Eu e Meus Fantasmas

Um quarto frio e escuro, quase vazio. Um odor úmido e fétido na atmosfera. Não vejo o chão, hesito em me levantar, temo cair no nada.

Sinto meu corpo dormente, reações estranhas de formigamento sobre a minha pele fria. Envolvido em um cobertor sujo, deitado sobre um colchão velho, tento visualizar o quadro escuro do ambiente mórbido pra reconhecer onde estou.

Sei que é dia, pela luz que passa por uma minúscula fenda, já não importa o tempo. O zunido ensurdecedor do silêncio me atormenta. Parece que o mundo lá fora parou, o único ruído é o de um ponteiro de relógio que não consigo ver.

Vejo formas indefinidas dos poucos móveis no quarto, eles ganham vida, se movem lentamente crescendo em minha direção. Sombras estranhas e macabras dançam na parede. Apavorado, fecho os olhos como uma criança que se esconde nas minhas pálpebras fechadas. Manchas de luzes configuram-se em vultos que me assombram. Tenho medo, mas me falta voz ao gritar.

Não há como correr, acho que é a loucura. Não há ninguém aqui, exceto eu e meus fantasmas.

Não vejo a porta, acho que sumiu, ou nunca existiu, um quadrilátero sem entrada ou saída. Invisível ao mundo lá fora, não me encontrarão aqui, ninguém está a minha procura.

Um cheiro pútrido exala, acho que é comida estragada ou dejetos humanos em algum desses cantos. Não, não é nada disso. Sou eu que morri e já estou apodrecendo. Os fantasmas não vieram me atormentar, eles vieram me buscar, agora sou parte deles.