NO RIO, A MINHA SUPERAÇÃO

     Na adolescência eram muitas as formas de preenchermos o tempo com nossos amigos da “quadra” em que morávamos. Entre elas, a fogueira de São João, arco e flecha, troca de gibis, matiné nas tardes de domingo, jogar “taco”, além de ver onde havia frutas amadurecendo, claro no pátio dos vizinhos. 
     Mas, tem uma entre elas que é a de “tomar banho” no Rio dos Sinos, nos anos 60. Tinha eu alguns amigos, que no verão, nos dirigíamos ao rio para uma boa aventura. 
     - Vamos dar uma “bracejada”?
     Esta era a forma do convite. Lá íamos nós. 
     Havia um local onde centenas de pessoas passavam suas horas fugindo do calor à beira do rio, um balneário, porém sem infraestrutura.
Mas, quando nossa turma queria aventuras, nós íamos até a “Ponte de Ferro”. Ali passava a linha férrea. A ponte possuía laterais com uma certa altura acima das colunas que sustentavam esta, diga-se, grossas colunas de cimento. Esta altura é o que nos fazia ir até lá, era adrenalina pura. No começo nós nos atirávamos em pé, depois o ciúme de ver outros darem mergulhos, nos obrigava a fazer o mesmo. 
     Certa vez, em uma destas idas até a ponte quase me custou a vida. Nunca mais esqueci. Após dar um mergulho, ouvi que o trem se aproximava e sabia eu que a “Maria Fumaça” volta e meia jogava brasas da lenha por ela queimada. Eu estava posicionado em uma cruzeta, ou seja, um suporte de ferro que ligava as colunas embaixo da ponte. Alguém avisa: 
     - Vamos sair, olha a brasa! 
     Saltei para dentro do rio e fiquei aguardando a passagem do trem, mas calculei mal, o trem demorou a passar. Passei a ficar cansado e os meus braços já doíam, esvaía-se a minha resistência física. A correnteza do rio levou-me. Havia aí criado um problema de vida ou morte, tinha que superar agora esta situação. No momento tive de escolher, ou nadar rio acima até as colunas ou nadar até uma das margens. Optei por nadar rio acima porque eu estava bem no meio do rio e suas margens ficavam muito longe. Passei a ver a morte de perto e isto fez com que eu multiplicasse minhas forças. Depois de algum tempo consegui chegar às colunas e me agarrar a uma porca que fixava a cruzeta de ferro. Esta façanha nunca me saiu da memória por um fato insólito, hilariante se não fosse trágico. Naquele instante olhei para um companheiro e este estava rindo do meu pavor. Claro que quando o vi rindo perdi um pouco do meu ímpeto por o mesmo não ter visto que eu estava apavorado. 
     Esta história é uma de tantas outras, características de nossa idade então.





Foto: Rio dos Sinos, São Leopoldo RS.

Valter Jorge Schaffel
Enviado por Valter Jorge Schaffel em 04/04/2007
Reeditado em 09/08/2007
Código do texto: T437461