CORAÇÃO DE PEDRA
Concordado com a circunstância,
Era abstrata a cor do crepúsculo...
Viajando nas insólitas imagens
E percorrendo com a imaginação...
Senti os efeitos do sádico conceito!
Inda jovem adolescente campestre,
De meu pai ouvi versos aludidos...
Ao meu senil companheiro ancestre!
Fiquei extremamente emocionado,
Comovido... De cotejar o coração!
Foi uma cena obscena e chocante,
A pior que assisti em todo meu viver...
Meu pensamento fisgara magoado,
Meus ouvidos ouviram com atenção...
Meus olhos se encheram de emoção,
As aduncas computaram meu destino...
Ao ouvir de meu pai tamanha aflição,
Indaguei... O que será deste menino?
... Meu pai, sem nenhuma piedade,
Ao meu ancestre e companheiro falou:
Aqui não posso mais amparar o senhor,
Ajunte seus trapos e vá morar pela cidade...
O velho desconsolado sequer interpelou
E sem dizer um só verbo seu trapo ajuntou...
Mas antes que pela porta se esvanecesse,
Seu filho um pedaço de curtume lhe doou...
Dizendo-lhe: Isto é para que cubra seu corpo,
Quando o frio da noite sobre ti impetrar...
Ainda sem dizer uma palavra pelo estorvo,
Pôs-se meu ancestral companheiro a cursar...
Ao vê-lo partir sem ter um caminho a seguir,
Então corri ao seu compasso e fui lhe pedir:
Escute meu velho e companheiro ancestre,
Para mim sempre foi e sempre será mestre...
Mas por favor, divida comigo seu cobertor,
Sei que este pedaço de curtume não é grado
E nem mesmo dará para confortar o senhor...
Talhando ao meio, a mim o artefato abonou!
Deixando meu avô seguir seu cruel destino,
Dele me despedi e para casa de pai meu retornei...
Chegando lá com parte daquele couro bovino,
Meu pai indagou: O que faz com o que não lhe dei?
... Olhando na profundidade do seu protestar,
Respondi-lhe dizendo: Um dia eu vou crescer...
Vou me casar e comigo talvez necessite morar
E dum pedaço de couro também possa carecer!
Autor: Valter Pio dos Santos
Jul-2013
(Versão poética da música Couro de Boi, composição de: Palmeira e Teddy Viera)