, pois quando percutido saia voando à frente como um disco voador, e sua trajetória de volta era um enigma podendo decapitar alguém,mas Sarará alerto gritava "Madeira".E o baile continuou com a rifa do pato assado,quando de repente seu Teobaldo,o dono,grita: "Para o baile". Ele sai segurando uma moça pelo braço sob aplausos e só outro dia explicaram-me que ela não era mais pura para aquele ambiente. Aproveitando a parada serviram um café colonial aos músicos;lembro-me bem do entrevero de cachorros por uma perna de linguiça caída ao chão. Começaram a colocar garrafas pela pista;gasosa,crush,grapette,guaraná frisante,soda limonada. Era a marca craval,onde a moça escolhia o rapaz para dançar e se derrubassem um refrigerante teria de paga-lo a donzela. Recomeça então a música e agora sem a serra fita pois começou o jogo de bolão.Toda vez que tombavam os pinos havia um grande estrondo que a Furiosa,o apelido da banda,perdia-se no ritmo. Para os dançarinos tudo era música pois a essa hora já estavam todos mamados de tanta cerveja. Seu Otto,um alemão viúvo trajando à Carlos Gardel,gostava de mostrar a sua arte de cantor.Subiu ao coreto e com a língua travada anunciou num dialeto bras germãnico:Acora eu fou cantar Cranata.Foi tanta a sua força de expressão que a sua dentadura caiu ao chão. Eurico do sax,um mulato forte,pisou naquela prótese com seu coturno 44 para encobrir,esbugalhou toda.E assim o baile rompeu a aurora sem outros problemas exceto o time dos regurgitadores. Aceito comentários