Acerto De Contas

Eric do Vale

“Não se afobe, não

Que nada é pra já

O amor não tem pressa

Ele pode esperar”.

(Chico Buarque. Futuros Amantes)

Apesar de não tê-la excluído, achou conveniente não procurá-la. Ligar pra quê? Ela não iria atender e, mesmo que atendesse, qual desculpa daria? Quando se conheceram, na aula de natação, ele estava iniciando um relacionamento que, diga-se de passagem, foi muito desgastante. Mesmo assim, ele fez questão de mantê-lo e arranjava um pretexto para aproximar-se dela, nem que fosse para bater um papinho. Fosse por medo ou bom senso, decidiu não arriscar e acabou perdendo-a de vista.Só alguns anos depois, quando já se encontrava solteiro, ao lembrar-se dela, questionou-se: “Por que eu não aproveitei? Deveria ter chutado o balde...”.

Um dia, ele recebeu em seu escritório um senhor chamado Augusto que tinha como finalidade propor-lhe um negócio. Ciente de que Augusto trabalhava na mesma empresa que ela, não titubeou:

-A propósito, conheço uma pessoa de lá, há tempos que não a vejo.

Quando disse o nome dela e a descreveu, imediatamente Augusto respondeu:

-Ela ainda trabalha conosco.

Admirado com a informação, perguntou:

-Você, por acaso, tem o telefone dela?

- É lógico!

Fornecido o número, ele anotou e, após Augusto ir embora, não perdeu tempo e ligou para ela. O dialogo foi curto, mas teve continuidade durante a semana até que um dia, pouco antes de sair para o almoço, ele, num rompante, ligou para ela convidando-a para almoçar. Aceitando o convite, os dois se encontraram num restaurante próximo de um Shopping Center. Informado de que ela estava solteira há quase um ano, constatou que agora o tempo havia se tornado o seu grande aliado, mas era preciso ter um pouco de paciência para alcançar o seu objetivo. Os telefonemas tornaram-se frequentes e eles marcaram novamente, de se verem, na hora do almoço. Passando perto do cinema, ele apontou para um filme em cartaz:

-Esse filme deve ser muito bom. Estou louco pra vê-lo.

Prestes a convidá-la, ela disse:

-É sim, com certeza. Eu vi semana passada com aquele meu amigo.

- Amigo?_Fazendo-se de desentendido.

-Aquele que te falei... o meu ex...

Para ele meia palavra bastava. Disfarçou a sua decepção, mista de espanto, e a conversa tomou outro direcionamento. Ao despedir-se dela, constatou: “Não tinha que ser, se naquela época não deu certo...”. Só restava-lhe ir a forra com a sua solteirice, o que não demorou muito. Noites, baladas, mulheres e em menos de um mês ele, praticamente, já havia se esquecido dela até telefonar-lhe e questionar a sua ausência. Informado de que ela havia terminado, de uma vez o seu namoro, combinaram de irem ao cinema. Findada a ligação, ele pensou: “É agora ou nunca”. No meio da sessão, segurou na sua mão, mas ela hesitou. Perto de irem embora, ela pediu-lhe um tempo, alegando que precisava colocar a cabeça no lugar. Nessas condições, ele achou coerente jogar a toalha e, mais uma vez, aproveitar a sua vida de solteiro. Passaram-se mais de dois meses, quando recebeu um torpedo: “O que aconteceu? Você está sumido!”. Desconhecendo o número e pensando que fosse algum rolo, resolveu ligar para saber quem era e ouviu a voz dela.

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