MENTIRAS DA POTOCA - I
Potoca já estava arrumada para ir ao catecismo. O pai a acompanha até o portão e lhe pede: 'filha, não se desvie do caminho e vá direto para a igreja. Ainda está claro. Quando terminar, me espere se eu não estiver lá. Não volte sozinha, pois já estará escuro'. Ela acena um 'sim' com a cabeça e sai caminhando.
A igreja fica a uns dez minutos a pé e o bairro é tranquilo. Potoca tem 10 anos e está aprendendo a 'andar sozinha'.
Após a saída de Potoca, o sr. Carlos se troca e sai para a Academia, que fica no clube do bairro, no lado oposto ao da igreja.
Chega na academia e está caminhando na esteira, olhando para o movimento da rua, quando vê a Potoca, saindo do clube e caminhando rapidamente. De imediato, ele pensa em ir atrás e questionar a razão de ela estar saindo do clube, quando deveria estar no catecismo. Mas pensa melhor e continua seus exercícios.
Quando dá o horário de buscar a Potoca, vai para o carro e se encaminha para a igreja. Chega um pouco antes e espera a saída dos alunos. Vê Potoca saindo junto com seus colegas. Ela o vê e entra no carro. Ele lhe pergunta se ela conseguiu chegar no horário e a resposta é positiva. 'Aconteceu alguma coisa pelo caminho?'. 'Não', ela responde.
Em casa ele lhe pergunta o que estão aprendendo. Ela fala que hoje a aula foi sobre os dez mandamentos. Ele fala que um dos mandamentos que ele considera mais importante é o oitavo, "não levantar falso testemunho" e lhe pergunta se ela aprendeu sobre ele. Explica que falso testemunho significa contar mentiras. Pergunta novamente se ela realmente chegou no horário na aula. Ela olha para ele e diz que não, que chegou atrasada, pois antes passou no clube. Ele pergunta por qual razão e ela fala que precisava conversar com o professor de natação. O mais estranho é que o professor de natação não dá aula nesse dia. Outra mentira para justificar uma mentira. O pai a manda subir para o quarto e fazer a lição de casa e lhe diz que está de castigo por contar mentiras e lhe diz que a base de uma verdadeira amizade é a confiança e que ao contar mentiras ela está destruindo essa base. Ele acha que, apesar de ela ter 10 anos, tem maturidade suficiente para entender o que é confiança, o que é mentira.
Ele fica triste e vai assistir ao jornal na TV, enquanto aguarda a chegada de sua esposa, que é professora. Mais uma mentira da Potoca para contar para ela, mais um fato para entristecê-la.
Infelizmente, Potoca continuará contando mentiras, não tão 'inocentes' quanto essa.