As Rosas Sofridas Cap. X

Está bem, será como você quiser apenas eu quero passar na fazenda. É como você disse: Precisamos conversar!

Mas uma vez ela percebeu que não deveria ter falado assim. Compreendeu o olhar da Antonia, mas não consertou. Encaminhou-se para o quarto sem dizer uma palavra. Antonia a seguiu. Dona Rosa pensou que ela fosse recriminá-la, mas não o fez. Limitou-se apenas a perguntar-lhe se tinha idéia do que pretendia levar para a viagem.

- Não, disse com indiferença.

- A senhora não está com vontade de fazer esta viagem, não é mesmo Dona Rosa?

- É verdade! Não vai haver viagem!

- Mas toda moça sonha com isso, e a senhora também sonhava! Por que não tenta reencontrar a felicidade nesta viagem? Se não foi feliz ontem, não quer dizer que não será mais. Eu a aconselho pensar melhor, e dar mais uma oportunidade ao seu marido que a ama tanto e a senhora também o ama. E juntos poderão conquistar esta felicidade que não está definitivamente perdida.

Não sei, tenho as minhas dúvidas.Eu tenho um misto de desilusão e medo. Quem me garante que ao voltar, Josias apossado da situação não será o mesmo de ontem? E aí estará tudo perdido. Pelo menos ainda não foi consumado o matrimônio, e é tempo de consertar este desastre.

- Dona Rosa, eu não acredito que a senhora esteja pensando mesmo neste absurdo. Uma mulher como a senhora não pode pensar mesmo numa coisa tão ...

- Mesquinha? É isso que você quer dizer?

- Desculpe-me senhora, mas no momento me esqueci da minha condição de empregada. É muito pequeno para uma Mariani.

Não Antonia, eu é quem deve pedir desculpas, mas você não sabe como eu me sinto. É como um boi indo para o matadouro. Com o ocorrido de ontem, como os meus nervos á flor da pele. Mas na realidade eu jamais faria uma coisa desta. Eu sei que devo render-me a força do destino, e tenho certeza Antonia que vou sofrer muito. Não sei se vou poder controlar a situação um dia. Mas o tempo se encarregará. Os filhos, mais um motivo que me levará com certeza a ficar quieta. Olha Antonia, você sabe por onde vai começar? Quando voltarmos da viagem, ele vai começar por despedi-la, por que ele sabe que eu terei a sua fidelidade, e isso é contra os planos dele; você verá. Agora vamos arrumar as malas. Eu não pretendo levar muita coisa, aonde iremos não será necessário levar muita roupa boa.

Aonde pretende passar a lua de mel?

- Não sei exatamente agora. Antes nós tínhamos programado ir a Teresina. Este foi o nosso primeiro plano, mas pelo que vejo tudo foi mudado. Mas logo o Josias estará aqui, então decidiremos. Não demorou muito Josias bateu na porreta. Dona Rosa mandou entrar. Ela ficou parada no meio do aposento. Percebeu que ele deu um sinal para Antonia sair e foi obedecido por ela imediatamente. Ao sair Antonia deu um sinal para ela como se dissesse; vai em frente. Fechou a porta e saiu. Dona Rosa continuou em pé. Sentiu o chão sumir embaixo dos seus pés. Naquele momento ela teve medo que ele a tocasse e fizesse algum carinho. Ela não iria suportar se ele o fizesse. Ela não estava preparada espiritualmente para isso.

Ainda estava muito machucada, ainda doía muito. Ia se lembrar dos acontecimentos do dia anterior, apesar de que queria esquecer, mas estava além das suas forças, porém, se não quisesse que seu casamento chegasse ao caos, teria que esquecer, ou pelo menos tentar dar mais uma oportunidade ao seu marido, pensava!...Estava os dois a um passo um do outro. Ela percebeu o seu embaraço e ela naturalmente também estava. Percebeu também que sua fisionomia estava diferente da do dia anterior. Era aquele que ela sempre conheceu e gostava... Aquele semblante adorável, aquela tranqüilidade no olha que inspira confiança. Por sinal, o que mais a impressionava nele desde o momento que o conheceu foi seus olhos!

No dia anterior algumas vezes que seus olhos se cruzavam, deu para ver que ele estava fazendo uma força enorme para manter aquela atitude, e quando por acaso ele era obrigado olhar para ela, notava-se perfeitamente a sua insegurança. Só depois de analisar agora a situação, ela se lembrava de alguns detalhes, e começava entender muita coisa. E agora estava um diante do outro sem saber o que fazer. Ela com medo que ele a tocasse. E por sua vez Josias perdeu toda aquela segurança do dia anterior, ou era impressão dela!... "Meu Deus como é difícil esta situação pensou Dona Rosa. Tenho medo de errar tentando compreende-lo. Não sei se é isso que ele quer, compreensão ou se apenas sua imaginação ou desejo que assim fosse, pensou ela! Ficaram mais ou menos cinco minutos sem dizer uma só palavra. Josias com aquele olhar patriarcal, disse: Precisamos resolver quanto a nossa viagem. Foi como; uma ducha de água fria caísse sobre ela. Na realidade tudo o que havia imaginado não passava de um desejo ardente , que ele não fosse o monstro do dia anterior. Naquele momento, não só a terra parecia faltar em baixo dos seus pés, mas sua cabeça rodava, rodava...Teve que se assentar na cama por que estava preste a cair e desmaiar. O calou subiu percorrendo-lhe todo o corpo. Uma sensação de desespero dominava todo o seu ser. Uma crise de choro estava preste a desabar. Sentia as lágrimas queimarem as retinas; e não queria que estas banhasse o seu rosto , fazendo aquilo que ela jamais deveria fazer, "Chorar"! Chorar, não! Isso era um prazer que ela não lhe daria, e muito menos dava a si própria esta humilhação. Pensou em sair correndo do quarto, cortar aquele diálogo que iniciara, e que na certa iria aborrecê-la consideravelmente . Pensou na Antonia, nos seus conselhos, em tudo o que havia combinado com ela, mas era impossível continuar ali. Pelo menos naquele momento. Ela não tinha condição psicológica para resolver uma coisa que seria definitiva para sua vida. Mas adiar seria impossível, teria que ser agora. Então ela resolveu por em prática o que Antonia a aconselhou. "Se possível seremos uns anjinhos obedientes”. Então ela tentou uma jogada apesar de que poderia ser-lhe prejudicial. Lembrou-se da sua mãe que sempre lhe dizia: “- Se não podemos com ele, juntamos a ele. A humildade sempre vence!”

Dona Rosa estava assentada na cama, então estendeu as mãos para ele. Josias pegou-as, e Dona Rosa puxou-o para si fazendo-o assentar perto dela, e tentou um diálogo. - Não sei o que você está pensando, se quer fazer mesmo esta viagem, ou é apenas para cumprir um costume, ou dar satisfação á sociedade.

Olha, se você não quiser ir, por mim, não faço nenhuma questão! É perfeitamente dispensável, mas se você deseja... O que é necessário é que haja sinceridade entre nós que vamos começar uma vida em comum. Enquanto ela falava, Josias olhava nos olhos dela que tentava esconder uma grande mágoa, mas a sua superioridade não deixava render as evidências dos fatos ocorridos. Então ele disse sem olhar nos seus olhos: " Vamos a Teresina", disse secamente...

Está bem, Josias, seja como você quiser. Vou mandar Antonia arrumar as mala. Quando pretende viajar?

- Amanhã se possível..

- Estarei pronta para viajarmos!

No dia seguinte antes de partirem para a lua de mel, Dona rosa chamou seu marido no quarto e depois de um breve silêncio, Perguntou: Josias, você me ama como antes? Olha, se você depois do casamento se arrependeu, não é obrigado, como eu também não sou abrigada; por conseguinte não somos obrigados a levar este casamento á frente. O matrimônio não foi consumado, então poderemos conseguir anulação, o que não podemos é arriscar a nossa felicidade por um capricho ou para dar satisfação á sociedade. O que aconteceu ontem aqui, eu nem quero uma explicação, deixo ao seu critério. Se um dia você quiser me contar, muito bem, mas se não quiser, eu não faço questão. Também se você quiser continuar só para não dar um escândalo, fique você sabendo de uma coisa; este escândalo ficará apenas adiado para um dia mais tarde, por que eu não vou suportar mais uma vez o que você fez no dia do nosso casamento. Por isso é bom que pensemos bem. Não será o dia de amanhã, casamento consumado que vou tolerar coisa desta maneira. Eu acredito que você sabe o amor que tenho por você, contudo nunca me deixarei escravizar. Eu sei que lhe devo obediência como esposa, mas nunca como uma serviçal,

Claro que ser for necessário, serei uma serviçal, por que não, mas acredito que, o que levamos de dote nunca será necessário, mas o futuro a Deus pertence! Por isso você deve pensar bem; podemos até adiar a nossa viagem, não importa se ficamos estes dois dias embaixo do mesmo teto. Não importa o que possam falar, mas o que importa mesmo e o nosso futuro que está em jogo. Por que se um dia você fizer comigo o que muitos homens fazem por aí, deixo-o, como estou resolvida a fazer agora. Eu o respeito muito, contudo não tenho medo de você, nem de nada.

Josias a olhava, e cada vez a admirava mais. Ouviu tudo sem dizer uma só palavra, e sem mexer um músculo!

Partiram como combinaram para a lua de mel. Depois disso não se soube mais nada por muito tempo.

Anos depois ficamos sabendo que Dona Rosa teve muita dificuldade nos primeiros partos. A primeira menina morreu com dois anos, depois um menino que morreu com cinco anos. Depois disso ela tinha um filho por ano. Mas os quatro primeiros morreram. O último dos quatro primeiros morreu com sete anos. Depois destes quatro ela teve mais doze, e só sete sobreviveram. O último que morreu foi o caçula, esse morreu nos seus braços quando ia levando-o de embarcação para o médico na cidade! Talvez tenha sido isso o grande motivo do desgaste do casamento deles.

Um fato também veio acrescentar na vida deles uma grade desgraça. Com a morte da mãe, foi-lhe entregue a tutela de uma irmã. Nesta época ela tinha mais ou menos quatorze anos. Isso para Dona Rosa foi muito bom por que ela havia perdido uma criança, e estava muito desolada, e com a chegada da irmã, veio dar um pouco de alegria a ela. Mas o que ela não sabia que a partir daquele momento uma nova desgraça ameaçava a sua vida, e ia torná-la infeliz.

Eu não gosto de falar muito nessa parte por que eu

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 20/05/2013
Reeditado em 21/05/2013
Código do texto: T4299784
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