ERA TEMPO

“Tudo tem o seu tempo determinado...”

Eclesiastes 3:1

Os pais de Gélio desaprovavam totalmente o namoro dele com Marisa. A moça era pessoa de bem. Entretanto, era exceção em meio à sua família. Os irmãos dela se metiam em muitas confusões. O pai era metido a valentão. E mãe , ela não tinha ali, pois há muito havia abandonado a casa para seguir outro homem.

Os irmãos de Marisa furtavam, brigavam na rua e maltratavam a irmã. O padrão de comportamento era péssimo.

Gélio já não aguentava mais a constante censura dos pais ao seu namoro. Por isso, sempre que chegava em casa, dava-se a discussão. Achavam que a moça não era adequada para ser uma mãe de família. Temiam que os futuros netos herdassem o caráter tortuoso dos tios e do avô por parte de mãe. E temiam também que o comportamento de Marisa no futuro viesse a se igualar ao de sua mãe. Não havia como aceitar um casamento com aquela moça.

Um dia , foi tão forte a briga que ele esbravejou, chutou porta, cadeira e resolveu romper com os pais . Era tempo de aborrecer.

Disse que sairia e levaria Marisa pra bem longe. O rapaz queria se aventurar em outros caminhos. E sair daquilo que ele considerava um martírio. Iria pra longe com a sua amada. Daria um jeito. Era pra ele, tempo de busca. E tempo de se desvencilhar.

Os pais, boquiabertos e aflitos, não sabiam o que fazer para impedir a partida, evitar o abandono. Tudo. Menos o distanciamento físico, a ausência. Tentaram dissuadi-lo. Insistiram muito. Argumentaram.

Gélio, porém, estava irredutível. Sabia que os pais jamais receberiam Marisa como sua esposa, mesmo com promessas de pensarem melhor no assunto. Ele já conhecia aquela conversa.

Não conseguindo, mudaram de tática: que ele não aparecesse mais e se esquecesse que tinha um pai e uma mãe. Se fosse, que não voltasse! Nunca mais! Era tempo de revolta.

Na distante cidade, o casal , em meio a tantas faltas básicas, não tinha recursos pra cuidar da gravidez de Marisa. E a tragédia foi inevitável. Era tempo de desespero e solidão para Gélio, que perdeu a mulher e o bebê, por falta de exames, remédios e de um hospital decente .

Naquela situação, começou a pensar nos pais. Foi batendo um arrependimento, uma tristeza, uma saudade... Seu coração pedia a volta ao lar , mas temia não ser aceito , depois do que fizera. A família de Marisa já nem morava mais lá. Precisava voltar . Resolveu que escreveria uma carta. Nela pediria um sinal. Se os pais o tivessem perdoado, que pusessem uma bandeira branca na janela da frente da casa. Passando ele no trem de onde veria, teria a resposta. Chegaria até à casa e mataria a saudade. Se não o quisessem mais, ele passaria direto e nunca mais os procuraria. Era tempo de expectativa.

À medida em que o trem se aproximava da cidade e da casa de sua infância, suas entranhas tremiam e o coração disparava. Tinha que ser forte. Olhou. E oh! Lá não estava uma bandeira branca, Mas toda a casa estava vestida de mil bandeiras brancas a dizerem: _Venha, meu filho. Aqui estamos à sua espera!

Era tempo de perdão!

Era tempo de reencontro e de recomeço!

Esther Lessa
Enviado por Esther Lessa em 03/07/2013
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