Cenas registradas por um caixa registrador.
Hortência e Isaac entreolhavam-se, sorrindo. Na mesa em que se encontravam, havia pessoas notoriamente empolgadas por um motivo que a eles era meio bobo. Bobo não no sentido de "sem sentido". Nada disso, eles apenas achavam engraçado aqueles que estavam felizes por algo aparentemente tão comum. Hortência simulou com as pequenas e delicadas mãos a abertura de uma garrafa de champanhe e fez com a boca o som de uma rolha voando longe. E Isaac sorriu e sorriu, até sua face que costumava ser branca adquirir um leve matiz avermelhado. Hortência, admirada com a visão de seu namorado tentando conter-se após tanto sorrir, pergunta a ele o que ele havia achado tão engraçado. Isaac imitou a simulação feita por ela e recomeçou a sorrir. Hortência, claramente feliz por ter sido o motivo de alegria de seu enamorado, começou também a sorrir. E em um rápido instante, Hortência captou um terceiro olhar que expressava serena felicidade. O terceiro olhar observava a cena desde o momento de iniciação. Bastava olhar para seus olhos e a essa conclusão se chegava. Pelo menos, Hortência chegou. Henri estava feliz. Percebera, ali, que sua filha estava feliz e que o outro, estava contribuindo para a sua felicidade. Hortência estava feliz porque a pessoa que ela mais amava no mundo, estava radiante. Isaac sorria. O narrador dessa história, deveria, certamente, ser o encantador Henri. Mas, por medo de ele não escrever o momento e por medo de deixar que esse momento fosse esquecido dentro os outros, resolvi escrevê-la. Como não tive muito tempo e para evitar discussões com o meu patrão, terminei por rabiscá-lo rapidamente entre um cliente que efetuava seu pagamento e outro. Ainda tive a chance de vê-los se afastando do local em que trabalho, Hortência ria e ria e olhava vez ou outra para seu pai, em sinal de admiração. Bela cena. Onde diferentes tipos de amor foram demonstrados.
O caixa (pseudônimo)