Do Fim...
- Achei que fosse diferente...
Murmurou ela olhando para as mãos vazias, vazias e desprezadas.
- Achou errado. Segui meu caminho.
Tão tácita foi a resposta que sentiu-se constrangida. Tão longe do homem doce que aprendera a amar, tão diferente da imagem por ela construída.
Suspirou tentando ganhar tempo. Sabia que fora esse o combinado, mas no fundo acreditava em vínculos além do tempo, além do espaço.
- Mas...
- Não tem mas, acabou. Minto... Não acabou, nunca existiu.
Tão feita a frase, tão perfeita pra ele.
Eco, oco, ele destilando aquele ar de superioridade, ela no vacuo.
As lágrimas impediram-na de ler o resto.
Fechou as janelas para o passado, deletou o coração com a borracha da decepção. Quando voltou a percebê-lo, havia nela um instinto de destruição entre os dedos, sorriu perigosamente...
- Ok, aqui estão suas letras, seu conto.
Disse enquanto acendia uma chama em seus olhos.
O medo passou pelo semblante covarde daquele que um dia lhe jurava amor e fidelidade ao sentir-se ameaçado pela centelha de determinação em sua frase. Amor? Nem três meses e ele já dizia amar outra. Três meses era seu prazo de validade, três meses afastados, três meses sem que rabiscasse sobre aquelas folhas, três meses esperando por aquele momento. E nada, era do nada o presente das palavras.
Rasgou uma a uma as páginas daquela historia e ateou fogo aos pedacinhos amputados sem dó ou piedade. O rosto de anjo como Dorian Gray foi transformando-se em algo horrendo, covarde, vil em meio às letras borradas pelo negro que nasce do fogo... Desmanchando-se em cinzas envenenou o ar com o cheiro de sua alma incinerada.
Fim.
Só mais um conto mal escrito, mal resolvido em meio ao lixo literario que se habituara a produzir.