Encontros. IV

Matou-se. E no derradeiro instante dessa morte anunciada, aos céus elevou os olhos e viu, como no desenrolar de um filme todos os seus dias , todos os seus sorrisos e todas as suas lágrimas.

Percebeu , em instantes a magnitude do que findara , as dores que provocara ao longo de seus dias que apenas prolongavam seu sofrimento.

Viu-se finalmente nu, despido dos poderes que julgava possuir , e a mascara de toda sua vida que maculara sua alma finalmente desaparecia.

Percebeu então à que resumira uma existência sem cor, sem luz, sem nada. Viu os amores que passaram por sua vida e quão tolo e cego fora ao deixa-los partir.

Com uma clareza indescritível pode ver cada pessoa a quem magoara com sua arrogância , cada lágrima que provocara com sua altivez .

Finalmente estava diante de si mesmo.

E ainda que o corpo já não mais respondesse aos atos chorou; copiosas lágrimas lhe banharam o rosto já frio , sem vida, sem nada.

Desejou então, como num sonho retomar cada dia passado, reparar cada erro cometido, toda a dor provocada extinguir.

Descobriu que sua vida havia se transformado em um nada, um velho filme sem cor que agora lhe desfilava ante os olhos, chorou.

Podia sentir o chão gelado aos pés, em uma caminhada infinitamente longa , e luzes que se afastavam de seu ponto de partida. E a cada passo podia sentir as têmporas a lhe apertar cegando-o momentaneamente. A voz, antes arrogante e áspera não lhe saía e apenas caminhava. Desejava, em seu íntimo poder ter uma segunda chance , recomeçar cada dia como se fossem diferentes e especiais. Abraçar cada um dos que havia feito mal , perdoar-se a todos os que havia magoado. Horas caminhando numa estrada sem fim, onde apenas sua dor e desespero lhe acompanhavam. A cada passo um novo e conhecido rosto lhe surgia à mente , e mais e copiosas lágrimas banhavam seu rosto.

E então, ao final daquele estranho caminho avistou-se com um pequeno lago, de mansas e mornas águas. Percebeu então que um homem havia à suas margens e lhe sorria, estendendo-lhe as mãos . Como que num ato mecânico e impulsivo estendeu-lhe também a sua e pode sentir as ásperas e calejadas mãos. Um sorriso simples selou aquele encontro e palavras suaves acalmaram o furor de sua alma atormentada. Apenas sorriu.

JAlmeida
Enviado por JAlmeida em 14/08/2013
Reeditado em 07/01/2014
Código do texto: T4434158
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