Ela e as Aranhas
Quase lá! Ela disse a si mesma. Um pouco mais de esforço, um pouco mais de força, um pouco mais de pulso. Ela promete. Mas teias de aranhas misturam-se aos fios castanhos do cabelo. Devem ser aqueles sonhos abarrotados no canto, juntando animais cativos, espalhando um cheiro de velhice, de abandono.
A vida parece confusa através de seus olhos e tudo a rejeita como a um corpo estranho no organismo.
Pessoas e festas. Pessoas e traumas. Pessoas e amores. Ela e aranhas. Talvez algumas moscas. Que as aranhas comem.
Quase lá! Ela diz a si mesma. Mas está tão funda aquela poltrona que é quase impossível que dela saia.
Cores indefinidas para futuros indefinidos, um agora interrompido, talvez cadáveres salgados de lágrimas tenham deixado seus olhos mais escuros.
Alguém liga a luz, as aranhas se escondem com medo, mas ninguém nota as teias em seu corpo.
Quase lá! Ela quase grita desta vez. Está certa de que uma decisão pode ser tomada, está certa de que o sol trará respostas. Talvez não tenha percebido que aqui dentro não há sol.
A poltrona é funda e lá fora está longe.
Eu olho para mim com pena, aqui de fora pareço morta. Eu sinto medo. As aranhas me veem - não fogem - e lentamente eu sinto suas teias e a poltrona me afunda demais para que eu levante. Não há problema, o sol me trará respostas. Amanhã.