Retrospecto

Minha mãe, ah! A senhora Maria Vitória, a batalhadora, a guerreira, seu viver neste mundo foi intenso. As batalhas sempre vinham e ela enfrentava as lutas aguerridas. Na década de trinta, ela estava em plena mocidade, mas alguns filhos iam aparecendo, aparecendo, no total 16... não espere aí: 17, pois o primeiro neto ela também criou. E se for contar mais, tem aqueles alunos do catecismo que ela no auge dos seus saberes sobre sua religião católica que defendia com unhas e dentes, ensinava, tinha gosto em passar tudo que entendia sobre a história maravilhosa do nosso Salvador. Falava sem pestanejar que seus alunos do catecismo eram os outros filhos.

As lutas? Elas foram muitas, quantas provações! Entre aquelas foram alguns de seus filhos que partiam deste mundo, quatro deles ainda crianças. Cada um que ia, dizia que era um pedaço seu que desaparecia. Apesar das cicatrizes, ela permanecia de pé com sua fé indestrutível, aliada ao seu amor intenso fazia desta criatura mais uma de história incrível!!!

Sua fortuna? Sim, tinha uma riqueza imensa, não ouro nem prata, mas sua garra, bondade, inteligência e quantos saberes apesar de ter estudado na escola menos de dois anos!...

E vem outro baque: seu marido, quero dizer meu pai, parte para a Pátria Celeste com apenas 51 anos. Nossa! Alguns filhos ainda estavam pequenos, precisavam do sustento. Maria Vitória tem que largar a catequese para trabalhar, conseguir remuneração para continuar a criar seus pequeninos.

A guerreira venceu, com os filhos já adultos, entra de algum modo na catequese, nos serviços sociais que faziam parte da igreja. Ela ia vivendo, veio a velhice, com mais de noventa anos e sua lucidez incrível. O corpo velho e cansado, ia aparecendo as teimosas dores físicas que parecia que ela nunca sentira. Chegou os dias da demência. Aos nossos olhos porquê? Não poderia ser reservada à ela o poder dos saberes, os mistérios de nosso Criador?

E foi num dia em que minha mãe em plena dependência em tudo, aos cuidados de minha irmã, que cuidava dela com esmero, mas estava esgotada, via com tristeza aquele quadro indefinível. Aquela noite tinha sido difícil, minha mãe sentiu dores terríveis parecendo insuportáveis, mas na sua pouca lucidez disse para todos nós ali presentes:

--- Foi a vontade de Deus!

Minha irmã então disse:

--- Deixa Deus saber disso.

Minha mãe então responde:

--- Você não sabe que Deus conheceria todos os dias de minha vida e que este seria assim?!...

E HOJE ELA DESCANSA EM PAZ, DEVE SER NO PARAÍSO

12/06/2013