As Rosas sofridas Cap VI

Ela obedeceu como se já estivesse ali há muito tempo, nem lembrava que fazia apenas algumas horas que havia se casado e que era uma Mariani. "Ela era Rosa Mariani", o que ele esta pensando!... E o que ela estava fazendo ali naquela casa como uma empregada doméstica, trabalhando como uma; para o seu próprio marido. Ela dona de toda fortuna que eles possuíam?!...O que está acontecendo meu Deus? Fazia esta pergunta para si mesma, e naturalmente não tinha resposta, por que não tinha resposta! Pensava naquele homem que estava ali ao lado era a pessoa mais querida, e que planejaram tanto este dia.

Deveria passar somente esta noite na fazenda, e depois viajarem em lua de mel. Não iam longe. Talvez em Barreiras ou em Teresina. Aproveitavam para visitar uns parentes no Piauí.

O pensamento de Dona Rosa começou ir de um para outro acontecimento, e parou nos pais.

- Como estariam eles? Como se arranjaram para dar explicações para os convidados e parentes? Um pensamento a assaltou. E se seus pais mandar vir alguém aqui saber se está tudo bem! Mas em seguida pensou: nesse momento eles devem estar se divertindo, feliz por que a filha se casou com o homem que amava. Nem por sonho eles podiam pensar que uma coisa desta possa acontecer, principalmente com a indomável Rosa! Mas eu sei que a minha querida e fiel Dulce está pensando em mim, pensou ela. Disso eu tenho certeza!

Dona Rosa até estremeceu só em pensar o que a sua querida Dulce faria se chegasse lá e a encontrasse naquela situação. Não se conformaria, e seria difícil explicar por que está servindo de criada, cozinheira! Meu Deus, exclamou Dona Rosa!

Com aquele pensamento e a canseira adormeceu, e só acordou no dia seguinte com barulho e vozes dentro e fora de casa. Teve medo que fosse seu pai, ou gente de sua casa. Pensou logo na Dulce. Josias é capaz de maltratá-la. Tentou levantar-se, mas seus membros não obedeceram. Estava com o corpo todo doendo. Apurou o ouvido e conseguiu distinguir a vós de Josias. Mas ele estava calmo, e percebeu que tinha mais vozes de mulher, de homens, mais falando em tom baixo e calmo. Ela não estava entendendo nada. Então ela ouviu a vós de Josias que dizia:

- Cuidado, preste atenção, não quero que falte nada a ela. E agora cada um nos seus lugares quero muita naturalidade.

Dona Rosa ouviu um leve toque na porta, não tinha certeza de que era na sua porta mesmo. Aguçou mais os ouvidos, esperou um instante; novamente ouviu outra batida, desta vez mais forte. Então ela falou: - Entre a porta está aberta. Ela já estava assentada na cama. A porta se abriu para dar passagem a uma moça com um largo sorriso nos lábios e bem natural. Ela reconheceu imediatamente aquela moça. Quando esteve em Teresina na casa dos parentes de Josias. Ela a viu lá. Então pensou:- O que esta moça está fazendo aqui? Será que veio para o meu casamento? Essa pergunta atropelava o seu pensamento em fração de segundo; ficou apavorada. Sabe-se que todos os homens tem suas raparigas,(teudas e manteudas) e ele não fugiria a regra, ficou apavorada. Da maneira que Josias a tratou no dia anterior, seria capaz de tudo! Então naquela fração de segundo ela colocou toda a sua dignidade, coragem e determinação, pronta para o que der e vier. Se realmente aquela moça fosse rapariga do Josias, ela ia fazer sumir dali embaixo de porretada. Ela olhou para um lado e viu uma tranca, destas que fecham a porta por dentro, então pensou: Vou pegar aquela tranca e até o Josias se interferir vai apanhar também. Ele vai me conhecer e saber com quem está casado. Se até agora eu aguentei tudo, era por que ainda o amava, estava apenas dando tempo para colocar as cartas na mesa. Ele pode ser o senhor meu marido, mas não é, e nunca será o senhor meu dono.

Foi necessário que a moça cumprimentasse mais de uma vez.

- Bom dia Dona Rosa, é um prazer vê-la aqui. Como eu serei sua dama de companhia, espero poder ser-lhe útil.

Ela ficou ouvindo aquilo meio desconfiada. Não estava entendendo nada. Nenhuma palavra do que estava dizendo fazia sentido, mas procurou agir com naturalidade e altivez. Se é que eles querem brincar comigo, então eu vou entrar na brincadeira para valer. Vou mostra para eles quem é uma Mariani, apesar de que ele já nos conhece muito bem, e sabe de que somos capazes, mas terei cuidado e verei até onde ele quer ir com esse jogo.

- Muito bem, disse Dona Rosa.- Como é o seu nome?

- Antonia, disse a moça com aquele sorriso que de princípio lhe pareceu bem preparado e treinado, como também aquelas palavras lhe pareceram decoradas. Arriscou uma pergunta: - O senhor Josias onde está?

- Ele saiu, mas não dever demorar, e pediu-me Que a acompanhasse no café, a menos que a senhora deseje tomá-lo aqui. Mandou avisá-la também que estará aqui para o almoço.

- Obrigada, disse Dona Rosa sem mesmo fitar a moça. Olhou no relógio e exclamou! "Meu Deus, que tarde!" Ela falou sem pensar, mas logo se compôs, por que na sua casa ela não se levantava antes das dez horas. Talvez seja por isso que ela havia acordado aquela hora. Mas com os acontecimentos do dia anterior, estava ainda condicionada aquilo. Esquecera quem era!

A moça vendo que ela não falou mais nada e estava completamente absorta nos seus pensamentos, pediu licença para se retirar dizendo:- Se desejar alguma coisa eu estarei por perto.

É só tocar a sineta.

- Obrigada, respondeu-lhe simplesmente.

- A moça saiu, e ela ficou pensando em tudo, desde o momento em que se casou. Em todos os acontecimentos, e fazia uma pergunta a si mesma. "O que aconteceu, por que Josias fez aquilo? Por que ele não veio me ver? Porque ele não dormiu comigo, afinal somos casados! Será que esta situação vai continuar, e até quando?" Isso afligia Dona Rosa, e pensava... É uma incógnita. Pensou em chamar Antonia e conversar com ela; teria que começar fazer amigos, seria necessário ter alguém que confiasse, apesar de que não era seu costume ter intimidade com os criados, a não ser a sua querida Dulce, mas esta não poderia vir para aqui, pensou tristemente. Talvez tenha sido o seu grande mal, ter tratado os criados com tanta distância, pelo menos agora poderia contar com a sua proteção.

Dona Rosa pensou: não devo confiar nesta moça, é uma contratada do Josias, deve estar muito bem instruída por ele. E sabia também que deveria conquistar a confiança dela, mas não seria de um dia para outro, apesar de que ela não é uma empregada comum, parece uma moça de finos tratos. Então lembrou que um dia Josias lhe falou sobre esta moça e da sua família. Eles vieram da corte. Seus pais já servem a família Abreu á muito tempo; e ela viria para ser dama de companhia da esposa do Josias quando ele se casasse. Lembrou-se também que Antonia esteve aqui com a família de Josias por ocasião da festa da padroeira. Eles moram em Teresina. Sem dúvida é uma moça de classe, continuou Dona Rosa na sua divagação e lembranças.

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Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 02/05/2013
Reeditado em 03/05/2013
Código do texto: T4270823
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