VISTES O MEU SERVO JÓ?
Bem acomodado, assentado em uma cadeira no eirado de sua casa; já no final da tarde, Jó observava ao longe os seus campos, os quais sumiam de vista; seu olhar era sereno e firme. Todos os seus rebanhos estavam nos pastos; e havia um grande número de servos que iam e vinham, trabalhando alegremente. Havia grata satisfação em seu coração; não por tudo o que possuía, mas porque tinha paz com Deus. Seus dez filhos haviam se reunido para almoçarem juntos, mantendo boa comunhão entre si, como tinham o costume de fazer. Eles haviam insistido com seu pai para que fosse também; mas ele preferiu não ir, assim os deixaria mais a vontade.
Ao seu lado, também assentado, estava um dos mais antigos servos de Jó. Eles conversavam.
___Gosto de ver os seus olhos, quando o senhor se assenta aqui, como faz muitas vezes, e fica admirando as coisas que tem. O senhor tem muito que agradecer a Deus, não é mesmo?
___Não, não é bem assim, meu caro; – Disse-lhe Jó, surpreendendo-o, – Eu gosto sim, de me assentar aqui; mas não é para admirar as coisas que tenho. Eu fico aqui em silêncio, pensativo, e peço ao meu Deus para que nunca, nada dessas coisas que possuo se interponham entre eu e Ele. Eu peço a Ele para que nunca o meu coração veja essas coisas como a minha maior riqueza. A minha maior riqueza é o meu Deus, depois é a minha família e a boa saúde que tenho para viver bem, cada um dos meus dias. Quando eu fico aqui, meditativo, eu estou preocupado também com as pessoas que trabalham comigo. Elas falam que querem ser iguais a mim, e isso me preocupa, porque quando eles falam isso, o que elas estão querendo, de fato? Ser iguais a mim em relação às coisas que tenho, ou em relação à minha vida, a maneira como vivo com Deus? O que você acha que é?
___Bem, meu senhor, eu acredito que eles se referem a um conjunto; é uma intenção só, como um todo; ou seja, eles querem as duas coisas!
___Mas não há duas coisas! Será você pode entender isso? As nossas vidas não podem estar divididas e nem mesmo se dedicar a dois valores. Se eles querem ser iguais a mim em relação às coisas que tenho; lamentavelmente, eles nunca serão ricos; porque a minha maior riqueza é o meu Deus a quem sirvo com retidão e dedicação. Se essa é a mensagem que tenho transmitido a eles, então estou transmitindo a mensagem errada!
___Eles entendem bem, assim como eu também. Eles sabem que o senhor ama a Deus e é tão fiel porque Deus deu ao senhor todas essas riquezas. Eles falam que também serão fiéis e íntegros com Deus, se Deus os abençoar assim! Por isso eles querem ser iguais ao senhor!
___Eu não acredito no que estou ouvindo; então vocês não entenderam nada mesmo! Eu não amo a Deus porque tenho essas coisas; nem tenho essas coisas porque amo a Deus. Eu amaria a Deus em qualquer situação; pobre ou rico, doente ou saudável. Há um recorrente e infantil conceito nos discursos das pessoas, as quais relacionam amor e dedicação como forma de retribuição àquele que lhes dá algo. E se Satanás lhes oferecesse fortuna, eles seriam fiéis a dedicados a ele também? A questão não é quanto temos, mas sim, quem nós somos; e qual é o propósito para o qual vivemos!
___É... eu acho que nós realmente confundimos um pouco as coisas! – Disse-lhe o servo meneando a cabeça, meio cabisbaixo. – Agora eu entendi o que o senhor está dizendo, e bendigo a Deus por ter um servo tão sábio quanto o senhor, para nos ensinar!
___Sim, meu amigo, a nossa relação de fidelidade e lealdade a Deus deve estar acima da possibilidade de que Ele nos dará saúde, riquezas e livramento. Jeová é Deus; e isso é absoluto. Nós somos servos e filhos de Deus. Ele nos ama e nós o amamos sem qualquer interesse em benefícios!
___Mas, imagine, meu senhor, mesmo que seja uma possibilidade bem remota; que Deus nos livre disso; – falou olhando para o alto como quem faz uma súplica. – Se Satanás tirar tudo o que o senhor tem, será que mesmo assim o senhor conseguirá manter-se... assim, desse jeito, tão fiel a Deus?
___Antes de pensar nisso; – disse Jó serenamente, sem qualquer presunção, – devo pensar que Satanás não tem poder em si mesmo para me tocar, ferindo-me ou tirando algo de mim, porque o Senhor Jeová é o meu Deus. Se isso acontecer, certamente é porque Deus o permitiu; e se Deus o permitir, Ele é o meu Senhor, Ele sempre sabe o que faz; por isso eu me submeto a Ele em quaisquer circunstâncias!
(Extraído do meu livro: Vistes o meu servo Jó?)