A GREVE DOS AMBULANTES
A GREVE DOS AMBULANTES
Corria o ano de 1908, Belém sofria a maior transformação urbanística de toda a sua história, sob a mão de ferro do Intendente (Prefeito) Antônio Lemos, que governava a cidade com uma visão futurística nunca dantes imaginada.
Vivia-se o glamour da belle époque, a fase áurea da borracha, sob a influência do capital inglês, da etiqueta, da moda e da literatura francesa, bem como da música italiana, que tomavam conta da cidade. As maiores companhias de teatro e de Óperas do mundo tinham passagem obrigatória em Belém nas suas turnês pela América do Sul.
O comércio prosperava, começam a se implantar as primeiras indústrias, acompanhando o processo desenvolvimentista que se instalara, na esteira da era gomífera.
Por outro lado, a cidade no seu contexto social, ainda tinha sérios problemas resultantes da abolição da escravatura de um passado recente àquela época. Onde o negro como nas outras regiões do país, ocupava a faixa populacional a margem da força de geração de renda, tendo a sua participação voltada mais para o trabalho braçal, doméstico, e outros de menor expressão na economia de então.
Na tentativa de europeizar a cidade, Antônio Lemos já inovava a administração pública de Belém, da primeira década do século XX, terceirizando serviços públicos, que contribuíram na transformação urbana da metrópole da Amazônia Brasileira. Assim é, que incentivou a criação da “Companhia Americana de Vehículos” que tinha como missão padronizar os equipamentos de comercio ambulante da capital do Pará. Os veículos eram locados diariamente pelos micros empreendedores da época, nos seus mais diversos ramos de atividade comercial. Onde vendiam produtos alimentícios “in natura”, tecidos, utilidades domésticas, além de outros necessários ao uso cotidiano dos habitantes da urbe em transformação.
Certo dia, porém, eles foram surpreendidos com um aumento na taxa de aluguel desses equipamentos ambulantes, o que com certeza seus ganhos seriam diminuídos no ato da comercialização, resolveram então boicotar a atividade em represália ao aumento já citado e radicalizaram em uma greve jamais imaginada pela população daquela época, causando verdadeiro caos no abastecimento da cidade, provocando a intervenção da Intendência que chamou os empresários proprietários da empresa terceirizada desse serviço público, para discutir a redução da referida taxa de aluguel dos equipamentos e que depois de demorada discussão entre as partes, a intendência representada na figura lendária de Antônio Lemos, deu ganho de causa aos ambulantes numa demonstração de poder e força política naquele início da era de republicana no Pará.