UM COROA NO MOTEL

Francisco era casado há alguns anos com Gracinha. Viviam felizes, os filhos já criados, situação econômica tranquila, vida sossegada.

Homem sério, Chico nunca se envolvera em aventuras amorosas. Vivia para a família e Gracinha, a mulher de sua vida.

Aos sessenta e tantos anos, Chico aposentou-se e tinha mais tempo livre para dedicar para a esposa e netos.

Tem um ditado que diz: “cabeça vazia, oficina do diabo”. Nada mais verdadeiro. Não tendo com o que se preocupar Francisco ficava horas em seu notebook e começou a frequentar, por curiosidade, sites de relacionamento.

Num sábado chuvoso e frio, Chico entrou em contato com a “mulher solitária”, codinome de alguém que dizia ser uma morena de lábios carnudos, seios fartos e coxas roliças.

A imaginação é o combustível da libido e Chico ficou excitado só de imaginar que mulherão seria a tal da “mulher solitária”. Resolveu marcar um encontro e passou o número de seu celular para que ela lhe ligasse.

Marcaram um encontro para uma tarde de quarta-feira e Chico quase não conseguia controlar a ansiedade.

No dia do encontro Chico, que não era bobo, precaveu-se e comprou um comprimidinho azul, desses de efeito prolongado.

A morena, realmente, não tinha feito propaganda enganosa. Quarentona bonita, cabelos negros, corpo bem delineado, cintura fina, meio tanajura.

Chico impulsionou o pé no acelerador rumo ao motel. Apertou a campainha e a recepcionista perguntou: - O que o Senhor deseja? Chico ficou sem saber o que responder. Será que tinha que contar o que ele pretendia fazer com a bela morena?

Quem salvou a situação foi Helena, a morena:

– Peça um apartamento, disse ela.

– Quero um apartamento, ele afirmou, a voz meio sem força como se não tivesse muita convicção no que estava fazendo.

- Quarenta, disse a recepcionista.

- Quarenta reais?

- Não. Apartamento número quarenta, no fim do corredor.

A garagem, meio apertada, mal cabia o carro de Francisco. Entraram no apartamento e Chico ficou deslumbrado. Cama redonda, espelhos nas paredes e no teto, uma grande banheira de hidromassagem e... Uai, o que ara aquilo? Uma geringonça esquisita que parecia um equipamento de academia de ginástica.

- O que é isto? É para fazer alongamento?

- Não, Chico. Isto é uma cadeira erótica.

Deitaram na cama e ligaram a TV. Chico ficou vermelho de vergonha. Estava passando um filme pornográfico? Olhando melhor ele viu que não. Apenas a imagem do Lula comendo uma banana.

As carícias preliminares se iniciaram e Chico, pelado, pediu licença e resolveu tomar um banho. Enquanto Helena se esquentava debaixo do edredom Chico ligou o chuveiro, passou a mão no sabonete e começou a aproveitar a deliciosa água quentinha da ducha. Foi quando ele, num movimento brusco, bateu com o cotovelo no registro do chuveiro. A dor foi lancinante e ele não se conteve. Começou a gemer de dor.

Helena ouviu os gemidos de Chico no banheiro. Só me faltava esta, pensou. O coroa é pervertido. Resolveu ter prazer solitário e me deixar na mão.

Ainda com cara de sofrimento, Chico resolveu ligar a banheira de hidromassagem. Regulou a temperatura e jogou a espuma de banho na água. Um banho morno aliviaria a sua dor.

Foi quando Helena chamou-o para que ele fosse experimentar a cadeira erótica. Coitado do Chico, desajeitado, acabou caindo de bunda no chão. Desistiram da cadeira e foram para a cama. Foi então que Chico se deu conta que havia se esquecido de tomar o comprimidinho azul. E agora? Preocupado, começou a pensar o que iria fazer. Tomar naquele momento não iria adiantar. Levaria uns quarenta minutos para fazer efeito. Correndo os olhos pela cabeceira da cama ele percebeu um pequeno vidro. Este pessoal de motel lembra-se de tudo, pensou. Passou o conteúdo do vidro em seu bilau. Sentiu um calor gostoso e viu que o resultado não poderia ser melhor: virilidade à prova. Foi um sucesso. Helena achou-o o máximo. Francisco se achou o garanhão em pessoa.

Na hora de ir embora, Francisco colocou o vidrinho no bolso. Queria saber o nome do remedinho milagroso para usar em outras ocasiões.

Aos beijos, despediu-se de Helena com a promessa de que se encontrariam muitas vezes.

Ao chegar em casa tirou o vidrinho do bolso para ver o nome do remédio. Na bula leu:

CALEX. Remédio infalível para calos. Endurece, apodrece e cai no terceiro dia.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 05/06/2013
Reeditado em 15/06/2024
Código do texto: T4327255
Classificação de conteúdo: seguro