CONTO COM DESCONTO

Que me desculpem os susceptíveis, mas tenho lido tanto lixo expresso a laser, nesses tempos de Internet, que tenho os olhos cortados de radiação e de lágrimas. Saudade do velho Flaubert, Guy de Maupassant, Somerset Maugham, Edgar Allan Poe, Anton Tchecov, Conan Doyle, Kafka, Machado de Assis, Lima Barreto e tantos outros grandes escritores do passado, que faziam a alegria da nossa infância e adolescência, para não dizer da fase adulta.

Histórias como aquela do menino que tinha um avô com cara de cavalo e que, cada vez que ria, relinchava e, cada vez que relinchava, ia soltando rolos enormes e fedorentos pela casa, verdes.

Ou daquela viúva de cinco maridos, que usava (era careca) uma peruca trançada com os cabelos dos falecidos e, toda a vez que passava diante do cemitério, ouvia uma gritaria infernal que, no fundo, bem no fundo, dizia: “ladra, pode ficar com as pensões, mas devolva nossos cabelos!”

Ah, essas histórias eram maravilhosas e traziam um sabor de mistério e aventura que a gente não encontra mais na maioria dos contos de hoje, sempre tão vazios, ou supérfluos ou, pior ainda, ambas as coisas! Mateo Falcone, de Prosper Mérimée; Vermelho, de Somerset Maugham e Um bravo, o Visconde de Signoles, de Guy de Maupassant, são peças clássicas do conto internacional.

Outra estória inesquecível é A Gaivota que tinha o Bico Torto, do inesquecível contista russo Olyor Bakhov (Gisele Bündchem o tenha!), sobre a breve aventura de uma gaivota que tinha o bico torto e não conseguia firmar para comer o peixe que abiscoitava num vôo rápido e preciso, até que, um dia, inventou uma máquina de moer peixes e tudo ficou mais fácil.

E tem uma que é clássica. Conta ele que Stálin, depois de ter comido mais queijo que um exército de ratos! (essa foi a expressão usada), não conseguia fazer mais cocô. Então Trotski, que não ia nada com sua cara, disse-lhe:

- Eu te faço cagar, mas não faças cagada...com a União Soviética!

Outra, ainda, de Olyor Bakhov, é a do Porco que tinha Complexo de Limpeza, que eu iria começar a contar, mas acho que vou dizer bobagens...