Adeus primavera
De uma maneira muito assustadora, era bonito.
Congelado onde estava, nem percebeu sua boca abrindo levemente e seus olhos arderem um pouco por causa do longo tempo aberto. Uma dor forte em todo seu corpo o fez drobrar para frente, “o que está acontecendo?”, sentia seu corpo em chamas, era essa a definição. Sob seus pés a terra começou a tremer e, alarmado, observou uma onda invisível estourar as janelas dos carros e prédios quarteirões a sua frente e vir em sua direção. Não conseguiu se mover, sabia que ia morrer, era essa a única certeza.
Outras pessoas em volta estavam da mesma forma, algumas jogadas no chão com dor e outras impressionadas com a visão ao fundo. Seu rosto assumiu uma expressão chorosa ao mesmo tempo em que a onda de ar o atingiu, rolando-o a meio quarteirão de distância. Sentiu uma dor ainda mais forte quando parou de rolar pelo asfalto graças a chocar-se com um carro. Tossiu sangue e mal conseguia puxar ar para os pulmões.Quase não lhe sobravam forças. Do jeito que estava, a posição que conseguiu assumir com menos esforço foi sentar-se com a cabeça apoiada no parachoque do carro. Respirava com dificuldade e a visão estava muito turva. As cores estavam estranhas, tudo parecia mais cinza. Via pessoas dolorosamente tentando se levantar e escapar, como mortos fugindo da morte.
Não conseguia pensar direito, então nem se esforçou muito. Com a cabeça apoiada no parachoque e já sabendo seu destino, soltou uma lágrima que escorreu pelas feridas agora bem nítidas em sua pele fazendo-a arder e, com dificuldade, pensou. “Que cogumelo bonito...”.
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