Cuspe
Quando eu vi que você estava acordando eu saí correndo, cuidando para não fazer barulho. Percebi o quanto eu era imatura (fração de segundos). Percebi o quanto era eu era ingênua em pensar em ser imatura. Percebi - por fim - que precisava correr. Você logo acordaria e meteria sua imaturidade feito garras em mim.
Olhei para a porta e vacilei. Olhei você na cama e voltei. Dois, três passos... Ah... Minha mente sabia o quanto era perigoso voltar um passo, sabia que era mais prudente sair correndo sem deixar vestígios de mim no quarto pequeno e com cheiro de incenso falsificado.
Apressei os passos para a porta - a agonia passou, meu coração tremeu. Abri a porta e em fração de segundos meu alívio voltou a ser agonia: a porta estava trancada. A chave? Claro, você havia pensado em tudo e eu devia ser muito previsível.
Pensei quase alto que estava em confusão. Voltei ao leito, olhei você fingindo ser anjo. Você abriu os olhos e, com um sorriso gentil, me engoliu até as pontas dos meus dedos dos pés, mastigou meus ossos mais duros e depois me cuspiu em um canto qualquer.
E eu, novamente, estava no lixo, no fundo do poço - me contorcendo de arrependimentos...