Chuva de pétalas de rosas

Chuva de Pétalas de rosas

Não entendia o porquê de não ter conseguido ainda um pretendente que a levasse a sério, conduzindo-a ao altar. Afinal, era bonita. Além dos belos atributos físicos, era dotada de um caráter exemplar – assim diziam. Gostava de cantar. Tinha uma bela voz. Fazia parte do grupo de louvor de sua igreja. Tinha sempre um sorriso na face e palavras agradáveis. Eram muitos os amigos. Derramava-se em simpatia. Andava sempre de forma elegantemente discreta. Percebia-se sua predileção pelo vermelho, mas nunca se soube porquê. Não era dada a exageros na maquiagem. Nem precisava. Então, por que não consigo um namoro sério? - Vivia a perguntar-se. Os poucos namorados que tivera, não demonstraram intenção de maiores compromissos. Tinha consigo o desejo de casar-se. Não pensava muito em filhos, embora não os descartasse. Um companheiro, sim, esse era essencial. A angústia só crescia. Os “anos dourados” se foram e agora os sóis e as luas se repetiam aceleradamente. Um desânimo, quase desespero, a abatia, ainda mais quando via muitas de suas amigas casando-se. Porém não desistia: “se há mulheres que nascem com vocação para casar-se, eu sou uma delas” – assim pensava. Mas também não iria entregar a sua pureza a qualquer um. “Onde estão os homens que querem algum compromisso?” – Vivia a se perguntar.

Um dia eis que suas preces foram atendidas e surgiu um pretendente disposto a satisfazer todos os seus anseios. Um homem maduro, sério, de caráter. Do namoro ao casamento foi um salto, alguns meses, com direito à lua de mel que tanto sonhara.

Assumiu a rotina de casada, dona de casa: marido, trabalho, igreja, amigos...

Repentinamente, surgiram algumas dores no estomago, que começaram a incomodar. “Deve ser uma gastrite” – dizia. Procurou um especialista, fez uma endoscopia, diagnosticaram um câncer no estomago. No primeiro momento, o choque, depois a rejeição. Não aceitou de maneira nenhuma o diagnóstico, mesmo quando se submeteu a uma cirurgia,na qual os médicos apenas abriram e fecharam o seu abdômen. Nada mais havia a ser feito.

Começou então um tratamento quimioterápico, com todas as suas consequências. Isolou-se completamente. “Onde estaria o riso da nossa amiga?” – indagavam os mais chegados. Não queria ver nem falar com ninguém. Não desejava que ninguém a visse como estava.

Porém havia nela uma ânsia grande de viver. Dizia que iria ficar curada. Que Deus a curaria, porque Ele não lhe teria dado um marido para viver com ele menos de dois anos.

A doença agravou-se. Quem chegou a vê-la não a reconheceu naquela face esquálida, desfigurada. Aquele corpo antes tão belo, agora reduzido a pele e osso. Partiu pouco tempo depois. Deixou um marido dedicado, amoroso, carinhoso, apaixonado – como sempre fazia questão de dizer. Um marido que a fizera feliz por algum tempo.

No seu sepultamento, muitos cânticos e uma chuva de pétalas de rosa. “Ainda nos encontraremos, cercados de anjos e arcanjos, com outros risos, e juntos entoaremos um canto de vitória” – diziam seus amigos em tom de despedida, enquanto as pétalas de rosa levadas pelo vento rodopiavam espalhando vida.