Destino dos anjos
Correram os anos da infância correram, a jovem Aurora agora em beleza tinha dos campos floridos, a inocência dos brancos lírios , pele de lua, transparência recato. Vivia na pequena vila de um povoado; criatura angelical a representação de um anjo, filha da lua como a chamavam, de uma tristura de igual beleza, em face revelava.
Cada dia mais frágil, a pobre criatura, quando na infância ,com outras crianças não pode brincar, não soubera o que era correr pelos campos, tomar banho de chuva, sempre carecia de cuidados, na juventude então! Mais cuidado ainda diante do quadro em que descaia a enferma, dia a dia, mais parecia uma estatua branca feito cera, a pobre vivia no mais profundo sofrimento, entre a vida e a morte, onde a morte lhe seria misericórdia.
”Ai! quanto tempo mais ! Oro –te ó anjos, mas não me escutas, oro te ó santos, não me entendes, deixo-te ó vida aos apelos do vento, toque-me a face, o corpo, sede refrigério , sede ao menos vento, vento alento nestas horas tão difíceis em que iludo-me,a sentir que me levas, que me levas”. Suspiros, e o que mais lhe caberia? Tempo, tempo, a misericórdia esta no tempo.
E em leito de morte muitos a visitavam, dentre tantos um jovem que a admirava na timidez do inocente, candura dos anjos, por ela enamorado na solidão do anonimato, apenas lhe sonhava. Naquele instante era doce o momento, beleza e ternura, trocavam poesia.
"Ó bela menina, por que tanta tristeza em formosura? Permita-me colher-te os espinhos d' alma, à minha Ó doce criatura!"
"Quão belas palavras, quando alma revela o coração, bem me faz moço; mas já cuida de minhas feridas, já neste momento há de por fim tanto sofrimento, este de nascimento."
"Mas o que deveras te mata, se és tão jovem, e encantas”?
Uma lágrima escorre-lhe da face, “ mais que palavras”, disse ao jovem:” o cerne da alma revelado, vem de dentro, silencia no olhar, como a ternura das flores, a delicadeza das pétalas, bem simples, tão simples, como este momento, cabe a ternura sem nada dizer, porque sentimos.
Aquela tristeza era só o que entendia o jovem naquele olhar, desfalecendo com a luz do luar; não suportando mais, revela-lhe o que a muito sentia, um amor além do tempo, escrito na raiz da eternidade "Bem o sei que não sou digno de tal beleza, nem de teu olhar, nem sonho que me queiras, mas saiba, a muito te amo no meu silêncio e a amarei por toda existência, basta-me a luz de tua presença em que me comprazo”.
"Ó moço de olhos distantes, mais doces que tuas palavras, o teu coração, pudesse antes ter sabido tal sentimento, teria abreviado tal sofrimento, abreviar-me-ia esta tristeza; mas tu não compreendes estas palavras, pudesse eu dizer-te o quão te esperei ,ai!Se tu soubesses! Foram tantas as primaveras, minhas por certo que flores não desabrocharam , mais outonos, invernos me serviram esta meia vida que vês, veja, agora me libertas da maldição;Ai! Que sinto um alivio neste vento bom, perfumoso de rosas com alfazemas e jasmins, tem um frescor de brisa das manhãs, sinto-me sem as correntes, esvazio-me de mim, de tudo, sinto paz, como nunca sentira, descanso minha...” Antes que terminasse a frase desfalece, sem vida, nos braços do jovem em sono eterno a beleza. “Mas por que”? Não entendo do que falas, que passa? Uma senhora se aproxima e em tom melancólico diz: “Você quebrou-lhe a maldição, a jovem tinha uma ferida no coração, a qual padecia desde criança; dores, sofrimento; e apenas um amor puro, revelado, ganharia a absolvição, e voltaria a viver com os anjos”. Desde então conta-se a a história, que o jovem, a partir daquela hora, tornou-se a sombra da mais escura noite, entre o céu e a terra, um anjo ferido, o que chamam, de trevas.
Abril de 1998.
O primeiro escrito,
matéria de educação artística
Para uma peça do colégio.