Ela, reflexo de mim.

“Assim que a olhei, eu já estava apaixonada. E nada poderia mudar isso.”

Em uma manhã qualquer resolvi levantar cedo e sair um pouco pra caminhar depois de uma noite horrível onde não consegui dormir e quase me afoguei no mar de lágrimas que havia derramado. Eu estava caminhando sem rumo, sem destino, sem ponto de chegada eu só queria ir, ir o mais longe que eu pudesse queria me afastar de tudo.

Pensamentos rolavam pela minha cabeça á todo tempo querendo me influenciar e cada passo que eu dava era como se eu estivesse me aproximando do abismo no qual eu provavelmente me jogaria para encontrar a minha paz. Tantas noites de sono perdidos, de sonhos não sonhados, de angústia, de aflição. Parei no parque caminhei pela grama e me sentei perto do lago. Via a minha imagem refletida na água, olhos vermelhos de tanto chorar, pele abatida, alma fraca. Estava propicia para todos os demônios habitarem.

Olhar distante ao longe refletindo e naquele momento eu desejei uma amnésia que me curaria de todos os meus problemas e me afastaria de todos os meus fantasmas. Continuei ali o sol já se mostrava ao longe querendo liberar os seus raios e em plena a luz do dia eu só conseguia enxergar a escuridão, era uma espécie de cenário sinistro de filme de terror.Galhos secos por toda parte, vento frio fazendo arrepiar cada pelo do meu corpo, trovões e raios ameaçando cair um interminável temporal.

Olhei novamente ao longe e a avistei caminhando em minha direção seus passos eram leves e totalmente sincronizados calçados por um belo par de botas pretas, sua pele tão branca entrava em contraste com seus cabelos negros ondulados. Em seu corpo trajava um vestido preto parecia seda. O vento batia fazendo com que o tecido molda-se em seu corpo deixando suas curvas aparentes o mesmo que sacudia o seu casaco e jogava os fios negros em sua face. O medo me dominou não sabia ao certo o que fazer, não sabia o que estava acontecendo ali, mas a única certeza que tinha era que assim que a olhei, eu já estava apaixonada. E nada poderia mudar aquilo por mais que parecesse macabro e sombrio.

Ela estava muito perto e a qualquer momento estaria a um centímetro de mim e isso não demorou a acontecer. Colocou-se diante de mim seus olhos eram como diamantes, tinha inocência e ao mesmo tempo maldade. Sua mão esticou-se até alcançar meu rosto, subiu-me um calafrio pela minha espinha, seu toque era extremamente gélido, mas completamente suave. Seus dedos passearam pelo meu rosto e eu ali parada, intacta. A sensação de medo já tinha ido embora agora restava só um olhar de curiosidade, ansiedade e vontade de saber o que era tudo aquilo. Ela deu mais um passo nossos rostos estavam tão próximos que conseguíamos ouvir a respiração uma da outra, ela olhou dentro dos meus olhos e quando me dei por conta nossos lábios já haviam se tocado. Tudo aquilo me parecia errado, errado ou não me fez sentir viva novamente, me fez tomar gosto pela vida.

Depois do beijo ela me agradeceu com um belo sorriso seus dentes eram tão brancos como sua pele mórbida. Seus olhos novamente estavam fixados nos meus, abraçou-me e disse: “Tu queres viver pra sempre ao meu lado”? “Queres conhecer o outro lado da vida”? Eu ainda sob um efeito atordoado disse: “Seria uma honra". Então segundos depois senti os seus dentes enterrarem-se no meu pescoço e o sangue rolar pelo meu ombro manchando o meu casaco branco. Aquela foi a melhor sensação que pude ter na minha vida. A partir dali me foi arrancada toda à dor que estava sentindo há dias, ali minha alma que já estava morta há muito tempo atrás tomou vida novamente.

Meu corpo gélido agora tinha uma corrente de sangue quente e minha alma melancólica encontrou um motivo pra sorrir.

Ana Lohan
Enviado por Ana Lohan em 30/08/2013
Reeditado em 14/07/2014
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