UMA IMAGEM NO ESPELHO

Acordei com um brilho novo iluminando meu quarto. Bati o olho no rádio relógio.

Não era uma manhã que nascia.

Ó não! Era muito cedo ainda. A aurora viria bem depois.

Pude ver os frascos de perfumes. Aquele porta-retrato sobre a penteadeira.

Pude ver no espelho refletido um rosto do passado.

Ele me sorria aquele seu sorriso ingênuo e doce.

Fiquei quietinha olhando as coisas banhadas daquela luz e aquele rosto guardado no espelho.

O sorriso era eterno naquela imagem ali refletida, e me pus a pensar.

Nos últimos anos ele não ria.

Havia uma angústia em seus olhos. Em suas mãos tensas. Em suas palavras... em sua voz trêmula.

Então por que o sorriso?

Nos olhos eu podia ver agora serenidade e ele não era esta pessoa serena.

Achava-o tão aflito sempre.

Eu sentia desejos de trazer aquele rosto de encontro ao peito. Acariciá-lo, beijá-lo.

Se eu estendesse as mãos...

Mas não! Eu as mantinha sob o edredom. A madrugada gelada me impedia de tirar as mãos para fora.

Mas que isso. Havia algo a me dizer que eu devia ficar imóvel; que ia durar pouco.

Que aproveitasse aquele momento, porque era um momento único.

Fiquei parada olhando o espelho e a imagem foi se dissolvendo.

Dissolvendo... dissolvendo.

A claridade durou algum tempo e aos poucos a escuridão foi dominando o quarto de novo.

Foi um sonho?

Não sei bem o que foi, mas o sono foi embora e fiquei no escuro olhando o nada e o nada me trouxe aquele sorriso de volta.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 22/08/2013
Código do texto: T4446472
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