Sonho

Pela primeira vez me ponho, na madrugada, a relatar meu sonho, antes que, pela manhã, não lembre mais nada.

“Por detrás da cortina, aquela senhora a tudo via, engendrava, reunia cúmplices indefesos e, dissimuladamente, agia.

Desde muito cedo, é verdade, quando ainda trazia no rosto o viço da tenra idade, deliberou por uma vida de oportunismos e egocentrismo, sem compromisso com os direitos e prerrogativas alheios.

E pelas suas veias e veios, só o seu sentimento corria e merecia respeito.

Ignorava a vida e o prazer de viver; obstruir vidas lhe dava prazer e a felicidade alheia de nada valia.

No decurso do tempo, sobre o qual não detinha qualquer poder, manteve-se, deliberando sobre tudo e todos, como lhe convinha, sempre escoltada de ilustres e indefesos guardiões.

Mas, como a verdade prevalece e transparece a qualquer tempo, também neste caso, sobreveio.

Como Providência Divina, certo dia, os olhos dos súditos daquela senhora puderam ver que a cortina sob a qual ela se ocultava era transparente.

Só ela não via.

Tudo ela fazia e tudo passou a ser observado, analisado, ponderado por seus alvos que, de forma muito mais inteligente, passaram a agir, deixando que a pobre senhora (digna de piedade) continuasse a crer que ainda detinha poderes.

Qual o que! Todos, sem exceção, já entreviam as elucubrações provindas da sua insanidade e tão somente se esquivavam, consentiam até, mas, de alguma forma, precavidos para não serem atingidos e não revidarem, deixando que a convicção da senhora, de que ainda dominava tudo e todos, prevalecesse.

E assim continuou, em prol da paz coletiva.

Quiçá um dia a senhora se salve pela inimputabilidade ou se condene, bebendo ela mesma do próprio veneno.

Seja feita a vontade da velha senhora, pois, ainda que sua mudança seja viável, não é esperada, eis que precisaria descortinar-se e ficar de frente com a mais dolorosa das vergonhas, a vergonha da mentira que sempre escravizou a pobre coitada e infeliz senhora”.

Parece sem pé nem cabeça esse meu sonho (ou pesadelo). Contudo, eflui dele, ao meu ver, alguns importantes pontos de reflexão, como: transparência, verdades, mentiras, egocentrismo, solidariedade, felicidade e paz. Afinal, que dimensão tem cada um desses itens na minha vida?

À reflexão.

Joana Méri Corrêa Martins
Enviado por Joana Méri Corrêa Martins em 20/08/2013
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