A Quinta Estação do Ano

Preciso lhe dizer que cheguei à conclusão que quase aconteço sempre, mas não aconteço nunca. O termo no qual minha alma se encontra nos últimos anos é um estado permanentemente incompreensível. Eu quase amo, eu quase consigo colocar tudo no lugar e respirar aliviado. Quase faço aquele suspiro de exaustão no fim do dia, mas não, eu não concluo nada. Um mês, fim. Dois meses, fim. Três meses, quatro e cinco e fim, tudo acaba sempre e sempre recomeça mais forte ou mais terno para acabar outra vez, cada fim de um jeito, mas sempre fim. Preciso lhe dizer que tento incansavelmente, todos os dias, lutando até sem forças contra as marés altas de pensamentos que são ondas e mares e tempestades e desastres naturais que, em silêncio e devagar, me enlouquecem. E em calma enlouqueço, sem pressa, porque enlouquecer devagar é delicioso. Eu nunca soube amar, eu nunca acertei as medidas. Em contramão, eu sempre soube ser amável, por minha própria natureza, ou por causa do meu signo ou pela criação que a minha mãe me deu, ou por simplesmente sentir uma vontade absurda de ser amável com todas as pessoas. É então que eu entro no campo de batalha mais perigoso da minha vida: ser amável é, enfim, sentir amor? Eu nunca soube também... E ignorante dos meus mistérios eu fui ficando tão cheio de questões de mim que já me acho cruel. Eu quero muito amar e só consigo gostar pelos motivos errados, logo eu, que falo tanto de amor... Não sou Inverno, porque há calor também, meu coração palpita, há sorrisos, há cor nos meus quase-amores ou não-amores ou paixões velozes. Não sou Outono porque há mais cor, porque eu fantasio as folhas ainda que elas não existam. Eu fantasio a vida ainda que ela doa. Eu fantasio sentimentos que não sinto e me engano por um tempo, até ver que por mais que minha árvore tenha folhas, minha raiz ainda é fraca. Mas também não sou Verão ou Primavera, porque é tudo alegre demais, quente demais, tudo em tom laranja, tudo tão contrário a mim. Minha alegria nem é assim tão forte. Eu seria uma quinta estação, um furo no calendário, um escorregão na contagem dos meses... Talvez seja isso que torne tão difícil encarar os dias, mas eu nunca pensei em mudar. Amável, continuo sem amor, se é que isso faz sentido. Ultimamente, sentido é o que falta em todos os cantos, e não vejo razão em procurar entender os porquês. Me machuca saber que firo o que toco, mas é tarde para me curar e infelizmente isso me parece contagioso. No fim, o mundo vai ser uma bola gigante de pessoas amáveis sem saber amar, sabendo apenas receber amor e convertê-lo da melhor forma possível. Há prós e contras, há controvérsias, há discussões, há as minhas batalhas e há a loucura... É tudo relativo, mas como eu poderia ser exato ao falar disso? Qual a exatidão de uma quinta estação? Amar deveria ser matemática fácil, mas virou álgebra e eu nunca soube ao menos somar fração.

Leo Freitas
Enviado por Leo Freitas em 15/07/2013
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