O CALABOUÇO FLUTUANTE

O CALABOUÇO FLUTUANTE

O famoso grito do Ipiranga de 7 de setembro de 1822 cantado em prosa e verso pelo povo brasileiro, só veio ser ouvido nessa parte do Brasil quase um ano depois. O brado do regente português “Independência ou Morte” causou muita revolta e dor aos filhos da princesa Louçã, que queriam sim a independência, sonhavam com uma sociedade mais justa, em que todos independente da raça a que pertenciam, deveriam ser livres, pois somente os portugueses e alguns altos funcionários detinham o poder político e econômico enquanto que os negros, indígenas, tapuios e mestiços ficavam a margem do alto patamar social da província

Vários movimentos pro e contra a Independência do Brasil surgiram no Pará, quando em 15 de agosto de 1823 através de uma manobra do enviado da corte imperial o comandante inglês John Grenfell conseguiu alcançar uma paz momentânea com a assinatura da adesão do Pará ao Império recém criado, até vir a tona a verdade dos fatos e recomeçar assim os atos de sublevação entre a minoria que queria se manter no poder e a maioria que queria alcançar o esse estágio do desenvolvimento humano.

Começaram as manifestações dos adversários e da própria população, contra a recém instalada Junta Provisória, acusada de manter no poder os comerciantes e latifundiários portugueses. A desobediência civil era tanta que já sem controle, os revoltosos invadiam as residências portuguesas e saqueavam suas casas comerciais. O cônego Batista Campos, numa tentativa de evitar alguns desses conflitos, foi acusado pelo comandante inglês como mais um agitador político.

Grenfell executou friamente cinco homens, como forma de reprimir as manifestações populares, e amarrou Batista Campos à boca de um canhão aceso. Membros da Junta Provisória intercederam e recomendaram a transferência do Cônego para ser processado e julgado no Rio de Janeiro. Grenfell recuou e soltou Batista Campos. Mas, não satisfeito com as execuções, aprisionou 256 suspeitos, por tempo indeterminado, no porão do brigue “Palhaço”, comandado pelo tenente Joaquim Lúcio Azevedo.

Na “Masmorra Flutuante” os prisioneiros gritavam por água limpa e espaço para respirar, assustados com a barulheira dos encarcerados emocionalmente descontrolados pelo calor e pela sede, os soldados abriram fogo e lançaram cal virgem no porão, Na contagem matinal do dia seguinte, no dia 22 de agosto, ainda empilhados lá embaixo, em meio a uma nuvem de cal. só deram com 4 vivos. Dias depois restou só um, o paraense João Tapuia. Morreram 252 milicianos e praças, sufocados e asfixiados. A chacina do dia 21 de agosto de 1823 ficou conhecida como a “Tragédia do Brigue Palhaço”.

Um pavor acometeu o Pará. O interior ferveu. Gente comum morrera como bicho. Para milhares de tapuios e de caboclos paraenses, heróis anônimos, a independência até então não dissera a que veio. Juntou-se a isso o fato dos poderosos locais, quase todos portugueses, donos do comércio grosso e de vastas terras, ainda reservavam para si o controle das instituições, e que, como ativistas do partido dos “Caramurus”, almejavam reatar com Lisboa na primeira oportunidade que houvesse jogando por terra todo o sonho dos nativos desta terra..

ACM Cavalcante
Enviado por ACM Cavalcante em 24/06/2013
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