Compulsões.

Era sempre preciso acertar algo; não que fosse necessário à maioria desapercebida, mas lhe aliviava as tensões compulsivas.

Os círculos de compasso com grafite apontado à gosto, as meias dobradas sobre os sapatos de verniz, o posicionamento dos talheres, os rótulos dos produtos alinhados e à mostra, o tempero correto dos pratos, os apertos de mão com sacudidelas, timing e pressão adequados, o arranjar cuidado das madeixas...

No trabalho, sua excentricidade se extrapolava, e se este refazia o refeito eram vezes e milhares!

Se o resultado demorava um pouco, era certo que a perfeição cobrava tempo!

Além das manias, se enriquecia de amizades, às quais tratava com seu esmero patológico, das quais uma, ainda assim o surpreendeu em delito de mentira!

Disse sentir-se deprimido na ocasião da festa; mas mandou presente e congratulações.

Ela lhe disse que ele mesmo lha contara com sorriso que não iria, mas isso em nada afetava amizades de longa data!

Ele se constrangeu, e o corpo dançou de vertigem...

Fugiu cambaleante para casa!

Na manhã seguinte, para reconquistar a confiança, resolveu transformar em verdade a mentira, e preparou o corpo e mente com toda sintomática pertinente; comprou todos os clássicos da psicanálise, marcou hora em analista, se medicou por conta própria...

Em poucos dias já não conhecia higiene, convívio e até responsabilidade!

Trancara-se em um desespero forjado , agora esquecido até de suas manias, menos uma...

Havia tornado perfeita a mentira, e agora ela o estava matando!

Anderson Dias Cardoso.

http://dersinhodersinho.blogspot.com.br/2013/06/compulsoes.html