APRENDIZ DE "FARMACEIRO"
No livro Menino-Serelepe há uma narrativa intitulada Aprendiz de farmaceiro em que conto sobre o período em que fui aprendiz na farmácia Santo Antônio, em Aguinhas, onde trabalhavam meu pai (Dé) e meu tio (João). (1)
Eis alguns trechos em que descrevo a farmácia:
No livro Menino-Serelepe há uma narrativa intitulada Aprendiz de farmaceiro em que conto sobre o período em que fui aprendiz na farmácia Santo Antônio, em Aguinhas, onde trabalhavam meu pai (Dé) e meu tio (João). (1)
Eis alguns trechos em que descrevo a farmácia:
A farmácia se situava num prédio bastante velho, construído pelos irmãos Bacha, antigos mestres-de-obras, nos primórdios da urbanização do centro de Aguinhas, de largas portas de boa cepa, que se abriam em duas bandeiras, com quase três metros de altura, formando uma série de seis portas, sendo uma na esquina e as outras nas laterais. A velha construção era geminada à casa de dona Sara Bacha de um lado e com a loja de seu Elias Bacha de outro e, pelo meio, abria-se um imenso quintal. Por esse quintal se espalhavam os depósitos da farmácia, um desembocando no outro, em mais outro e mais outro, num total de três.
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Nesse tempo [anos 1960], o estabelecimento ostentava, ainda que envelhecidas, as instalações de sua fase áurea: armações pintadas de branco com enormes portas de vidro, armários com gaveteiros, balcões de madeira, de tampo e frente envidraçados, vitrines com perfumarias e artigos para presentes: joias, bijouterias, caixas com perfumes e sabonetes da Cashmere Bouquet, da Coty, da Casa Granado, da Angel Face, da Myrurgia, da Atkinsons, além dos conhecidos Araxá e Poços de Caldas. Encaixilhados em molduras também brancas, reclames do Biotônico Fontoura, da Cafiaspirina, do aparelho de barbear Gillette Monotech.
Internamente, no setor de manipulação, prateleiras forradas de potes de drogas (ácido acetilsalicílico, sal de Vichi, nitrato de prata, cânfora, ácido bórico, permanganato de potássio); de extratos (melissa, passiflora, quebra-pedra, sene, ruibarbo); de tinturas (jurubeba, valeriana, genciana, acônito, jaborandi), de substâncias outras (vaselina, talco medicinal, glicerina); e armários com materiais de embalagem: vidros, potes, latas, pequenas caixas de papelão decorado, rótulos. Uma grande mesa de tampo de mármore, cálices graduados, gral, pistilos, espátulas, pedra para preparar pomadas, piluleiro, instrumento para encapsular drogas, balanças, uma balancinha de precisão protegida por uma caixa de vidro, fogareiro e uma ferramenta, no formato de um jacaré, para amoldar rolhas, compunham o laboratório. Daqui saíam os xaropes, os unguentos, os digestivos, e mais o mercurocromo, a tintura de iodo, a pasta de Lassar, a pomada de beladona, a violeta genciana, o azul de metileno, a água boricada, o líquido de Dakin, a vaselina salicilada, as cápsulas de carbonato de cálcio, a magnésia fluida, o elixir paregórico, o soro perneta...
Em Os Curadores do Senhor, num pequeno trecho, faço também uma descrição da farmácia: (2)
[........] e passou a examinar atentamente as instalações antigas, pintadas de branco: altas prateleiras com medicamentos, balcões envidraçados com perfumarias, armários chaveados com joias, relógios e bijuterias, cartazes de propaganda, o relógio cuco, a balança Filizola.
A narrativa Aprendiz de farmaceiro eu a ofereci aos seguintes:
Para dona Beni, Milita, Ditinho, Nadir, Toninha, Horácio, Selma, Zaínha
e mais outros tantos companheiros da Farmácia Santo Antônio, que
suportaram as trampolinagens do aprendiz de farmaceiro.
Abaixo, algumas fotos da época:
Aqui, com 12 anos, eu já trabalhava no caixa da farmácia.
Ao meu lado, João Batista, meu primo.
Fonte: Lambari em Textos e Fotos
Selma (no caixa), tendo ao lado Marlene e Toninha.
Marialva e Milita Bacha, na porta da farmácia
Ditinho Mendes na bicleta da farmácia, na frente do estabelecimento.
(1) Esta narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
(2) Uma resenha do livro Os Curadores do Senhor, também de Antônio Lobo Guimarães, pode ser lida aqui:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=4268569