O JOGADOR

O JOGADOR

29/06/13

A ansiedade era grande. Estávamos dentro do vestiário e era possível ouvir o barulho da torcida. Nosso adversário não tinha as mesmas condições de nosso time, mas era o primeiro jogo do campeonato. O técnico se aproxima de mim e me entrega a braçadeira de capitão com a seguinte recomendação “você será eu lá dentro”, respondi com um lacônico OK. Estava na hora de entrar em campo. Na saída do vestiário chamo a todos do time puxo um “Pai Nosso” e ao fim da oração falo: hoje é só o primeiro jogo, nos podemos e vamos conseguir vencer. O jogo estava difícil nosso meio campo não conseguia armar a jogada que tanto treinamos. O técnico começava a perder a paciência. Éramos mais atacados do que atacávamos. Termina o primeiro tempo. O técnico puxa nosso meio campo e o empurra sobre uma cadeira e com o dedo em riste lhe pergunta “de que você está com medo”? Não dá nem tempo para ouvir a resposta e lhe diz “vira homem, no meu time não tem lugar para frouxo. Se você errar a primeira jogada não terá tempo pra errar a segunda.” Voltamos para o segundo tempo na entrada para o campo procuro o meia e lhe digo “fique tranquilo estamos todos errando, caia para a lateral que vou pedir para o lateral entrar pelo meio e nosso centro avante avançar em diagonal da esquerda para a direita e aí você o lança”. Na saída do segundo tempo tomamos a bola e a mandamos para a direita, lá estava nosso meio campo sozinho, pois seu marcador e o ala esquerda do adversário foram marcar o lateral que se deslocava para o meio. O centro avante corre da ponta esquerda para o meio da zaga e ao chegar à meia lua recebe um passe certeiro, sem parar a bola dá uma meio virada e acerta o ângulo da meta adversária. Foi um golaço. O “meia” vem ao meu encontro e diz “valeu”. A cada jogo, mais entrosado estava o time. O técnico estava tranquilo e pedia a participação de todos durante as palestras. Chegamos no meio do campeonato na liderança, invicta sendo que tivemos apenas um empate. Começa o returno, era o primeiro jogo e nosso adversário era o mesmo do primeiro jogo do turno só que desta vez jogávamos no campo deles. Nosso meia sem que nem por que, procura o treinador na frente de todos, já dentro do vestiário, e pergunta: “ Você lembra que mandou eu virar homem e me perguntou do que eu tinha medo? Pois é o homem está aqui e não tem medo de nada, ainda mais de um M... como você.” O técnico pálido e segurando seu instinto vira para o meia e diz: “Você procurou e você vai achar.” Fomos todos para o campo. O jogo é iniciado e não tinham decorridos cinco minutos quando o quarto arbitro levanta a placa de substituição, nosso meia é retirado de campo e de dedo em riste, faz ameaças ao técnico. Perdemos o jogo. O meia teve seu contrato rescindido e não o vimos mais. O ambiente estava pesado, a união que tínhamos já não existia. Havia grupos que mal se falavam ninguém mais dava opinião nas preleções. O técnico falava sozinho e ameaçava a todos. Nada do que ele dizia da tática que devíamos usar era seguido. Perdemos todos os jogos e somente pela campanha do primeiro turno é que não caímos. Era final de ano e íamos entrar de férias, no último dia na presença do presidente e de todos os jogadores o técnico pediu a palavra para anunciar que deixava o time e disse: “ Deixo a todos por causa de um erro que cometi e o erro não foi o que eu disse para o meia no primeiro jogo. Meu erro foi não conseguir resgatar o time que formávamos, meu erro foi de não incentivar lideranças no meio de vocês e fazer dela um canal de comunicação quando passaram a não me ouvir, meu erro foi o de não mostrar para vocês que em um time não há como um só perder, quando um perde todos perdem. Agradeço pelos ensinamentos que aqui tive e garanto que daqui para frente não repetirei o que aqui fiz.”

Geraldo Cerqueira