Uma manhã

Jamais ficara tão atormentado. Os olhos cerravam-se, as pálpebras inquietas esperando que a alma que as tinha detivesse suas sensações. Aquela manhã teria sido seu aniversário, não fossem sua memória e sua consciência d’alma suas maiores traidoras. Recordo-me de que ele me dissera ter espécie de qualquer paixão por loucura. Nunca tive uma resposta. Aquele passeio, na verdade uma experiência se assim posso chamá-la, nos arredores da cidade teve algo de cirúrgico que mesmo meus velhos olhos não foram ainda capazes de captar. Olho nos olhos dele hoje e é só com o que ele me retribui. Não diz palavra dita, não se confessa às cinzas, nem faz coisa. Guardo minhas teorias se ele está mesmo vivo. Tenho a impressão (certeza?) de tê-lo deixado em meio àquelas paredes quebradas, borradas de branco na paisagem invisível e dolorosa.

HST, 13 de março de 1943.

Ainda naquela manhã, quando pass(e)ávamos no pátio do local, vimos alguns jovens rapazes tratando da reforma-ampliação daquela casa. Uma menina mesmo perambulava cautelosa, tanto bem jovial ao que pude – não mais ambos – perceber fitava curiosa o trabalho dos homens, como quem vem vê-los todos os dias. Pouco se importava com nossa presença, mesmo que só eu a estivesse observando. Outro estava admirado, quanto perito visitando os quartos que preferi não ver.

Acho pouco que as próximas cenas sejam descritas ou ditas. O que houve se resume aqui, num caderno que a menina deixou em minhas mãos enquanto partíamos. Uma parte de uma folha dizia:

“substantivo masculino

1 estabelecimento próprio para internação e tratamento de doentes ou de feridos

adjetivo de dois gêneros

Diacronismo: obsoleto.

2 que age com hospitalidade, com benevolência; caridoso

substantivo masculino

1 estabelecimento onde se dá hospedagem e/ou tratamento gratuitos a pessoas pobres ou doentes; asilo, abrigo

2 asilo de loucos; hospital de alienados; manicômio

3 lugar que oferece abrigo e tratamento a animais abandonados

4 Derivação: sentido figurado.

ato de dar acolhida, de proteger; acolhimento, abrigo, proteção.”

Paulo Ricardo Pacheco
Enviado por Paulo Ricardo Pacheco em 05/05/2013
Reeditado em 06/05/2013
Código do texto: T4275559
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