O CIGANO
O CIGANO
06/07/13
Ele era um andarilho, sua origem espanhola do clã dos pés cansados. Teve uma infância e uma juventude em tempos de pouca fartura, onde o papel de sua família no clã o ensinara a ser disponível e conciliador, mas de um rigor e exigências que mantinham distâncias. Fora uma época cheia de realizações, acreditando que tudo na vida é possível basta querer. Por isso alguns não o entendiam, achando-o orgulhoso e prepotente. O tempo o tornara líder por onde passava. Isto fez com que aprimorasse seus conhecimentos, dizia que gostava de ser cérebro e não testa. A exposição o incomodava, mas isto fez com que buscasse a exposição como única forma de vencer seu incomodo. Assim foi seguindo seu caminho sempre procurando vencer os obstáculos que, na maioria, ele mesmo criava. Seu senso de responsabilidade pela família que criava a exemplo do que viera de seus ancestrais transformaram seus hábitos de andarilho pela fixação em nome da segurança. Procurava sempre novos desafios vencendo-os pela vitória de ultrapassar suas próprias dificuldades. Era reconhecido por sua eficiência, gratidão e amizade, às vezes tirava do que era seu para ofertar de forma natural a outrem, pensava que o que tinha de material havia sido conquistado como consequência e não como objetivo. A vida era feita de dualidades: certo e errado, sim e não, aberto e fechado, etc., assim era sua personalidade. Não aceitava àqueles que subvertiam o significado de amizade e que a procuravam a troco de mimos, agrados e favores.
Porém existia uma sina que há muitas gerações acompanhava aquele clã. Nasceram para serem andarilhos não podiam criar raízes. Bastava ficarem fixos em um local por algum tempo que o destino lhes cobrava. O preço era alto e iam desde bens materiais até as amizades e laços familiares. Era difícil se relacionar com alguém, sua vida era cheia de incertezas, não tinha pouso e enquanto não compreendera este seu carma se revoltava e se tornava inacessível fazendo-se parecer, para quem com ele convivia, distante e egocentrico. Ele não expunha suas dores mesmo não as aceitando guardava-as para si, no fundo sabia que tais sofrimentos não eram em vão.
Seu desapego por bens materiais só eram reflexos daquilo que sabia, ainda que de forma inconsciente, de que tudo que tinha lhe seria cobrado se acomodado ficasse. Pelo que lhe foi possível conhecer sua geração era a terceira a padecer de tal sina. Não conseguira se informar das gerações anteriores à do seu avô. Havia uma crença cigana que bem aventuranças ou maldições repetiam-se sete vezes. O medo de sua sina afetar a sua prole, consciente ou inconscientemente, o fez afastar-se.
Passada a meia idade se torna solitário em seus períodos de tempestades, o tempo o massacra. Isto aumenta suas dificuldades. Passa a ter medo do futuro. Procura forças da juventude para voltar a querer. Cria desafios para poder achar a razão da sua vida. O cigano é forte, brada ao vento e começa a se livrar dos pesos acumulados pela vida. Procura as cachoeiras e o alto das montanhas, tranca a porta do passado e passa pela porta de um tempo novo de um caminhar constante até que força já não tenha.
Las cosas acá se pusieron calientes
¡Peores que ahora no pueden quedar!
Geraldo Cerqueira