A estranha

   Passei a ir assiduamente aquela praça e logo observei a presença de uma estranha, conhecia todos ali, menos ela, mas tinha algo que me chamava atenção naquela criatura, seus olhos não tinham brilho e seus cabelos não formavam um penteado definido.
ficava horas sentada no mesmo banco, vez ou outra remexia-se, passava as mãos pelos cabelos em desalinho, mas a expressão era sempre a mesma, parecia que algum artista estava a desenhar a silhueta pedindo que ficasse quieta a fim de não alterar a fidelidade da obra.
   Na mesma hora, ia embora a passos largos, distanciava-se, não olhava para atrás, não sabia o que ela ia buscar ali, só sabia que era o lugar no qual sempre a encontrava.
Eu a observava com interesse, tentei aproximar-me, nunca obtive êxito esperado ao iniciar uma conversação. Aquela mulher me intrigava, tinha algo nela que me despertava interesse, um dia tomei coragem e sentei no mesmo banco. Ela não esboçou nenhuma reação parecia me ignorar, assim como ignorava todos aqueles que ali estavam. Respirei fundo, tossi de leve e ela não se moveu, então resolvi resmungar algo, fiz um breve comentário.
_ Parece que vai chover, não?
A resposta foi o silêncio.
   Assim continuamos por vários dias. cheguei a pensar que fosse surda, resolvi deixa-la, mas não o fiz por muito tempo, pensei em segui-la mas desisti da ideia. No entanto, aquele semblante triste conturbava meus pensamentos, nunca vira nada igual.
continuei a conversar com ela mesmo sem obter resposta. Algumas vezes ela me olhava demoradamente, nada respondia, me sentia constrangido, parecia que no fundo dos seus olhos ecoava um grito de desespero que eu não conseguia compreender.
   Dias, meses sucederam-se, a última vez que a vi ela esboçara um sorriso acanhado, meu coração se alegrou, uma luz no fim do túnel, Pensei aliviado: "Aquela mulher que parecia uma estátua de gelo denotava um átomo de sensibilidade".
  Um dia porém, dia que jamais esquecerei, de longe avistei uma multidão que se aglomerava próximo aquele banco da praça e quando me aproximei, a mulher lá estava não mais sentada, agora deitada, seu corpo jazia sem vida, em suas mãos alvas, geladas, como a neve havia um bilhete que ela segurava, arranquei-o com certa dificuldade e qual não foi a surpresa, no papel amarelado letras trêmulas diziam o seguinte:
                           A meu amigo da praça.
Agradeço-lhe pela companhia das tardes de inverno da minha vida, desculpe-me o silêncio, o meu coração sangrava, minha alma se contorcia pela dor do desespero, Meus filhos... Os perdi para sempre,
cerro os meus olhos na desventura de não vê-los novamente.
                                  ADEUS!

Não contive a emoção abracei e chorei compulsivamente, banhei seu rosto com minhas lágrimas e todos ali silenciaram, pareciam compartilhar comigo daquele momento de dor. Vim saber posteriormente que ela era sozinha, havia perdido seus filhos num grave acidente.
   Cuidei de dar-lhe um enterro digno, já que não surgiu nenhum parente, vez ou outra vou a praça onde a conheci e no mesmo banco permaneço por horas seguidas até que sinto sua presença, o cheiro de rosas no ar, lembra seu perfume e por um momento tenho a impressão que ela me sorri docemente.

Polly Hundson