As Rosa Sofridas Cap.XIII

E tem aqui alguém que não me deixa mentir. Eu vou contar uma passagem dela, logo que eles se casaram, e voltaram da lua de mel. Ela não teve tempo de conhecer todos os agregados da fazenda por que era feito remanejamento de vaqueiros de uma fazenda para outra, então ela não conhecia a todos como disse: - Ela foi apresentada aos empregados e vaqueiros, mas tinha um que ela não ficou conhecendo por que não estava presente. Era um cabra muito feio, mal encarado e muito perigoso. Nós estávamos atravessando um gado para a ilha do boi, aquela que ele tem para invernada. Então um garrote ficou bravo, e o único jeito era abatê-lo a tiro antes que ele provocasse um estouro. Então o senhor Josias mandou este homem buscar um rifle. Quando ele deu o recado, ela entregou o rifle a ele, depois ficou pensando, e se lembrou de que não havia sido apresentado aquele homem. Ele poderia até matar o seu marido com a sua própria arma. Então ela arriou um cavalo, pois não tinha nenhum homem na fazenda, estavam todos na travessia do gado e outros nas roças. O homem já tinha mais ou menos uma dianteira de dez minutos. Mas quando ele chegou no local, ela já estava ao lado dele, e por sinal de revolver em punho.

Ninguém estava entendendo nada. Foi quando aos berros disse para o Josias: - "Você está ficando louco, mandar um desconhecido buscar uma arma?" Olha, graças a Deus eu não o alcancei na estrada, por que qualquer movimento em falso, eu lhe metia uma bala na cabeça. Como eu ia saber que este homem não tinha ido buscar uma arma para matá-lo?

Eu não o conheço. Não me foi apresentado.

Naquele momento todos ficaram petrificados. O senhor Josias embora conhecendo-a muito bem não acreditava no que estava vendo. Os vaqueiros olhavam-se entre eles como dizendo: Esta mulher é doida!" Nunca se viu falar uma coisa desta natureza. O próprio homem mudou de cor, apesar de toda valentia, rendeu-se diante da coragem desta mulher, franzina, com aparência de indefesa, mas capaz de enfrentar um homem, e com uma arma tão poderosa como é um rifle papo amarelo, e principalmente nas mão de quem sabe muito bem manejá-lo.

O senhor Josias mandou o Joaquim acompanhá-la até em casa, mas ela não quis. Voltou sozinha. Mas quando chegou em casa entregou-se as lágrimas, e ao desespero por que pensou ter feito um papel de boba na frente dos homens, não sabendo ela que tinha deixado todos perplexos inclusive o senhor Josias.

A tarde ao chegar em casa, foi informado do seu estado. Havia se trancado no quarto, e nem almoçou. Não quis falar nem com a sua dama de companhia, a Antonia, por mais que ela implorasse para falar com ela.

Foi difícil fazê-la entender que o que tinha feito não deveria repetir nunca mais, mas que aquilo que fez, qualquer mulher da sua estirpe teria feito, apenas correu o risco de ser morta por aquele homem, ou o ter matado; mas a convenceu de que estava tudo em ordem, e serviu de exemplo para todos, se ele faltasse por qualquer motivo. Todos a respeitaria, ninguém ousaria desafiá-la ou desobedecer as suas ordens. Aproveitando a oportunidade. Ele fez com que ela demonstrasse a sua habilidade com a arma. E nesse dia aconteceu uma coisa que surpreende a todos. Aquele homem depois de vê-la atirar, reconheceu que poderia ter confiança na sua pontaria e provar a sua coragem diante de todos, apanhou um ovo, e pegando apenas com as pontas dos dedos disse: "Senhora atira"!

Não, disse o senhor Josias energicamente. Mas Dona Rosa pegou a carabina, engatilhou com firmeza, apontou acionou o gatilho sem vacilação e segurança, que nem ele Josias teria feito, por que ele era reconhecido como o melhor atirador de toda redondeza de carabina e de revólver.

Ela sem demorar muito na pontaria, partiu o ovo pelo meio. Todos correram par ver a mão dele, mas não tinha acontecido nada. Depois ela pegou outro ovo segurou como ele havia feito, e disse: "Atira"! Josias ficou paralisado. O homem com aquela calma que lhe era peculiar, disse: Senhora, foi a primeira vez que confiei em alguém, e depois eu não acreditava que a senhora tivesse coragem de atirar e como também é a primeira vez que enjeito um desafio!

Então ela disse: Isso é para o senhor e para todos nunca duvidarem de mim. Ela jogou a arma para o Josias, e sem dizer uma palavra entrou. Ele a seguiu, e disse-lhe: O que você está querendo provar com isso? Não pensou que poderia ter inutilizado aquele homem, e perder a sua mão também se ele aceitasse o desafio e errasse?

Isso é para que ele saibam com quem está lidando.

O incidente terminou ali. Nunca mais se tocou no assunto.

Quando Josias viajava, apesar de ter o capataz, ela tomava conta da fazenda sem nenhum problema de disciplina.

Então ele continuou contando: Dona Rosa montava como poucos vaqueiros, nadavam como um peixe, remava muito bem, e tinha muita força e resistência. Atravessava o rio numa embarcação sozinha; e veja que o rio naquele lugar tinha mais de mil metros de largura e muita correnteza por causa dos recifes. Mesmo assim ela atravessava com perfeição e segurança. Nunca teve um acidente! E quando acompanhava o marido na travessia do gado para a ilha do boi, ela atravessava o rio pegado no rabo de seu cavalo. Até campear se fosse necessário. Entretanto se estivesse na cidade numa festa da corte, ou em chá beneficente, ninguém diriam que era a mesma pessoa. Por isso meu caro, nós temos problemas pela frente, e não é dos menores.

João, este homem que desafiou Dona rosa onde ele está?

- Vocês pensam que não é verdade, não é mesmo? Então pergunta para ele, o senhor Licínio!

- É verdade, tudo isso aconteceu, por isso temos um grande problema!

Ele achava que devia muito obrigação a ela por que na sua juventude era muito violento quando trabalhava para o seu pai e ela ajudou a sua mãe. Então Catarino um dos mais equilibrado falou para o Licínio: vamos mandar as mulheres e as crianças para o outro lado do rio, quando ele chegar aqui não á encontrará, e se evita muitos aborrecimentos. Então eles se esgueiraram por dentro dos fedegosos no fundo da casa que dava para o rio.

Dona Rosa remava muito bem. Colocou as crianças,duas empregadas e Delzita na embarcação e atravessou o rio para o outro lado antes que Josias chegasse.

O rio como já disse naquele ponto tinha mais de

um quilômetro de largura, mas para Dona Rosa aquilo era brincadeira atravessá-lo.

Não deixou que nenhum dos homens fosse com ela para não provocar suspeitas em Josias. Ele poderia procurar pelo que estava faltando, então as coisas se complicariam para ele e para todos.

Quando Josias chegou na casa de Licínio, retardado pelo Miguel e Joaquim para dar tempo que ela chegasse no outro lado do rio, ou pelo menos fora do alcance das vistas dele que foi chegando e perguntando em gritos se estava pagando a uma turma de moleirões que não serviam nem para encontrar umas mulheres, o que fará outra coisa. Licínio falou: - Senhor Josias nós não encontramos, mas se o senhor quiser, nós o acompanhamos, e o senhor mesmo comanda a caçada. Eu desconfio que ela tenha tomado o caminho dos Canudos. Foi á única região que não cobrimos por que é perigosa. Tem muito boi bravo, e vaca parida, e a patroa sabe disso, não arriscaria. Mas se o senhor quiser...

- Não, gritou ele, eu espero aqui.

- Mas senhor Josias, nós poderemos demorar!

- Está bem, eu espero lá em casa. Mas não voltem sem elas, berrou com todas as forças do pulmão.

Josias voltou para casa acompanhada pelo Miguel que estava morrendo de medo. Ele deitou na rede, e disse ao Miguel; não me deixe dormir, e quando eles chegarem com elas me chame.

Não demorou muito ele adormeceu. Catarino mandou dois homens buscar a patroa. Ele sabia que o patrão não acordaria logo, e quando acordava era com se nada houvesse acontecido. Depois deste dia, estes acontecimentos se repetiam com mais freqüência.

Dona Rosa teria que tomar uma decisão, do contrário poderia começar uma guerra sangrenta entre ela e ele, por que se ele tinha empregados que lhe eram fiéis, e eles diga-se de passagem, obedeciam e respeitavam, mas não apoiavam o que ele fazia com a patroa deles, por que ela era muito boa para eles. Madrinha de alguns, e para aquelas bandas, madrinha é como uma mãe. O respeito que tem por uma tem pela outra.

A ela sim, eles eram fiéis e gostavam dela e seriam capazes de defendê-la mesmo a bala se fosse preciso, contra qualquer um, mesmo contra o Josias. Bastava apenas ela dar uma ordem.

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Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 24/05/2013
Reeditado em 24/05/2013
Código do texto: T4307189
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