Orfã, abandonada, sem amigas, estuprada, engravidada e com HIV
... E não importa o que vc faz de bom para alguém. Se for para a sua vida ser uma tragédia, mesmo vc tendo um bom CORAÇÃO, vc irá sofrer.
Olá...
Me chamo Caroline, tenho 14 anos, filha única e moro em um colégio interno de campinas chamado “o nome não pode ser divulgado” e aos fins de semana fico na casa de um tio, pois meus pais faleceram em um acidente de carro a pouco mais de dois anos. (trágico)
Não sei o porque mas todas as garotas que estudam no mesmo colegio interno que eu, me invejam.
Talvez por eu ser branca de pele clara, 1,60 de altura, magra, cabelos cumpridos castanhos claros e lisos natural. Meus olhos são cor de mel e eu por ser filha única e orfã, tenho a herança que meus pais deixaram antes de morrer.
Legal... Tem gente que acha isso o máximo, mas não ter mae e nem pai e, seu único parente não estar nem aí pra vc, a ponto de você ter que viver em um colegio interno, e somente de vez em quando poder sair para ir a casa dele, não é o sonho de todas as garotas. Pelo menos o meu não é.
Se ele ao menos se importasse um pouco comigo, acho que eu não me encontraria no ponto que me encontro hoje.
Não basta ter perdido meus pais e ficado sozinha no mundo, a vida esta sendo tão cruel comigo que... não sei como ainda tenho forças para continuar lutando contra o meu destino. Sei que não importa mais o que eu faça, nem importa mais a força que eu tenha, meu destino é somente um...” A MORTE”.
Não meus queridos, eu não penso em me matar, alias... não preciso, mas também se fosse esse o caso, não faria diferença alguma para ninguém, Afinal...
Não tenho mais mae, não tenho pai, não tenho amigos e meu único tio não da a mínima para eu.
Ou seja...
Eu poderia ter morrido ontem, ou morrer hoje, ou quem sabe amanha, Ninguem sentiria minha falta, porque eu estou aqui, mas ninguém nota que eu existo.
Quero dizer... até notam, os garotos do colegio, afinal de contas, sou a tal considerada “A GAROTA MAIS BONITA DO COLEGIO”
É... pra eles sim, pra elas... a mais “CHATA”, elas nem se quer me olham na cara. Sou uma estranha pra elas e eu me sinto assim.
Minha vida não é um mar de rosas, ele nunca foi, e desde a morte dos meus pais, tudo piorou.
Antes da morte deles, eu tinha uma vida quase que normal. O único defeito é que meus pais nunca tiveram tempo pra mim. Era criada por minha baba que veio a ser despedida pelo meu tio assim que meus pais morreram.
A verdade é que eu mentiria se dissesse que sinto pela morte deles, não sinto, quer dizer, até sinto, mas não muito. Eles nunca estavam comigo, raridade eu ver o rosto deles, eram viagens, e duravam dias, semanas, as vezes até meses. Senti, sim e ainda sinto falta da minha baba “Elizabeth”. Desde que foi demitida, meu tio não deixou mais ter contato nenhum com ela.
Bom... Chega de falar disso. Hoje venho aqui deixar registrado para muitos Adolescentes e jovens que o dinheiro não é capaz de te dar o que vc precisa, ele nos da conforto, nos da o necessário, mas não é capaz de nós dar o mais importante. (não me refiro a felicidade ta, não que isso não seja importante, mas... tem algo bem mais importante que isso - SAÚDE).
Então vamos la comigo...
“MINHA VIDA é uma TRAGEDIA”
Meu tio por ser muito desligado da vida ao seu redor, nunca foi um tio presente, ele esta numa fase de baladas e mais baladas. Entendo que ele não tem obrigação nenhuma de cuidar de mim, afinal... ele não é meu pai. Acontece que eu não queria a atenção dele, eu só acho que ele deveria ter cuidado um pouco mais de mim. Sei que é difícil afinal, estou na fase adolescente, com apenas 14 anos e ele na fase jovem, pois tem apenas 25 anos.
Quando meus pais morreram, meu tio me pos num colegio interno e demitiu minha baba, na minha idade ela era considerada a minha conselheira, eu tinha um carinho enorme por ela, ela me acompanhou desde que eu era apenas um bebe, mas apesar de eu implorar para ela ficar, ele não quis saber e a despediu.
Eu ficava no colegio interno quase todos os fins de semana, era raridade ele se lembrar de ir me buscar, ou as vezes quando se lembrava, ele mandava taxi.
14/05/2011 o colegio fecharia pelo final se semana inteiro, haveria inspeção, onde não poderia permanecer nenhum aluno. Meu tio como não era novidade, esqueceu de passar no colegio para me buscar. O diretor até tentou falar com ele, mas o telefone de casa só chamava e o celular dava caixa postal. Já era tarde, eu precisava sair do colegio e o diretor tomou uma decisão; Chamou um taxi, passou o endereço da minha casa e me mandou ir. Mesmo sem o meu tio ter atendido ao telefone.
Então fomos.
Chegando na porta de casa, estava tudo fechado, não havia ninguém. Eu chamei, chamei, mas ninguém apareceu, estava ficando tarde e eu sentada na calçada esperando o meu tio aparecer e tentando localiza-lo no celular. O bairro é novo pra mim, não conheço ninguém e também quase ninguém passa na rua.
Lembrei então que meu tio tinha um amigo que não saia da casa dele, ele morava a duas ruas abaixo. Fui até o prédio onde o amigo dele morava, mas não havia ninguém. O porteiro informou que meu tio realmente tinha passado por la, que eles tinham saído juntos, mas isso já haviam dois dias que tinham saído e não haviam retornado até então.
Já era tarde, quase dez da noite e nem sinal do meu tio e nem do amigo dele.
Resolvi então voltar para o colegio, porque na rua eu não poderia ficar, chamei um taxi que passava na rua e ele me levou até o colegio. Chegando la estava tudo fechado e não havia ninguém fazendo inspeção. Eu chamei, gritei, mas ninguém me ouviu, ninguém saiu. O Colegio estava completamente vazio.
Então resolvi ir para um hotel, eu tinha cartão de credito, na rua não poderia ficar, nossa, eu deveria ter tido essa ideia bem antes, nisso já era quase meia noite e o meu celular estava descarregado.
Na rua do colegio não passa taxi, então eu resolvi descer até um ponto de ônibus e aguardar, o que passasse primeiro eu pegaria. Fiquei la por volta de umas meia hora e nada, nem sinal de ônibus e nem de taxi.
Ali a pouco, vejo um homem se aproximando, ele estava com uma blusa de frio vermelha com toca, calça jeans, tênis branco e com uma mochila nas costas. Fiquei um pouco assustada, ele parou no ponto de ônibus, sentou do meu lado e perguntou se fazia tempo que eu estava ali. Eu estava assustada, disse que sim, ele perguntou se o ônibus demorava para passar, disse que estava no horário. Sei que não deveria ter conversado com ele, mas... a essa altura, eu já nem sabia mais o que fazer.
Ele se aproximou mais e disse que era muito perigoso ficar sozinha ali, porque a pouco mais de uma semana tinham tentado pegar uma jovem, ali mesmo. Eu entrei em desespero, mas fingi que estava bem, ele me fez algumas perguntas e então o ônibus chegou.
Eu subi, ele subiu junto. Dentro do ônibus eu olhei bem para dele. Moreno claro olhos castanhos, alto, aparentemente uns 22 anos. Muito bonito.
Chegando no centro de campinas, eu desci do ônibus, ele desceu junto, no mesmo ponto, ele segurou no meu braço, olhou nos meus olhos e disse;
-vc quer que eu te acompanhe?
Eu assustada respondi que não. Estava uma noite fria, e eu só com um agasalho básico. Antes de eu me afastar dele ele disse;
-cuidado, vai logo pra casa menina. Corra e não fala com ninguém, vc é muito linda e é perigoso aqui pra vc.
Eu entrei em pânico mas foi com ele. Ele quem estava me colocando medo em mim.
Comecei a andar rápido, e quando virei a esquina, a poucos metros de onde o rapaz ficou, fui surpreendida por uma pancada na cabeça. Quando acordei estava num lugar horrível. Foi naquela noite que eu fui violentada e estuprada, eu não consegui ver o Rosto do Homem que me fez isso, sei que depois que ele me violentou, foi embora e me deixou la. Foi horrível a situação, eu nunca tinha saído com Homem nenhum, nunca tinha nem beijado, não sabia o que era amor e agora... agora eu conhecia a brutalidade.
Sai desnorteada do lugar e a poucos metros dali, encontrei o rapaz que pediu para eu tomar cuidado. Só deu tempo de eu pedir ajuda e desmaiei.
Quando acordei estava em um quarto, com roupas limpas, deitada numa cama e no banco ao lado uma senhora. Eu a olhei, ela perguntou como eu estava, disse que estava bem, então o neto dela entra no quarto, era ele, o rapaz que me ajudou. Passei a noite la e no dia seguinte fui para um hotel. Fiquei la até segunda, quando retornei ao colegio.
Dias se passaram e duas semanas depois comecei a passar muito mal. Enjoo, tontura, ânsia de vomito, me sentia fraca, não tinha vontade de comer nada. E assim foram se procedendo os dias. Eu comecei a emagrecer exageradamente. E eu sentia muita dor, febre, tosse, eu estava muito fraca. Uma das minhas colegas de quarto avisou ao diretor que a dias eu não me sentia bem, ele foi até meu quarto, eu estava ardendo em febre. Chamou o medico do internato, me examinou e chegou a uma conclusão. Eu estava com uma gripe muito forte, perguntou se eu tinha tomado algo gelado, eu informei que tinha passado muito frio e tinha ficado um tempo no sereno. Ele me passou uns remédios e disse que logo estaria bem. Mas não foi bem assim.
Os dias passavam, tinha dias que eu me sentia bem, outros maus, somente dali a duas semanas que meu tio deu sinal de vida, ele foi me buscar no colegio. Fiquei surpresa. Fomos para casa e no meio da noite eu tive uma crise de dor, tosse e febre muito alta. Fui me arrastando para o quarto dele, ele as pressas pegou o carro e fomos para o hospital.
Dei entrada na emergência no hospital “VERA CRUZ” e dali então teve inicio a diversos exames.
Assim que se iniciou os exames eu apaguei, lembro-me de ter acordado em um quarto do hospital com um medico “DOUTOR SERGIO” e dois enfermeiros. Ele perguntou como me sentia, fez diversas perguntas, perguntou se eu namorava se era casada, respondi que não. Os três se entreolharam e voltando os olhos para mim disse;
-Caroline vc esta gravida.
Na hora eu tive um choque muito grande, Gravida eu, na minha primeira relação sexual, e de um cara que eu nem conhecia e pior ainda, através de um estupro. Meu mundo estava desmoronando, eu estava apenas com 14 anos de idade e órfã, com um tio que já nem se importava comigo, imagine então com uma criança.
Eu fiquei tão sem graça e surpresa que disse ao medico que era de um menino que eu conhecia no colegio, ele não acreditou, pediu para ficar sozinho comigo e então ele disse que foi constatado que eu tinha alguns hematomas de violência pelo meu corpo, perguntou se era meu tio quem me batia, cai em desespero e em lagrimas eu respondi;
-eu não quero essa criança. Eu não quero ser mae, eu não tenho idade pra isso, eu não namoro, eu nem sei que é o pai desse ser, eu nunca tive relação com ninguém, eu nunca tinha beijado e ele veio, me bateu na cabeça, me violentou, eu fui violentada e agora esta sendo gerado dentro de mim um ser que eu não quero, um ser gerado por um covarde, eu não quero essa criança, eu não quero esse bebe, tira isso de mim doutor, tira esse troço de mim, eu não quero, eu fui violentada, eu fui estuprada, eu não quero.
Meu desespero era tanto que os enfermeiros entraram no quarto me deram um calmante para eu dormir, antes de fazer efeito pude ver meu tio entrando no quarto e então eu gritei;
-tiiiiiioooo, a culpa é suuuaaa, vc é o culpado, vc tio, que me deixou sozinha, que me deixou na rua, por sua culpa eu vou violentada, eu te odeio, eu nunca vou te perdoar, nuncaaa.
Fui adormecendo aos poucos e antes de dormir pude ver meu tio pela primeira vez derramar lagrimas.
Acha que acabou aí?
Não, meu sofrimento só estava começando. Descobri ao acordar que eu estava infectada com uma doença incurável, a tão conhecida H.I.V.
Meus dias estavam contados, dali, eu com 14 anos, viveria uns dias, meses, por sorte alguns anos, quem sabe. O lamentável é que nunca teria uma vida normal.
Recebi uma visita inesperada. O rapaz e a senhora que me ajudaram apareceram la no hospital, me acolheram e quando tive alta, fui para casa deles.
O nome do rapaz? Gustavo, ele e sua amada avó, me acolheram, fiquei la por duas semanas e resolvi procurar um advogado para me emancipar. Não foi um processo muito complicado por que meu tio não tinha responsabilidade, e na situação que eu me encontrava, dali a alguns meses eu já estava respondendo por mim mesma.
Continuei morando com o Gustavo e sua Avó, hoje estamos casados, apesar da pouca idade de ambos, estamos felizes, Já faz pouco mais de dois anos que eu vivo com essa maldita doença. Abri um processo contra o colégio por me dispensar sem ter um responsável por mim, e outro contra meu tio, pela irresponsabilidade, Ambos ganhei. Tudo foi mantido as escuras “claro, eu não queria que a minha vida fosse exposta mais do que já estava, e claro o lindo e maravilhoso Colégio não podia perder a boa imagem que tinha, ou melhor... que tem. E meu tio... não dou a mínima, mas...”
A criança eu abortei, seria um risco muito grande tê-la, embora eu não queria mesmo, eu não tinha amor nenhum por aquele ser, afinal, ele gerou através de violência e não de amor.
Resumindo...
Orfã, abandonada, sem amigas, estuprada, engravidada e com HIV.
O que eu fiz para merecer tudo isso?
Nunca fiz mal nenhum a ninguém, acho que o meu maior pecado “foi NASCER”
Bom... como todos dizem, toda ação causa uma reação.
Nessa historia, embora tenha sido eu a mais prejudicada, O diretor foi demitido, meu tio aprendeu o que é responsabilidade e eu, no meio de tanta dor...
...Eu conheci o amor
E hoje posso dizer que alguém realmente se importa comigo e que se continuo lutando, é só por causa de uma pessoa...
"Gustavo"