O mendigo e a neve 1

O mendigo caminha pelas ruas frias de Curitiba não percebe mas anda descalço deslizando pela fina camada de gelo deslizando seus pés sujos pela poeira da cidade deslizando sabedoria detida pelo tempo falta de sorte caminha contando os dias para sua morte contando moedas para a sorte contando histórias para manter-se vivo as palavras são provas da imaginação retratos congelados de dias enganosos esbarrou na criança a mãe gritou cobriu-a novamente em seus tecidos frios e molhados pelas gotas vermelhas caídas do céu fardas tiros decretos favelas esperança de mudar mudar o rumo a história o mendigo herdou este nome do pai levou-o para a prisão e para o caixão não escolheu sê-lo mas o fizeram ser a criança voltou para casa embalada pela mãe ele voltou para a rua congelou na noite mais fria de sua história deixou alguns cobertores velhos roupas sujas uma garrafa de pinga vazia o tênis do pé esquerdo um olhar de saudade do cachorro que o acompanhava este vai ser atropelado logo devido a sua cegueira e a fome doença que consome a todos os outros cachorros de mendigo das ruas da cidade

Eugênio de Moraes
Enviado por Eugênio de Moraes em 24/07/2013
Reeditado em 07/08/2013
Código do texto: T4402337
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.