As rosas Sofridas Cap. XII
Sabia que Dona rosa estava bem, depois tinha umas coisas a fazer na fazenda. Como deveria ficar muitos dias ausente, queria deixar tudo em ordem!
Sabe esta explicação nem sei por que ele deu, porque ele nunca dava explicações dos seus atos.
É claro que ninguém pode afirmar que aconteceu naqueles dias, e se tivesse acontecido ninguém seria louco de falar alguma coisa. Dona Rosa também não perguntou nada, notou é claro que Delzita estava diferente, muito triste, mas isso acontecia todas as vezes que ela ia para a cidade, por que ela gostava de sair, passear com as moças da sua idade, mas Josias não deixava, e também as amigas que ela tinha, o que era poucas tinham inveja dela por que ela monopolizava todas as
atenções dos rapazes para si, e elas ficavam com ciúmes, é claro. E como Josias a proibia de sair, então ela preferia ficar na fazenda, ou no arraial que havia perto da fazenda, aonde eles tinham casa. Lá Delzita se sentia mais a vontade.
Mas a pergunta era: aconteceu ou não aconteceu naqueles dias? Não se sabe ao certo, mas acreditamos que sim, mesmo por que as coisas pioraram quando voltaram para a fazenda. Dona Rosa se preocupava muito com a saúde do menino. Tinha medo que acontecesse com esse, o que aconteceu com os outros. O médico da família foi
para a fazenda ficar mais uns dias acompanhando o desenvolvimento da criança, para certificar-se de que tudo estava em ordem, por que as crianças deles só morriam depois dos dois anos em diante! Mesmo assim não quiseram arriscar,
Só depois que o médico foi embora é que as coisas aconteceram na fazenda. Até então não havia brigas sérias entre eles, só por ocasião quando Antonia era sua dama de companhia, a qual foi despedida, pois ele desconfiava que ela controlava muito bem Dona Rosa, e ele não podia impor o seu império. Antonia não deixava que ela desse motivo para brigas. Josias estava perdendo terreno na conquista de ser o todo poderoso de São Roque. Antonia era muito importante para Dona Rosa, e ele sabendo disso tratou de afastá-la dela.
Foi um escândalo. Dona Rosa foi para a cidade, mesmo sem autorização dele, e ficou até que o marido revogasse sua decisão. Mas foi a própria Antonia que a convenceu de que seria melhor para ambas. Depois ela precisava mesmo voltar para Teresina, alegou que sua mãe estava muito velha, e ela pretendia ficar ao seu lado e continuar fazendo o que ela fazia preparar moças para serem damas de companhia, as quais ela tinha muitos pedidos, e já estava passada na idade para isso. Então Dona Rosa resolveu voltar para a fazenda depois de exigir que o marido prometesse que quando Antonia
quisesse voltar ele deixaria. É claro que ele concordou, ele sabia que Antonia não voltaria mais, ele daria um jeito para que isso não acontecesse.
Por uns tempos a vida do casal correu muito bem, não Havia brigas, ao contrário, Dona Rosa estava muito feliz, apesar dela não exigir muito. Estava muito preocupada com a perda dos filhos.
Todos os anos ela tinha um, e não sabiam por que não vingava, apesar de ser tomadas todas as precauções. Ela não tinha tempo para brigar.
Os exames que eles submeteram nada acusaram de anormal! Na verdade as coisas começaram desandar na vida do casal depois que esta moça veio para companhia deles. Cada dia as brigar eram mais violentas. Dona Rosa já estava acostumada com aquilo, e já as considerava rotina. Os filhos foram vindo um atrás do outro. ( Se não me engano foram dezesseis ao todo. Assim sendo ela ficava cada vez mais submissa e presa a própria circunstância. Ele começou a beber, e quando bebia um pouco mais ficava com um louco. As vezes até parecia que ele bebia de propósito para fazer as coisas e depois colocar a culpa na bebedeira. Quantas vezes Dona Rosa fugia com as crianças e criadas para o mato, com medo que ele fizesse algum mal a ela ou uma das criadas, até mesmo contra Delzita! Era uma verdadeira calamidade a bebedeira dele, Mas as vezes ele fingia que ia se matar entrando no alagadiço, e ficando lá correndo o risco de ser atacado por um jacaré ou uma sucuri. Uma vez ele pegou uma pneumonia que quase morreu de verdade. Ele ficou quase quatro horas no alagadiço abraçado a uma carnaubeira. Quando os filhos o encontrou.
E por milagre, pois ele estava escondido numa moita de capim ao pé da carnaubeira. Já não tinha mais os movimentos das pernas. Por pouco não morreu, como disse: foi por milagre, por que já estava ficando escuro, e ele não conseguiria sair de lá sozinho. Dona Rosa sabia que ele fazia isso era para se fazer de vítima ou com vergonha do que havia feito por motivo da bebida, e esta já o fazia um dependente, e não precisava ser muita bebida para transformá-lo num verdadeiro tirano. Duas dozes eram o bastante para deixá-lo assim.
Muitas vezes ele bebia, e quando Dona Rosa fugia, ele colocava os jagunços na porta, armados, para não deixar ninguém entrar nem sair, e com ordem para a tirar em quem quer que fosse que desobedecesse a sua ordem. Depois mandavam outros jagunços procurar Dona Rosa, os filhos e as empregadas com ordem para atirar e matar!
Sabe, era até impossível acreditar que coisa assim pudesse acontecer. Muitas coisas tinha-se conhecimento que acontecia por lá, mas isso fugia completamente da compreensão de qualquer pessoa. Mas uma coisa que não ficou esclarecido, se era verdade ou não, quando a bebedeira passava, ele desmentia tudo, dizia que não havia feito isso, não se lembrava de nada, pedia desculpas chorando e até prometia nunca mais beber para não ser acusado de algo tão hediondo... Mas o que não se compreendia era se ele achava um ato hediondo, por que então bebia? Ele passava muito tempo sem beber. Dona Rosa o controlava, mas tinha pena dele porque ele gostava de beber um aperitivo antes de tomar banho para almoçar quando vinha do trabalho. Muitas vezes ele ficava olhando para ela na hora do almoço.
Com aqueles olhos de criança pidona. Então ela pegava um pouco de cachaça e dava para ele, mas fazia isso quando ele já estava assentado a mesa para não dar mais tempo dele beber mais, por que ele não bebia depois de ter almoçado. Mas ela dava só um pouquinho, e ele brincava:
"Só este tiquinho?" Dizia fazendo bico de criança, mas Dona Rosa não o deixava beber mais. Muitas vezes ela não o controlava, e tudo acontecia novamente.
Eu chego a acreditar que ele não sabia mesmo o que fazia, por que realmente existem pessoas que perdem a razão ao se embriagar, e geralmente estas pessoas não bebem muito. Qualquer quantidade de álcool é o suficiente para alterar o metabolismo, e com isso muitas vezes torná-los inconscientes, e até perigosos!
- Eu não sei dizia o velho Venâncio; achava muito estranho!
Dona Rosa não acreditava que o marido não se lembrasse do que fazia pelo fato de que aquela bebida que ingeriu não era para deixá-lo louco como o deixou num sábado de Aleluia. Foi um horror. Durante a semana Santa ele não bebia nada, não brigava, não batia nas crianças, enfim, respeitava a semana santa. Mas no sábado de Aleluia, descontava tudo. Tinha o costume de colocar as crianças em fila, e batia em todos, até nos criados e criadas. Dizia que era para romper aleluia, por que a semana santa é sagrada, não fazia nada que fosse pecado... Que hipocrisia!... Será que não havia ninguém que rompesse aleluia com ele no pau também, perguntaram uma vez!(E vocês o que acham?)
Bem se era hipocrisia ou não, eu não sei; contudo ele era muito católico! Mas o fato de ser tão religioso, com0 procedia desta maneira?!
Nesse sábado de Aleluia ele bebeu.
Dona Rosa fugiu para a casa de um empregado. Ele mandou os jagunços procurá-la e matar a todos que estivesse com ela, se ele não obedecesse pagariam com a própria vida. A ordem era para não deixar ninguém vivo inclusive os filhos e a Delzita. Um jagunço procurou por toda parte. É claro que ele não ia obedecer tais ordens, não queria encontrá-los. Quando ele percebeu que os jagunços estavam enganando-o Chamou o Joaquim, João Bagunça e Tiago e disse-lhes: Vocês estão me enganando. Eu não acredito que vocês não consigam encontrar uma mulher com tantos filhos e empregadas! Se não os encontrar em meia hora eu vou atrás de vocês. Então a situação dos homens começou a complicar, embora eles gostassem muito da Dona Rosa, eles teriam que fazer alguma coisa.
Sabem isso até que ia dar uma briga muito feia, por que os empregados ali estavam divididos entre os homens de Josias e gente do pai da Dona Rosa. Criados do pai dela, que a viram nascer e a estimava muito. Tinha por ela uma grade admiração e respeito, por que não dizer, capazes de que na última hora serem contra o Josias, apesar de respeitá-lo muito. Quanto aos homens do Josias, que embora contratados por ele dispostos a fazer qualquer coisa que ele mandasse, tinha pela Dona Rosa muita admiração, e não era só isso, tinha medo que ela resolvesse pegar também num rifle, então a coisa ficava muito ruim. Eles costumavam dizer que preferia enfrentar meia dúzia de cabra valente de que ver a Dona Rosa com raiva! Então um deles o Marcolino, vaqueiro de respeito e destemido completou, e disse: Eu bem sei como essa mulher brava.
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