UMA IMAGEM NO ESPELHO
Acordei com um brilho novo iluminando meu quarto. Bati o olho no rádio relógio.
Não era uma manhã que nascia.
Ó não! Era muito cedo ainda. A aurora viria bem depois.
Pude ver os frascos de perfumes. Aquele porta-retrato sobre a penteadeira.
Pude ver no espelho refletido um rosto do passado.
Ele me sorria aquele seu sorriso ingênuo e doce.
Fiquei quietinha olhando as coisas banhadas daquela luz e aquele rosto guardado no espelho.
O sorriso era eterno naquela imagem ali refletida, e me pus a pensar.
Nos últimos anos ele não ria.
Havia uma angústia em seus olhos. Em suas mãos tensas. Em suas palavras... em sua voz trêmula.
Então por que o sorriso?
Nos olhos eu podia ver agora serenidade e ele não era esta pessoa serena.
Achava-o tão aflito sempre.
Eu sentia desejos de trazer aquele rosto de encontro ao peito. Acariciá-lo, beijá-lo.
Se eu estendesse as mãos...
Mas não! Eu as mantinha sob o edredom. A madrugada gelada me impedia de tirar as mãos para fora.
Mas que isso. Havia algo a me dizer que eu devia ficar imóvel; que ia durar pouco.
Que aproveitasse aquele momento, porque era um momento único.
Fiquei parada olhando o espelho e a imagem foi se dissolvendo.
Dissolvendo... dissolvendo.
A claridade durou algum tempo e aos poucos a escuridão foi dominando o quarto de novo.
Foi um sonho?
Não sei bem o que foi, mas o sono foi embora e fiquei no escuro olhando o nada e o nada me trouxe aquele sorriso de volta.