Pimenta nos “ói”...
Amigos desde a infância, Zé Peitica e Pedim de Maria Rita, foi cada um seguir seu caminho.
Pedim era filho de dona Maria Rita, professora e esposa do coronel Sarmento, proprietário da fazenda Bananal. Aos 17 anos foi para capital, estudou nos estrangeiro e, naquela oportunidade, já como Dr. Pedro Sarmento, voltava para rever suas raízes trazendo mulher e filho.
Zé Peitica havia ficado por ali mesmo, nunca saiu daquelas bandas. O lugar mais distante que ia com frequência era para a feira de Joaquim Gomes, cidade mais próxima. Não, teve uma vez que ele foi a Paripueira disputar uma partida de futebol, na qual ganharam, mas nem aproveitou o banho de mar. Dizia ele: “E aquilo lá é água, arde os ói e é mais sargada que manjuba de mei de feira!”. Tinha ganho o nome de “Peitica” porque gostava muito de peiticar com outros. Bastava saber de qualquer deslize de alguém e pronto, a zoeira começava sem ter dia para terminar... Pense num cabra chato, cabuloso, mas divertido. Era presença essencial nas noites de lua onde se contavam os causos dos tempos passados e, claro, dos atuais.
E Zé e Pedim se encontraram, e haja conversa... A amizade havia sobrevivido a distancia. Bananal estava um burburinho só com a presença do filho ilustre.
De noite, assentados numa roda, onde a fogueira iluminava e esquentava, discorriam sobre assuntos diversos até que Pedim, cheio de “nutempraquêisso”, explicava sobre os avanços da modernidade, dos novos tempos e, não se sabe bem como, chegaram no assunto de casamento gay. Pronto, a conversa agora ficou apenas entre Pedim de Maria Rita e Zé Peitica, já que os demais não desejavam contender com o filho do patrão.
- As coisas mudaram, o mundo é outro, novas tecnologias, novos pensar... Casamento entre pessoas do mesmo sexo, casamento gay como vocês dizem, é a coisa mais normal do mundo! Agorinha mesmo houve um casamento desses em Paris – Discursava Pedim.
- Perái Pedim, perái Pedim... Cunveça da boba é essa! Normá num é não... A gente respeita o gosto de cada um. Cada quá que tem seu fiofó dá a quem quer... Pode preguntar pra o Sofia, cozinheiro da casa grande, se nóis num respeita ele toda vida... Agora normá, ocê me adescurpi, mas né não! – Retrucou Zé Peitica.
- Que isso, meu amigo Zé... É que vocês aqui pararam no tempo, vive a mesma vidinha há anos e por isso não percebe a evolução.
- Pedim, me adescurpi outra veiz, mas que muganga é essa? Tu já viu naçê burrego sem ser de vaca e boi, fiote de cachorro sem ser de cachorro e cachorra? E bruguelo sem ser de homi e mulé? E tu acha isso normá?
- É, realmente, conversar sobre certos assuntos com vocês ainda é muito prematuro; vocês ainda não estão preparados. Mas vão se acostumando, os novos tempos estão por vir.
- É mió mesmo nóis parar com essa prosa...
O silêncio tomou conta da roda. Coisa rara, isso só acontecia quando algum dos moradores falecia.
Percebendo o desconforto generalizado, Pedim se despede, convidando a todos para o aniversário do seu filho naquele domingo!
- Eita, vai ser uma festa das boas! Vou inté na feira comprar um presente pro muleque. – Falou Zé Peitica.
E os demais engrossaram o coro de que iriam também.
- Não, de forma nenhuma, não precisa gastar dinheiro com presente. Meu filho tem de tudo. – Apressou-se em dizer Pedim.
- Deixe comigo, Pedim. A gente se ajunta com um pouquim daqui, outro dali, e eu compro um presentisim, uma lembrancinha na feira. Vô trazer um conjuntim de sutiã e carcinha vermeia e preta, para dá pro muleque! – Falou o Zé.
- Como é que é, Zé? Que brincadeira de mau gosto é essa? O fato de nós sermos amigos a tanto tempo não lhe dá o direito de me ofender não, está me ouvindo?
(Silêncio)
- Calma, Pedim... Você num disse que os tempos mudô, evolução, pois então, compro uma sutiã e uma carcinha, e ele usa quando quiser... Vai que ele goste e...
- Você depois de velho, está ficando idiota, imbecil, é Zé? – Esbravejou Pedim.
- Tô não, tô não, Pedim... Tô apenas querendo lhe mostrar que pimenta nos ói dos outros é refresco. Quando o negócio é dentro da nossa casa, cadê a normailidade? Quero viver pra ver tu chamando outro homi, casado com teu filho, de genro, e com essa cunversa fiada de que é evolução, de que é normá! Vá pra baixa da égua, Pedim!
A quem diga que, depois daquela noite, Bananal continua vivendo sem evolução e sem a visita de Pedim de Maria Rita.
Amigos desde a infância, Zé Peitica e Pedim de Maria Rita, foi cada um seguir seu caminho.
Pedim era filho de dona Maria Rita, professora e esposa do coronel Sarmento, proprietário da fazenda Bananal. Aos 17 anos foi para capital, estudou nos estrangeiro e, naquela oportunidade, já como Dr. Pedro Sarmento, voltava para rever suas raízes trazendo mulher e filho.
Zé Peitica havia ficado por ali mesmo, nunca saiu daquelas bandas. O lugar mais distante que ia com frequência era para a feira de Joaquim Gomes, cidade mais próxima. Não, teve uma vez que ele foi a Paripueira disputar uma partida de futebol, na qual ganharam, mas nem aproveitou o banho de mar. Dizia ele: “E aquilo lá é água, arde os ói e é mais sargada que manjuba de mei de feira!”. Tinha ganho o nome de “Peitica” porque gostava muito de peiticar com outros. Bastava saber de qualquer deslize de alguém e pronto, a zoeira começava sem ter dia para terminar... Pense num cabra chato, cabuloso, mas divertido. Era presença essencial nas noites de lua onde se contavam os causos dos tempos passados e, claro, dos atuais.
E Zé e Pedim se encontraram, e haja conversa... A amizade havia sobrevivido a distancia. Bananal estava um burburinho só com a presença do filho ilustre.
De noite, assentados numa roda, onde a fogueira iluminava e esquentava, discorriam sobre assuntos diversos até que Pedim, cheio de “nutempraquêisso”, explicava sobre os avanços da modernidade, dos novos tempos e, não se sabe bem como, chegaram no assunto de casamento gay. Pronto, a conversa agora ficou apenas entre Pedim de Maria Rita e Zé Peitica, já que os demais não desejavam contender com o filho do patrão.
- As coisas mudaram, o mundo é outro, novas tecnologias, novos pensar... Casamento entre pessoas do mesmo sexo, casamento gay como vocês dizem, é a coisa mais normal do mundo! Agorinha mesmo houve um casamento desses em Paris – Discursava Pedim.
- Perái Pedim, perái Pedim... Cunveça da boba é essa! Normá num é não... A gente respeita o gosto de cada um. Cada quá que tem seu fiofó dá a quem quer... Pode preguntar pra o Sofia, cozinheiro da casa grande, se nóis num respeita ele toda vida... Agora normá, ocê me adescurpi, mas né não! – Retrucou Zé Peitica.
- Que isso, meu amigo Zé... É que vocês aqui pararam no tempo, vive a mesma vidinha há anos e por isso não percebe a evolução.
- Pedim, me adescurpi outra veiz, mas que muganga é essa? Tu já viu naçê burrego sem ser de vaca e boi, fiote de cachorro sem ser de cachorro e cachorra? E bruguelo sem ser de homi e mulé? E tu acha isso normá?
- É, realmente, conversar sobre certos assuntos com vocês ainda é muito prematuro; vocês ainda não estão preparados. Mas vão se acostumando, os novos tempos estão por vir.
- É mió mesmo nóis parar com essa prosa...
O silêncio tomou conta da roda. Coisa rara, isso só acontecia quando algum dos moradores falecia.
Percebendo o desconforto generalizado, Pedim se despede, convidando a todos para o aniversário do seu filho naquele domingo!
- Eita, vai ser uma festa das boas! Vou inté na feira comprar um presente pro muleque. – Falou Zé Peitica.
E os demais engrossaram o coro de que iriam também.
- Não, de forma nenhuma, não precisa gastar dinheiro com presente. Meu filho tem de tudo. – Apressou-se em dizer Pedim.
- Deixe comigo, Pedim. A gente se ajunta com um pouquim daqui, outro dali, e eu compro um presentisim, uma lembrancinha na feira. Vô trazer um conjuntim de sutiã e carcinha vermeia e preta, para dá pro muleque! – Falou o Zé.
- Como é que é, Zé? Que brincadeira de mau gosto é essa? O fato de nós sermos amigos a tanto tempo não lhe dá o direito de me ofender não, está me ouvindo?
(Silêncio)
- Calma, Pedim... Você num disse que os tempos mudô, evolução, pois então, compro uma sutiã e uma carcinha, e ele usa quando quiser... Vai que ele goste e...
- Você depois de velho, está ficando idiota, imbecil, é Zé? – Esbravejou Pedim.
- Tô não, tô não, Pedim... Tô apenas querendo lhe mostrar que pimenta nos ói dos outros é refresco. Quando o negócio é dentro da nossa casa, cadê a normailidade? Quero viver pra ver tu chamando outro homi, casado com teu filho, de genro, e com essa cunversa fiada de que é evolução, de que é normá! Vá pra baixa da égua, Pedim!
A quem diga que, depois daquela noite, Bananal continua vivendo sem evolução e sem a visita de Pedim de Maria Rita.