A visita

As flores amarelas exalavam um perfume embriagante, não me recordava o seu nome, mas fez nascer um sorriso em meu rosto. Olhei para a mulher de idade a minha frente, passei-lhe o dinheiro e sai com o buquê. Caminhando pela calçada senti o vento gelado soprando em meu rosto. Sorri. Meus pensamentos viajavam entre o jantar especial de hoje a noite, a lembrança da noite anterior e o perfume das flores. Atravessei a rua. Escutei o cantar de pneus. Foi rápido demais. A única coisa que consegui ver foram as luzes. Brancas... Fortes... Mortais...

A mesa era linda. Era uma mesa que uma vez vi em uma revista quando ainda era jovem. Recortei a foto e colei em meu armário. Hoje eu estava sentada nela. Em minha frente um anjo sorria para mim. Não acreditei a principio. Mas as lembranças forçaram sua entrada e invadiram minha mente com toda força. Respirei fundo. Não senti o ar em meus pulmões. O chão ainda era firme. Mas eu não. Eu não passava de uma imagem. Um vento. Uma lembrança.

O futuro já não me pertencia. O passado havia ficado para trás. O presente era inimaginável. Se pudesse, teria derramado uma lágrima.

De repente ela apareceu. Uma mulher alta. Sorridente. Estendeu a mão. Venha, segure forte minha mão e me segue. O anjo havia desaparecido. Talvez nunca tenha estado ao meu lado. Eu não sei.

Levantei, triste. A mulher acariciou meu rosto, sorrindo. Saudades? Ora, não se preocupe, verás que o lugar para onde irás é perfeito. Serás feliz. Sorri. O brilho em meus olhos sumiram rápidos, logo a tristeza era meu semblante novamente. Não, você não o verá aqui. Mas não ficarás sozinha. Não se preocupe. Terás companhia. Eu não precisava dizer nenhuma palavra. Ela sentia minhas perguntas.

Ela puxou seu vestido branco de lado e sentou. Sentei me de novo.

Você está morta. Essa era minha terceira opção, logo abaixo de sonho e loucura. As lembranças de meu amor iam se desvanecendo e antes de o perder olhei-a suplicante. Ela sorriu. Um desejo? Dois desejos? Vamos, vamos que o tempo está me esperando. Logo senti frio e o calor juntos. A Lua. Uma Flor. Uma Pétala. Um livro. Seu nome. Outro nome. Suspirei tranquila, seu futuro já estava escrito. Serás feliz outra vez. Um novo amor. Uma nova mulher. Uma nova família. Sorri. Apesar de tudo, só queria te ver feliz.

Um último desejo. Uma viagem. Minha casa. Você de preto, em frente ao meu caixão. Uma lágrima em seu rosto teimando contra seu orgulho. Sorri. Em seu bolso senti a presença do anel de noivado que me daria naquele dia. Vi sua mão na mão que um dia foi parte de meu corpo. Cheguei ao seu lado. Suspirei. Me sente? Me ouve? Você não me olhou. Você apenas olhava para mim. Tudo bem meu amor. Estou bem. Ficarei bem. Te amo. Soltei um beijo. O deixei arrepiado. Adeus minha vida.

Luna Gerst
Enviado por Luna Gerst em 26/05/2013
Reeditado em 28/05/2013
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