Virada

A oração para começar o trabalho voluntariado já estava encerrando, quando adentrei no recinto, mas a tempo de tomar parte.

Cumprimentei respeitosamente todos os amigos, e no interior da sala percebi a presença de uma mulher misteriosa, que logo reconheci nela uma velha amiga.

Marta sorriu levemente e inclinou-se respeitosa. Fazia tempo não a via. Ela ficara ausente durante muitos anos do convívio dos amigos.

Ela era casada com um homem enigmático, que carregava em seu semblante um céu cerrado. Espoliou ele, em gesto arrebatador, o tesouro mais precioso que ela possuía: seus cinco filhos. Mandara-a embora, sem mesmo deixar que se despedisse deles.

Ela tornara-se dona de casa em tempo integral cuidando dos cindo filhos ainda pequenos, que necessitavam de sua presença.

Sempre que precisava ir ao comércio para suprir a despensa de algum alimento, pedia à generosa vizinha um olhar de cuidado pelos filhos.

Seu marido, homem desconfiado, até mesmo das folhas que se precipitavam das arvores, suspeitava de Marta todas as vezes que saía, mesmo sabendo-se necessário.

Numa tarde quando o sol ainda se revelava, ele chegou em casa e notando a ausência da mulher, encheu-se de furor. Os filhos, a pedido de Marta estavam confiados à guarda da vizinha, enquanto estivesse ausente.

Irritadiço ficou. Foi recolher as crianças e plantou-se junto à janela até que ela despontasse no horizonte. Antes de subir as escadas que levavam à sala, gritou ele, ofendendo-a com tratamento vil e humilhante.

Ela, ainda com o peso das compras nos braços, fez breve tentativa para explicar-lhe a necessidade premente de ir ao comércio. Nenhum argumento adiantou. Ele não lhe deu ouvidos.

Em gesto de desespero, elevou as mãos à cabeça, deixando cair por terra as compras que carregava. Ajoelhou ali, entre compras e a terra úmida da chuva que caíra na noite anterior, num lamento de dor pela separação de modo abrupto do seus filhos queridos.

Caminhou, chorou, desesperou-se e desorientada já nem sabia onde ia..

Andou até escurecer. Quando sentiu não ter mais força, sentou-se em um banco na calçada de lojas e recostada dormiu até o dia clarear.

Sabia que precisava arrumar emprego urgente. Em sua bolsa tinha pouco dinheiro e ela não podia gastar à toa. Aquela quantia dava para comprar alguns jornais e tentar achar um emprego.

Sentou-se no mesmo banco, e começou a marcar as possíveis chances.

Saiu em campo, corajosa e disposta a não ter de voltar àquele banco. Devido a falta de experiência, estava difícil encontrar alguém que quisesse arriscar sua competência.

Depois de muitas respostas negativas, ela decidiu num lampejo, pegar o ônibus que levava à cidade grande, achando que lá tivesse melhor chance. Ela sabia que algum emprego lhe serviria.

Logo ao descer do ônibus, foi comprar o jornal. Marcou alguns anúncios, mas antes foi até a padaria tomar café e comer um pão, que lhe fornecessem energia, prevendo que faria muitas caminhadas.

Viu uma placa para contratação de atendente, e imediatamente se colocou como candidata.

O português dono da padaria fez-lhe várias perguntas, e descobriu que ela não tinha experiência, e sua formação era de graduação universitária.

Ficou reservado em lhe dar o emprego, e ela afirmou que seria esforçada e tudo aprenderia rápido. Não tinha experiência em trabalhos no comércio, mas em casa ela tinha de ter agilidade e organização para cuidar de cinco filhos.

Ganhou o emprego, e foi morar numa pensão próxima da Padaria.

O tempo passou, e foi suficiente para que ela aprendesse tudo do ramo, e numa expansão da padaria, fora convidada a ser sócia. O negocio tanto cresceu que virou uma cadeia de padarias.

Pode finalmente comprar uma bela e confortável casa e para sua alegria e felicidade, trouxe os filhos para morar com ela.