O TREM DE AGUINHAS
Ilustração: Antiga estação ferroviária de Águas Virtuosas de Lambary, construída nos anos 1920
Apresentação
Desde o final do Século XIX, nossa cidade estava ligada por via férrea às principais cidades do País: Rio de Janeiro (então Capital da República), Belo Horizonte (Capital do Estado) e São Paulo (principal cidade do País).
De fato, inaugurada em 1894 e extinta em 1966, durante longos anos Águas Virtuosas de Lambary foi servida por linha férrea, cuja história procuramos resgatar com esta Série O TREM DE AGUINHAS.
Abrimos a série com a crônica O trem de Aguinhas, que narra a primeira viagem de trem do autor destas páginas eletrônicas, então um menino de sete anos.
Confira:
Viagem visual do trem de Aguinhas
Agora siga visualmente o que foi narrado no conto acima:
A estação de Olímpio Noronha (*)
A composição avançando.. (**)
Ilustração: Antiga estação ferroviária de Águas Virtuosas de Lambary, construída nos anos 1920
- Apresentação
- O trem de Aguinhas
- Viagem visual do trem de Aguinhas
- Veja também estes links
- Índice da Série
- Para matar a saudade da Maria Fumaça
- O trem de Aguinhas
- Viagem visual do trem de Aguinhas
- Veja também estes links
- Índice da Série
- Para matar a saudade da Maria Fumaça
Apresentação
Desde o final do Século XIX, nossa cidade estava ligada por via férrea às principais cidades do País: Rio de Janeiro (então Capital da República), Belo Horizonte (Capital do Estado) e São Paulo (principal cidade do País).
De fato, inaugurada em 1894 e extinta em 1966, durante longos anos Águas Virtuosas de Lambary foi servida por linha férrea, cuja história procuramos resgatar com esta Série O TREM DE AGUINHAS.
Abrimos a série com a crônica O trem de Aguinhas, que narra a primeira viagem de trem do autor destas páginas eletrônicas, então um menino de sete anos.
Confira:
Imagem. Menino esperando o trem. Fonte: Copilot/Microsoft
Enfrascado numa calça-curta nova, sobraçando uma malinha de papelão, na velha Estação Férrea, inaugurada em 1896, eu olhava, olhava, escutava, punha sentido e nada do trem chegar.
— Será se o trem num vem hoje, mãe? — Vem, menino, calma que já ele chega. “Será se logo na minha vêis trem num vem?” fiquei matutando, cheio de ansiedade.
Mas o trem veio, e nós embarcamos, e tudo pra mim era novidade. Os assentos de madeira, os funcionários uniformizados, uma gentarada que entrava e outra que saía. E eu mudando de banco a toda hora, me pendurando na janela.
— Guima, cuidado! tira a mão daí, vem sentar, trem vai sair! gritou a mãe, que eu num santiámen já ‘tava lá curioso, agachado e inspecionando os engates do trem.
Mas trem demorou a sair: primeiro bebeu água, em seguida, comeu coque, descansou um tanto... E, dali mais um pouco, o chefe da estação trilou o apito e a máquina começou a esguichar água quente e soltar fumaça, trilho rangeu, trem restrugiu — e lentamente começou a se arrastar. Um minuto depois, rodas rilhando, barulhão de ferro no trilho, trem foi enfreando, reduzindo velocidade, parou.
— Trem estragou, mãe? — Não, menino, é que vai pegar gente na Paradinha Melo. Trem seguiu, contornou o lago de Aguinhas e eu encantado: “Nunca vi o lago desse jeito, como é lindo”... “Mãe, olha a Ilha dos Amores.” — Que pedreira é essa, mãe, perguntei mais à frente. Não é pedreira, é o Corte de Pedra. “Que beleza, nunca tinha visto uma pedreira assim”.
Dali a pouco, outra parada: Jesuânia. Parada de novo: Olímpio Noronha. Mais uma vez: Km 15 – Criminosos.
— Que é Criminosos, mãe? — É o nome da parada, lugar onde mataram muitas gentes. — Que gentes? Quem matô? — Não sei direito, depois ocê pergunta pro pai.
Mais parada: Km 10 – Lagoa. Outra vez: Freitas. — Senhores Passageiros: Vamos descer, por favor, baldeação.
— Que é baldeação mãe? – Aqui a gente vai trocar de trem. — Pra que isso? Eu tô gostando bem deste aqui mesmo. — Tem que trocar, menino, este vai para outro lugar. Um agente ferroviário a picotar os bilhetes e o trem seguindo e parando: Raul Chaves, Soledade, São Sebastião do Rio Verde, São Lourenço, Itanhandu.
Então, tio falou que ficássemos atentos, que a viagem ia se tornar cada vez mais bonita, e eu morrendo de curiosidade, porque o tio Tião ia explicando pras crianças sobre a serra, sobre o túnel, sobre a altura, sobre os pontilhões.
— Mas trem sobe morro, tio? — Sobe, sobe. Bufando, mas sobe. Mas precisa de ajuda. Aí vem outra máquina, mais nova, máquina a óleo, pra ajudar na subida da composição. E eu mais os primos só imaginando como tudo aquilo seria. E aí o trem — meio ofegante — rumou pra Mantiqueira, serpenteando, arquejando, em direitura a Pé do Morro, Manacá, Coronel Fulgêncio (homenagem a um militar morto na Revolução de 32, tio falou.
— Que é revolução, tio? Tio respondeu.
— É 32 porque dava tiro que nem a 32 do pai?
Tio riu de mim, mas explicou resignado: — Não, meu filho, porque aconteceu no ano de 1932...)
E mais: Rufino de Almeida, Passo Quatro. Na entrada do túnel, fecharam-se as janelas e portas modo de impedir a entrada de fagulhas, visto que a locomotiva caga-brasas naquele passo soltava mais fagulhas do que fumaça. Na divisa, tio adiantou:
— Aqui, a gente muda de Estado.
— Que é Estado, tio? perguntei. Mais um pouco e chegamos a Cruzeiro — Senhores Passageiros: Vamos descer, por favor, baldeação.
— De novo, mãe, agora que já ia gostando desse trem, que ele sobe até serra?! Que viagem inesquecível!
— Será se o trem num vem hoje, mãe? — Vem, menino, calma que já ele chega. “Será se logo na minha vêis trem num vem?” fiquei matutando, cheio de ansiedade.
Mas o trem veio, e nós embarcamos, e tudo pra mim era novidade. Os assentos de madeira, os funcionários uniformizados, uma gentarada que entrava e outra que saía. E eu mudando de banco a toda hora, me pendurando na janela.
— Guima, cuidado! tira a mão daí, vem sentar, trem vai sair! gritou a mãe, que eu num santiámen já ‘tava lá curioso, agachado e inspecionando os engates do trem.
Mas trem demorou a sair: primeiro bebeu água, em seguida, comeu coque, descansou um tanto... E, dali mais um pouco, o chefe da estação trilou o apito e a máquina começou a esguichar água quente e soltar fumaça, trilho rangeu, trem restrugiu — e lentamente começou a se arrastar. Um minuto depois, rodas rilhando, barulhão de ferro no trilho, trem foi enfreando, reduzindo velocidade, parou.
— Trem estragou, mãe? — Não, menino, é que vai pegar gente na Paradinha Melo. Trem seguiu, contornou o lago de Aguinhas e eu encantado: “Nunca vi o lago desse jeito, como é lindo”... “Mãe, olha a Ilha dos Amores.” — Que pedreira é essa, mãe, perguntei mais à frente. Não é pedreira, é o Corte de Pedra. “Que beleza, nunca tinha visto uma pedreira assim”.
Dali a pouco, outra parada: Jesuânia. Parada de novo: Olímpio Noronha. Mais uma vez: Km 15 – Criminosos.
— Que é Criminosos, mãe? — É o nome da parada, lugar onde mataram muitas gentes. — Que gentes? Quem matô? — Não sei direito, depois ocê pergunta pro pai.
Mais parada: Km 10 – Lagoa. Outra vez: Freitas. — Senhores Passageiros: Vamos descer, por favor, baldeação.
— Que é baldeação mãe? – Aqui a gente vai trocar de trem. — Pra que isso? Eu tô gostando bem deste aqui mesmo. — Tem que trocar, menino, este vai para outro lugar. Um agente ferroviário a picotar os bilhetes e o trem seguindo e parando: Raul Chaves, Soledade, São Sebastião do Rio Verde, São Lourenço, Itanhandu.
Então, tio falou que ficássemos atentos, que a viagem ia se tornar cada vez mais bonita, e eu morrendo de curiosidade, porque o tio Tião ia explicando pras crianças sobre a serra, sobre o túnel, sobre a altura, sobre os pontilhões.
— Mas trem sobe morro, tio? — Sobe, sobe. Bufando, mas sobe. Mas precisa de ajuda. Aí vem outra máquina, mais nova, máquina a óleo, pra ajudar na subida da composição. E eu mais os primos só imaginando como tudo aquilo seria. E aí o trem — meio ofegante — rumou pra Mantiqueira, serpenteando, arquejando, em direitura a Pé do Morro, Manacá, Coronel Fulgêncio (homenagem a um militar morto na Revolução de 32, tio falou.
— Que é revolução, tio? Tio respondeu.
— É 32 porque dava tiro que nem a 32 do pai?
Tio riu de mim, mas explicou resignado: — Não, meu filho, porque aconteceu no ano de 1932...)
E mais: Rufino de Almeida, Passo Quatro. Na entrada do túnel, fecharam-se as janelas e portas modo de impedir a entrada de fagulhas, visto que a locomotiva caga-brasas naquele passo soltava mais fagulhas do que fumaça. Na divisa, tio adiantou:
— Aqui, a gente muda de Estado.
— Que é Estado, tio? perguntei. Mais um pouco e chegamos a Cruzeiro — Senhores Passageiros: Vamos descer, por favor, baldeação.
— De novo, mãe, agora que já ia gostando desse trem, que ele sobe até serra?! Que viagem inesquecível!
Viagem visual do trem de Aguinhas
Agora siga visualmente o que foi narrado no conto acima:
A Estação de Aguinhas, o pátio da estação, a Parada Melo, a linha do trem contornando o lago...
Estação de trem em Aguinhas
Pátio da estação
Parada Melo - ficava a 1 km da estação principal
O trem da R.M.V. passando pela Parada Melo - anos 1960
O trem da R.M.V. passando pela Parada Melo - anos 1960
Antigo leito da ferrovia contornando o lago de Lambari
A estação de Olímpio Noronha (*)
A composição avançando.. (**)
Trem restaurante com destino a Águas Virtuosas, numa parada em Passa Quatro (1906)
Veja mais fotos de trechos dessa viagem (Coronel Fulgêncio, Cruzeiro, Passa Quatro), neste link:
http://www.estacoesferroviarias.com.br/rmv_cruz_jureia/rmv_cruzeiro_jurea.htm
Veja também estes links
http://www.estacoesferroviarias.com.br/rmv_cruz_jureia/rmv_cruzeiro_jurea.htm
Veja também estes links
Índice da Série
- Parada Mello - aqui
- Revitalização da Parada Mello - aqui
- A Paradinha Mello e suas muitas histórias - aqui
- Apeadeiro Mello - aqui
- Traquinagens na linha do trem - aqui
- Estrada de ferro - aqui
- Viagens de Trem - aqui
- As Estações Ferroviárias de Águas Virtuosas - aqui
- A Estação Férrea ao lado do Cassino - aqui
- A Estação de Nova Baden - aqui
- A Estação Ferroviária de Águas Virtuosas - aqui
- Saudades do trem - aqui
- Olha o trem! - aqui
- Pequena história da PARADINHA MELLO - aqui
- Hermes da Fonseca - Presidente e sua comitiva embarcam para Águas Virtuosas de Lambary - aqui
- INAUGURAÇÃO DAS OBRAS DE WERNECK - 1 - Chegada das autoridades na Parada Mello - aqui
(*) A estação de Olímpio Noronha - Fonte: olimpionoronha.blogspot.com.br
(**) Composição da RFFSA/Oeste - Fonte: minasstrains.blogspot.com.br
(***) Esta narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
(**) Composição da RFFSA/Oeste - Fonte: minasstrains.blogspot.com.br
(***) Esta narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.