UM FIOZINHO DE NADA
Estava escuro. Não sabia que horas eram.Estava só como a noite, esparramado no solo. Só ouvia o silêncio. Sentia só o vazio. Não via nada. Via sim, um fio dourado do cabelo da lua, fininho , boiando no vácuo.
Nas suas aventuras, até aquele dia , sempre quebrava suas unhas, rasgava suas roupas, fraturava os pés, as pernas e aumentava sempre mais as cicatrizes no rosto. A natureza, como podia, os remendava, apesar de suas esquisitas inquietudes de rebeldias, deixando-o torto, repuxado , torcido e com enormes cicatrizes no rosto.
Hoje ao certo, ele não sabe o que quebrou. Caiu de cabeça, batendo o lado direito , as costas , o lado esquerdo e cambalhotando foi-se estatelar no chão. Se é que era chão e se estava estatelado! Acha que partiu em dois. Na vertical. Os dois, em quatro. Os quatro em dezesseis e não imaginava em quantos partes outras se multiplicaram. Estava sem remendo, sem conserto, sem nada e por bondade, a natureza mostrou-lhe de maneira bem sutil, o fio brilhante de cabelo dourado ao alcance das mãos. Era pouco, era quase nada, um fiozinho à toa. Era tudo, entretanto, que tinha, que não deveria tê-lo abandonado no início épico da vida .