As rosas Sofridas VIII

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- Mas não é isso que desejo, eu quero uma amiga e não uma criada obediente que seja capaz de tudo pela patroa. Criadas as teremos quantas quisermos. Pagamos bem e as teremos, mas amigas não se compra, não se acha, nem mesmo se conquista. Uma verdadeira amiga ou amiga é uma dádiva de Deus, quando nós faremos por merecer. E eu acredito que fui agraciada por este Deus que foi generoso comigo, por que sei que ganhei uma amiga, que posso confiar inteiramente em você.

- Dona Rosa a senhora me encabula, eu não tenho a pretensão de ser sua amiga, mas uma pessoa de sua inteira confiança. Mas se a senhora quiser mesmo a minha amizade modesta, eu juro diante de Deus que a terá, até mesmo com o sacrifício da minha própria vida, se isso for necessário.

Naquele momento Dona Rosa não estava mais jogando, não era mais uma cartada, era uma súplica de socorro.

Ela precisava mesmo de uma amiga, de alguém com que pudesse contar.

Sentiu-se mais segura. Agora poderia enfrentar o Josias já não estava tão desamparada como se sentia no dia anterior.

O tempo passava e elas nem percebiam que estavam atrapalhando os serviços da casa. Dona Rosa se levantou e dirigiu para o quintal. Antonio a acompanhou. Andaram em silêncio, não se atrevia perturbar aquele momento de contemplação. Percebeu isso quando pararam embaixo de um juazeiro que estava a uns duzentos metros da casa, e lá havia um pequeno curral aonde era separado os bezerros das vacas que eram destinadas para ser tirado o leite para o gasto da casa.

Dona Rosa ficou olhando aqueles bezerros, mas Antonia estava sabendo que ela não estava vendo nada, seu pensamento estava muito longe, mas não a perturbou; ficou ao seu lado calada. Mas como se voltasse de uma grande viagem, depois de um profundo suspiro, perguntou Antonia por que ela fez aquele juramento que por certo não poderia cumprir. Ela fez aquela pergunta talvez para se certificar do que ouvira, que era importante para ela ouvir novamente, por que lhe parecia um sonho, depois de tantos aborrecimentos e decepções, o medo, em fim tudo. "Meu Deus como é bom, comentou!" Calma Dona Rosa, não se agite tanto. Permita-lhe dar-lhe um conselho: - Se a senhora deseja enfrentar o seu marido em igualdade de condição, é necessário que mantenha a calma, mesmo que para isso lhe custe muito, não pense enfrentá-lo; Isso não.

Não se esqueça de que ele é seu marido, e como tal, o senhor! Nós mulheres nunca deveremos esquecermos disso. Mas disso também faremos a nossa arma. Vamos obedecê-lo; tentaremos ser as pessoas mais submissas. Uns anjinhos se necessário for.

- Antonia, eu não vou conseguir, é contra os meus princípios, Sabe, eu pretendia voltar hoje mesmo para casa dos meus pais, s só sairia de lá, quando Josias fosse me buscar e sobre juramento que nunca mais procederia daquela maneira. Não se esqueça de que ele me fez de criada no dia do meu casamento. Nem mesmo a uma criada se trata assim. Colocou até a minha vida em perigo. Por isso Antonia, eu não sei o que fazer se encontrarei forças para resistir tal humilhação, apesar de ter você agora comigo...

Por favor, Antonia, diga o que tenho que fazer. O que você faria no meu lugar.

Pedia o divórcio, e depois mandava esfolá-lo vivo... Dona Rosa, desculpe a brincadeira, mas a senhora deverá é por em prática o seu plano, com calma e humildade... A senhora me perguntou por que eu fiz aquele juramento. Eu já lhe disse que devo a senhora, somente a senhora um respeito especial. Por que sou livre para deixar o emprego se não for obedecido os costumes e normas de ambas as partes. Não sou obrigada a fazer o que estiver fora do contrato. Tenho dever, sim, e até obediência até certo ponto. Eu sou uma empregada e não uma escrava. Quando falo assim, não quero dizer que não devo respeito ao senhor Josias, não é isso; apenas lhe devo respeito como meu patrão, ao contrário do respeito que devo a senhora com fidelidade e sacrifício da própria vida. Foi assim que fui preparada, e é assim que devo ser.

se a senhora deseja a minha amizade, aumenta ainda mais a minha responsabilidade e dedicação.

- Minha querida, eu já lhe disse, eu a quero como uma amiga.

Está bem, Dona Rosa, mas eu preciso saber se a senhora vai confiar em mim, não quero ser modesta por que estaria sendo hipócrita, e é o que não sei ser. Por isso gostaria que confiasse inteiramente, não só para os seus serviços, mas para ajudá-la nos seus problemas particulares. Eu sei que está perdida, não consegue coordenar as idéias. Á poucos minutos me pediu para ajudá-la enfrentar o seu marido, agora está em dúvida se fica ou se volta para casa dos seus pais. A senhora quer a minha opinião sincera? Seria a última atitude. Pense no escândalo! E depois onde está aquela fibra e orgulho dos Mariani? O que iriam dizer os seus parentes? As mulheres da sua família? Por que pelo que sei, a senhora seria a primeira. Todas as mulheres da sua família foram sempre respeitadas e admiradas pela fibra que tem. Pôr favor Dona Rosa, vamos nos assentar aqui, e conte-me tudo o que tem em mente. Se a senhora vai confiar em mim, é necessário que não me esconda nada.

Está bem Antonia, vou lhe contar tudo desde o momento em que nos conhecemos e nos apaixonamos perdidamente. Muito embora a mãe do Josias não via com bons olhos este casamento, talvez pelo fato de que minha família sempre fora autoritária, principalmente as mulheres, mas Josias sempre foi muito bem quisto pelo meu pai e tenho certeza de ele sempre desejou este casamento. Eles conversavam muito. Sempre foram grandes amigos.

Recordo-me que um dia surpreendi uma conversa dos dois, que só agora começo a entender o significado. É fácil entender agora depois da atitude de ontem, o que conversavam naquele dia. "Lembro-me quando entrei na sala, ele dizia: "A mulher é o que o homem faz." Se você der carinho em excesso, ela quer sempre mais, nunca está satisfeita, e depois quando a acostumamos a isso, é difícil cortar. E muitas vezes não conseguimos! Lembro-me da mãe dela. Moça criada na corte com todos os requintes, e ter que ser fazendeira. Não foi fácil, mas consegui. E o que temos devo a ela. Rosa se assemelha a mãe até na beleza, corajosa, destemida e determinada. Entrei na sala e a conversa se desviou para elogios a mamãe. Contou algumas passagens de quando eram casados de novo. Então eu começo desconfiar que todo o ocorrido de ontem fora preparado e de pleno acordo com meu pai. Por que quando entrei na sala, eles estavam falando ao meu respeito e com a minha aproximação, eles mudaram de assunto como disse desviaram o assunto para minha mãe, contou algumas passagens quando eles se casaram e chegaram na fazenda. Então ela entendeu que a conversa dos dois era ao seu respeito, não dei muita importância mas agora pensando naqueles episódios da vida da sua mãe, uma ideia louca se formava dentro dela, e pensou: Vou mostrar o Josias que não sou apenas aquela menina mimada, frágil e dócil como ele imagina, e ele já teve uma pequena demonstração ontem. Eu sou uma Mariani, e como tal ele vai ter que conviver comigo. Talvez meu pai tenha se esquecido de lhe prevenir ao meu respeito, do que sou capaz!...

Antonia estava ali ao seu lado, calada.

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 04/05/2013
Reeditado em 08/05/2013
Código do texto: T4273757
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