Noite dos reis, dia dos homens.
As vésperas de natal a chuva domava as horas, com versos amiúde de paz e amor. Dizia aos corações fechados e adormecidos de sensibilidade, que o dia era de deixar a vida viver.
Quando seguindo os ritos, entre risos e enfeites, o silêncio despertou trouxe anonimamente da rua, um apelo, um pedido atrevido.
- Sou Reginaldo e estou batendo em sua porta para pedir cinco centavos ou um quilo de alimento para os meus filhos, pois fiquei desempregado e não sei o que fazer!...
No entreposto do sentido, lá no soturno do abatido, naquela vila, famílias inteiras reunidas ouviam o gemido, o pedido... O apelo.
Por quase alguns segundos refreados pelo receio, pelo medo, pelo engodo humano as famílias ficaram refém.
Já quando o senhor desistia, o coração cingindo o peito, fez as portas dos castelos, paulatinamente, uma a uma se abrirem. E pouco a pouco as mãos em procissão foram levando sua oferta. Em pouco tempo os vizinhos, sob a chuva que investia se aglomeraram no final da rua deixando as suas contribuições, que já eram mais do que o senhor podia carregar começaram a conversar e desde já, com a alma em sintonia, sem hipocrisia desejavam-se feliz natal.
Feliz natal!... Agradecia o senhor.
Feliz natal! Diziam os moradores.
De repente aquelas senhoras e senhores, como há muito não se via, começaram a se desejar feliz natal.
Num sei que horas da madrugada, sob a chuva fina e a luz incandescente dos postes, os vizinhos ainda ali na frente de suas casas cantarolando e festejando. Se abraçando, bebendo, dançando e conversando, como se estivessem comemorando a libertação da alma.
O tempo parou para olhar, visionando que aquele senhor fez mais por aquelas pessoas do que recebeu. Textualizou ainda, que as pessoas precisam se convencer que viver é uma oportunidade única, dentro da necessidade de se produzir o bem maior, a missão de todos, que é o amor.Para que nunca apague essa essência humana na terra.