As Rosas Sofridas XV
Principalmente Licínio que apesar da idade.... ainda era o líder, querido e respeitado por todos os agregados e vaqueiros da fazenda.
Licíncio e Catarino eram empregados remanescentes dos antigos patrões, ou seja, dos pais da Dona Rosa, e eram os mais queridos dos velhos! A fazenda São Roque era administrada pelo Catarino, antes de Josias tomar conta, e continuou sedo depois, com algumas restrições é claro! Antes ele mandava em tudo, pois os patrões já não tinham mais disposição. Então a direção da fazenda ficava por conta dele. Era muito bem administrada apesar de ser analfabeto.
Pois bem. Dona Rosa teria que tomar uma decisão, do contrário estaria reduzida a uma simples empregada, sem vontade e sem direito de dona de casa.
Procurou o pai e expôs a situação. Eles não acreditavam que estivesse acontecendo uma coisa desta. Ninguém tinha coragem de falar nada não queria complicações. O que se passava ali não era
comentado nem mesmo entre empregados que não tivesse acesso a casa grade. Por outro lado, Dona Rosa seguindo os princípios da família, não queria que os pais ficassem sabendo. Era os problemas que sempre eram resolvidos entre as mulheres e os seus respectivos maridos. Elas tinham muita personalidade e capazes de resolverem, mas a situação chegou a tal ponto que não dava mais para esconder, e como já disse poderia a qualquer momento um confronto entre eles que se amavam!
Se amavam?! Mas que tipo de amor que poderia ir a vias de fatos sem que os pais tomassem nenhuma atitude até correr sangue!...Dona Rosa não queria que seus pais fossem contra o marido, apenas estava participando os acontecimentos. Mas dificilmente as coisas ficariam apenas nisso, mesmo por que Dona Rosa era filha única, e não iam permitir que ela sofresse assim. Mas ela proibiu ao pai de fazer qualquer coisa contra o marido.
Depois que a família tomou conhecimento de tudo, Dona Rosa mandou Licínio providenciar uma embarcação grande e pegar na dispensa todo o necessário para passar uns dias ou um mês. Mandou colocar as malas, as crianças e empregadas e mandou que levasse para a cidade. Mandou arriar seu cavalo, e ficou esperando Josias voltar da lida. Ele estava fazendo uma cerca numa manga de pasto, que era tão importante que não confiou nos empregados. É que deveria chegar uma boiada dentro de alguns dias, ele precisava que esta manga de pasto estivessem cercado.
Quando Josias chegou ao meio dia para o almoço, e quis tomar um aperitivo, Dona Rosa não deixou, e disse-lhe: - Mandei o Licínio com a minha mudança para a cidade.
As crianças e Delzita foram também. Você há de convir que nós não poderemos viver mais juntos. Tenho o direito de defender aquilo que é meu, e eu sou a senhora desta casa, e não uma simples empregada ou uma rapariga que o homem faz dela o que quer por serem elas umas desvalidas; mas eu não sou, e a partir de hoje quero direitos iguais. Você já fez tudo o que tinha direito e o que não tinha de fazer.
- O que você chama de direitos, perguntou Josias.
- Todos os direitos que tem uma esposa honesta, mãe de um número elevado de filhos, que sempre abaixou a cabeça para todos os absurdos que você cometeu até agora. Mas terminou a sua conta de desmando, agora chega. O direito de uma verdadeira dona desta casa, destas terras de tudo. Direito de ser respeitada e não continuar sendo maltratada e desmoralizada diante das pessoas desta casa e da fazenda.
- Direito... Direito aquilo que você tem me negado todo este tempo!
- O que está lhe faltando? Por acaso eu lhe proibi de dar ordens aqui dentro de casa, e de fazer o que quiser?
Está me faltando tudo! Quando falta o respeito do marido para com a mulher, quando a mulher não tem tranqüilidade para viver, quando lhe falta confiança, esta mulher vive com medo que o homem beba um aperitivo e se torne um tirano um desqualificado, violento e desumano, mas não passa de um covarde se escondendo atas de um copo de bebida para fazer as mais mentirosas... deixa para lá... O fato é que eu vivo com medo que você nestes desvarios e sem querer por acidente fazer um mal irremediável, uma desgraça uma guerra entre os nossos empregados que o repeita apenas, por que são empregados e gostam muito de nós;e teem medo que aconteça algum mal contra as crianças e criados da casa, e até comigo. Não propriamente conta mim, por que eu não tenho medo de você. Tenho sim respeito; isso eu sempre tive até agora, mas cheguei ao meu limite de aturação.
De agora em diante direitos iguais. Chega de andar escondida pêlos matos com medo da sua bebedeira. Medo de mim mesma não suportar mais este sofrimento e resolver enfrentá-lo de igual para igual por que você sabe que sou capaz, de enfrentar qualquer um, e isso inclui você. Medo de confronto dos empregados a qualquer momento.
- Você está me desafiando?
- Não. Apenas prevenindo-o, e lembrando - o de que quando você me conheceu eu era á mais doce das mulheres, mas a pior de todas quando ofendida. E lembro-me que você exaltava muito as minhas qualidades para viver numa fazenda, isso é porque você me conhece muito bem. Não acredite que eu tenha perdido tudo isso com o passar do tempo e a vinda dos filhos. Eu estou muito mais mulher e muito machucada. Mas esperando sempre que nunca fosse necessário lembrar-lhe isso, mas você me levou ao extremo. E á muito tempo que deveríamos ter tido esta conversa. Mas o ocorrido desta semana me levou ao extremo e não estou mais disposta a tolerar mais essa situação. Por isso vou para a cidade e se quiser tratar de uma reconciliação, eu estarei lá para discutirmos os direitos de cada um.
- Mas por que você tomou esta atitude agora?
- Por que eu me cansei de passar vergonha, ser maltratada e humilhada dentro da minha própria casa, e depois eu o tinha perdoado o que você fez a Delza, mediante uma promessa sua de que isso nunca mais iria acontecer. No entanto você continua assediando-a. E já não sei quem tem culpa, o que vou descobrir logo que chegar a cidade.
- Você não tem este direito, você é mulher, e como tal, terá que me obedecer e fazer aquilo que eu mandar e determinar!
- Faria sim, se você tivesse moral para tanto. Você deixou de ter este direito quando desrespeitou nossa casa e a mim também. Você está se esquecendo de uma coisa muito importante: Os tempos são outros, Josias, vocês não entendem que não podem fazer mais os que os coronéis da antigamente faziam!
- Você está me desafiando, Rosa?.
Infelizmente sim! Você está me levando a isso. Nunca pensei que fosse necessário chegar a este ponto, mas não tem outro jeito, você provocou o irremediável. Não quero declarar guerra a você, mesmo por que eu lhe devo obediência como meu marido, mas você não está usando seus direitos de marido, mas de patrão e de senhor, e de um mau patrão, e um mau senhor o que é uma pena.
- Eu lhe perdoei muitas vezes por amor e consideração, e você entendeu erradamente, pensou naturalmente que eu não tivesse mais coragem de tomar esta atitude. Mas você se enganou; tudo tem um limite e você ultrapassou todos eles!... Agora já tomei minha decisão e é irrevogável.
- Eu não vou deixar você ir.
- Muito bem, eu já esperava por isso, mas não vou sair daqui fugida, mesmo por que eu não preciso disso; e você não vai me impedir de viajar. Teria que mandar me matar como fez esta semana. Mas o aconselho de mandar me vigiar por que poderá se decepcionar.
- O que você quer dizer com isso?
- Nada. Por favor, não tente... Agora eu vou embora, vou levar o Migel ou o Genesio comigo.
Qualquer um serve, contanto que obedeça as minhas ordens, o que sei que o farão.
Dona Rosa realmente pôs em prática aquilo que decidira. Uma separação temporária, até que entrasse num acordo. Ela não estava mais disposta a sofrer vexames, nem maus tratos.
Discutiram violentamente; e ele estava disposto a impedi-la a qualquer custo de viajar, mas pensou no que Dona Rosa disse a respeito dos homens, não queria pôr a prova. Ele sabia que estava errado, e sabia também a adoração que os agregados tinha por ela, e não seria de bom grado no momento pôr a prova a obediência que os homens tinham por ele, e pensou: "Será que estes homens não vão me obedecer!". Então ele temeu que isso acontecesse, então deixou que Dona Rosa partisse, e ia sondar o que havia de verdade! Mas para o seu desapontamento, a esposa estava com a razão. Nenhum homem seria capaz de fazer mal a ela e se tivesse alguém, teria medo do que lhe aconteceria por parte dos demais que tinha por ela verdadeira veneração. Eles fariam qualquer coisa que ele mandasse menos contra Dona Rosa; a madrinha; a comadre; á bem feitora!
Licínio voltou no dia seguinte e o Genezio ficou com ela.
Josias perguntou ao seu homem de confiança, amigo e companheiro por que sua mulher tinha feito isso sem o seu consentimento. Foi quando ele ficou entendendo que as forças estavam divididas e pendia mais para ela...
Licinio disse: - Senhor Josias, quando a Dona Rosa chegou aqui o senhor nos disse que deveríamos obedecê-la, e eu nunca esqueci-me disso, e que deveríamos defendê-la com a própria vida se fosse necessário.
Portanto, senhor, conte comigo para qualquer coisa, desde que não desdiga aquilo que o senhor disse, então eu a defenderei com a minha própria vida se necessário for, foi o que o senhor nos ordenou!
Josias tremeu, e percebeu que só havia um jeito de dominar tudo. Seria dispensar todos aqueles que estivessem propensos a desobedecer as suas ordens, fosse elas quais fossem, mas teria que começar pêlos melhores homens que ele tinha, desde o mais velho até os mais novos, mas, mesmo estes aprenderam a gostar da Dona Rosa por que ela era uma mulher maravilhosa, se compadecia dos sofrimentos de todos na fazenda. Dos castigos que o Josias os aplicava. Ela sempre dava um jeitinho de ajudá-los fazendo com que Josias os perdoasse, o pelo menos aliviava um pouco.
As mulheres que moravam lá, quantas vezes ela as socorreu. Fazendo até serviços de doméstica coisa que ela não fazia na sua casa. Quando ela chegava numa casa de um empregado para visitar quando ficava sabendo que a mulher estava doente, ela ajudava limpara a casa, fazer uma sopa, levava a roupa para ser lavada, e ajudava em tudo o que podia. Então Dona Rosa era querida e admirada por todos.
Mas eu quero fazer aqui uma ressalva: O Josias era também uma ótima pessoa. O problema dele era apenas com a família, mas com os empregados e com as pessoas que precisavam, ele estava sempre pronto a ajudar. Seus empregados sempre bem pagos e recompensados. As casas que moravam era bem cuidadas, com certo confortos não pagavam nada. Eles tinham juntamente com a família acesso as rezas que havia na capela todos os dias.
A sua dispensa era sempre bem surtida de tudo para servir os empregados. Por isso nunca se viu falar que um empregado saiu da fazenda com raiva ou desgostoso dele.
Todos os vaqueiros tinham os seu gado marcado, e os vendia a0 Josias quando precisava de algum dinheiro extra. Ele pagava o preço justo, e não se importava se eles quisessem vender para outra pessoa. Os agregados tinham as suas roças, e vendia para ele a sobra da colheita, e como sempre pagava o preço justo. Nenhum empregado ficou sem os cuidados médico quando necessário. Em fim, Josias era considerado para muitos o "pai branco da casa grande" Era enérgico. Isto era! Ele exigia o trabalho de cada tostão quer pagava, mesmo por que ele trabalhava junto com eles, tanto na roça como no campo. Quem o visse trabalhando, não dizia que ele era o famoso major Josias, respeitado, temido e admirado por toda a redondeza, principalmente pêlos partidários políticos. Tinha um coração enorme que não cabia no peito.
Um dia apareceu por lá um figurão político, por nome Pedro Leoba, chefe de um partido político, fugido, e quando chegou á fazenda ele percebeu que estava no campo político adversário, mas o homem falou:- Major, eu preciso de abrigo político, eu sei que o senhor é de um partido contrário ao meu, mas eu estou nas suas mãos.
Ele abrigou o homem, no dia seguinte mandou arriar um bom burro, mandou preparar um alforje com o necessário para uma viagem, deu-lhe uma boa arma e disse-lhe: - Descanse homem, não tema nada, aqui nem amigo nem inimigo lhe fará mal. Amanhã bem sedo segue o seu destino!XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX