=O VELHO E A PRAÇA= ( A memória da minha filha Pilar)
“ O VELHO E A PRAÇA”
-Ronaldo Trigueiros Lima-
= A memória da minha filha Pilar Gonçalves Lima, que em 08/08/013 , às 16 horas, levou parte do meu coração.
( ... )
O Velho chegou à praça às 16 horas, como nunca o fizera, no apronto da caminhada.
De repente, se deu conta, de apliques purpurinados e painéis carnavalescos desarrumados sobre o chão, o que lhe deu certeza que se encontrava às vésperas do carnaval.
Assim, se viu cercado por “funcionários anestesiados”, prontos para atenderem de imediato , aos “apelos” irritantes de um dito decorador “fantasiado de caveira”, que sobre um praticável móvel, berrava ao megafone, para que fosse acelerado o apronto dos adereços e gambiarras, que “maquiariam” a praça mortificada, na inglória tentativa de retroagi-la ao tempo em que o esplendor romântico deixara cicatrizes de saudades.
- Num breve momento em que o decorador desceu, por algum instante, o “Velho Borba” o interpela com o maior dos seus cuidados:
VELHO: (Pensando alto)
-Velha praça, “tristes ais...”
Do entrudo surpreendente ,
Coroas inexistentes,
“Melindrosas” decadentes,
Em “corsos” de carnavais!
(Dirige-se ao decorador):
-Licença senhor sem rosto...
Perdoa-me a intromissão:
-Eu, figura enraizada
Desta praça desvalida,
Rogo-lhe pronta atenção
A minha dor compelida...
Coloco-me na aflição
De falar-te aos ouvidos ,
Ao ponto que tuas mãos
Modelem o dissolvido!
DECORADOR :
Agradeço Senhor... Senhor...?
VELHO:
-Velho Borba, servo, ou criado;
Um guardião da memória,
Um PHD, em passado!
DECORADOR
-Senhor, o ontem se perdeu em vão...
O agora é fabricado,
Surreal motivação;
O lúdico do passado
Morreu de desilusão!
VELHO:
Mas o lembrar que o vento traz
Não se sepulta no chão,
Desperta ao pé da aurora
Num cântico de oração!
DECORADOR:
O tempo urge pra lida,
Por favor, ponha-se ao lado
O que passou... Passou senhor...
Dê o caso como acabado!
VELHO BORBA:
Nem de um velho como eu
Que mui conhece este chão?
Negas tu qualquer pitáco
À semente da ilusão?!
DECORADOR:
Prefiro a negação
Ao romanesco alijado,
- A piega negação-
De um Pierrô abandonado!
Por isso fique ao largo,
Ao abrigo de acidentes,
Só assim o “condão de fada”
Materializara-se
{coerente!
VELHO (Senta-se):
-A praça que bem conheço,
Difere do teu esboço,
Têm outras tantas virtudes,
Como “cirandas” seu moço...
Meninos que jogam “gude”,
Bonde parado pro almoço
De tempo em tempo, a miúde,
Sem reclames, alvoroço...
Há também o realejo,
Que a valsa de “Strauss” difunde,
O “periquito da sorte!”
Bilhetes que o amor confunde!
DECORADOR:
Seu Borba –favor- se afaste...
(Deus me livre a grosseria),
Não insista neste aparte,
Conselhos não têm valia...
Resta –lhe o banco afastado
Para própria garantia...
E ali, sonhes a vontade
Com a vida que existia!
VELHO:
(Com olhar perdido):
Quero falar de saudade,
Que corta o peito no meio...
Do vento que traz lembranças,
Suspensas pelos anseios,
Que me desperta criança
Correndo sem mais receio,
A mergulhar nas vertigens
Que colhe o belo do feio...
Da alva cambraia do lenço:
Do inexorável pranteio!
Niterói, em 20.08.013
Ronaldo Trigueiros Lima
( Métrica: Redondilha maior.)