A BALA DE PRATA
A BALA DE PRATA
As cabras bramiam como se quisessem avisar que algo de aterrador estava para acontecer. Eram pouco mais das 11 horas da noite e a lua teimava em ficar meio escondida numa imensa nuvem acinzentada.
À distância podiam ser ouvidos ganidos de cachorros e o pio de uma coruja solitária. O caçador, do seu lugar privilegiado, espreitava todos que se moviam no meio da escuridão da mata.
Nesse meio tempo, as pessoas já haviam se recolhido às suas casas e os alpendres estavam vazios. Aqui e ali se ouviam tinidos esporádicos de chocalhos denotando algumas reses que teimavam em permanecer vigilantes, talvez pela atmosfera reinante.
De repente um tiro e um tropel. Logo em seguida um urro que faria gelar o mais frio dos mortais e temer o mais corajoso deles. O caçador desce da copa da árvore onde estivera de tocaia por mais de quatro horas. Sabia haver acertado algo, mas não sabia precisar o alvo atingido.
Pelo rastro examinado, a fera atingida era maior do que um ser humano de estatura mediana, porém mais pesado e atarracado, pelo sulco deixado nas pegadas seguidas no caminho. Pelo jeito tinha pés enormes e disformes, embora assemelhados às patas de um grande cão.
O dia já estava raiando quando o homem que seguia no encalço daquele ser avistou um corpo descangotado sobre a barreira de um rio. Quanto mais se aproximava mais se arrepiava pois com a proximidade tinha cada vez uma certeza maior de que, finalmente, achara o monstro baleado.
Tomou coragem e aproximou-se ao máximo para conferir. Para sua surpresa estava ali o compadre Chico Bocão, estirado com um tiro no peito. Ao tempo que virava o corpo, o caçador pode ver a fisionomia contraída do compadre como se quisesse revelar exatamente o que acontecera. Numa das mãos do falecido havia um tufo de pelos enormes, enquanto pela outra mão entreaberta podia-se notar uma bala de prata cintilando.
OBS. Este conto faz parte do meu livro TRINTA CONTAS DE UM ROSÁRIO lançado em abril de 2013.