A vida de Anita

Anita acordava pela manhã e logo já se preparava para ir para a escola. Colocava seu uniforme, ainda com os olhos fechados, as vezes tropeçava nos móveis dentro de seu quarto, esbarrava no bidê, se escorava na escrivaninha do computador. Enfim, quase acordava a casa inteira com barulhos que de longe se ouviam. Sua mãe reclamava:

-Filha, deixa de ser desastrada, puxou ao seu pai né, que carma!

Mas não adiantava as reclamações de sua mãe, seu pai nem sequer ouvia seus barulhos, tinha um sono pesado, podia cair um pedra em sua cabeça que não acordava, aliás, ele já era a própria pedra. Depois de muita bagunça, ia até o banheiro escovar os dentes, pegava a escova, a pasta, nessa hora ficava mais atenta, esse era o momento em que acordava, literalmente, pois várias vezes havia pegado a espuma de barbear de seu pai por engano, ele era um tanto bagunceiro e vivia deixando suas coisas largadas pelos cantos, e com a espuma não ia ser diferente, e para evitar que ficasse mais uma vez com um gosto horrível na boca, olhava atentamente as embalagens. Depois ia tomar seu banho, odiava tomar banho no inverno, seu pai ainda não havia comprado um chuveiro decente, e para a ducha esquentar tinha que deixar quase um fiozinho de água correndo, tremia, se arrependia, mais sua mãe sempre dizia que tinha que tomar banho antes de ir para a escola para não correr o risco de cheirar mal perto de seus colegas e principalmente da professora que depois iria lhe contar tudo, ai sim ela teria que tomar uma providência. Então o banho antes da escola era sagrado. Depois da do fio quente de água, tomava em mãos a toalha e começava a se secar, sempre encima do tapete que ficava perto do vazo sanitário que sua mãe colocou para ela e o seu pai não fazerem lambanças pelo banheiro, seu pai se secava dentro box, sua mãe também, mas ela se secava encima do tapete, pois não gostava de usar chinelos para tomar banho e o piso do box era muito liso, havia caído vários tombos nele, em um deles fraturou dois dedos da mão, bateu na quina do box, mas um motivo para usar o tapetinho. Cantarolava, olhava o relógio, já estava esgotando seu tempo, o ônibus escolar já iria passar e ainda não tinha tomado café. Saiu correndo pra cozinha, agarrou o saco de pão, passou a mão numa xícara dentro da cristaleira, a garrafa térmica estava cheia, sua mãe sempre fazia café a noite para ela e seu pai que acordava uma hora depois para trabalhar, visto que sua mãe gostava de dormir até um pouco mais tarde. Fazia um sanduíche as pressas com presunto e queijo, ainda dava tempo de torrar, ligava a torradeira, olhava antes a voltagem, por que a ultima havia queimado justamente por não prestar atenção nesse pequeno detalhe, pois havia duas tomadas sem distinções encima da pia, seu pai se esquecia sempre de marca-las, mas já sabia que a da parte de cima era a correta. Depois de sua torrada pronta, saboreava rapidamente o seu lanche matinal enquanto dava goladas de café para não se engasgar com pequenos pedaços engolidos sem mastigar. Gritava Tchau pra mãe da porta do quarto, as vezes sua mãe ouvia, quando não respondia, já sabia que havia pegado no sono, como era filha única não gostava de incomoda-la quando queria descansar, já era uma mocinha entrando em sua pré adolescência e compreendia as necessidades de seus pais, seu pai ainda roncava, era inútil tentar se despedir dele seu sono era como um urso que hibernava em longo inverno. Se dirigia para a parada do ônibus que ficava a cem metros de sua casa, e não esperava muito, em menos de cinco minutos o escolar passava, dava sorte quando não perdia ou tinha que correr atrás dele, devido aos seus atrasos constantes e a sua mania de ser um pouco enrolada. Anita embarcava no ônibus e seguia rumo a escola para mais um dia de aula, de aprendizado e com certeza de muitas lições.

Diego Gierolett
Enviado por Diego Gierolett em 22/06/2013
Reeditado em 22/06/2013
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